quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Para ler no novo ano

Quisera eu inventar mil palavras, para proferi-las aos ventos com meus mais singelos desejos. Suponho, no entanto, que nenhuma delas conseguisse traduzir o que guardo no peito.

Desejo-te, então,
que mesmo que não ouças minhas palavras
ou tão pouco consiga entendê-las;
desejo-te que sintas aquilo que emano em mim
e tão pouco consigo transpor ao som.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Sobre essências e sobras

Que vendaval de pensamentos me acomete agora!
Que multiplicidade globalmente plural de idéias!
Voei por distantes cantos do mundo
Estando parado em uma cadeira qualquer,
Tão casual que não consigo sequer escrever um poema.

Há pouco pensava em mudanças e essências,
Mas tinha à frente esses dispositvos catadores de sobras:
Sobras ao que é essência,
Ao que é necessário à sobrevivência.

Logo surgem músicas e poemas
(Mais letras e letras e letras),
Parece que um espírio beat encarnou em mim,
Parece que sou capaz de escrever tudo o que me vem à mente AGORA,
Mas me falta caneta, me falta papel,
Antes que eu possa desenhar a idéia, esta já foi
E já estou em outra e em outra e em outra
E são tantas que parece não sobrar nada,
São tantas que parece não haver essência,
Ou ser absolutamente TUDO necessário à sobrevivência.

Mas não, sei que há outro modo de pensar,
Sei que este exato instante não pode ser captado,
Sei que não é possível abarcar o todo!
Já refletia Cassady sobre a incapacidade de romper os segundos entre o pensamento e a fala:
Neste ínterim muito se perde
E o que se tem já é parcial,
Já é essencial.

Por isso, Caeiro, não me venha com essa de ver as coisas como elas são!
Neste momento penso diferente
E isto igualmente se dissolverá
(Mas insisto em acreditar que o essencial é invisível aos olhos).

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

semestral

Andrew Wyeth. Otherworld, 2002.

e o tempo engole a inspiração.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Antes de começarmos gostaria de falar algumas coisas:

Já faz algum tempo que queria escrever algo sobre o simples ato de "escrever" mas, faltava-me a inspiração para tal. Pois bem, tal inspiração surgiu a alguns dias atrás durante uma aula de África e gerou o texto que seguirá abaixo. Afinal, "escrever" sempre me pareceu um tema pertinente. Escrever é aquele ato simples que alegra os corações dos exílados... e por falar neles (as), os saudo! Parabéns aos exilados (as) - que completaram um ano -, continuando a escrever, a parir suas próprias idéias, para, quem sabe um dia, alcançar a derradeira paz de espírito. Vamos adiante...

Aqui deveria vir um título, ou não.

O turbilhão de águas volta a assolar minha mente. Chega do nada, sem avisar, como sempre faz. As águas gostam de fazer surpresa. Rapidamente me invadem, varrem, destroem meu espírito com toda sua força, suas cores, formas, cheiros, essências. Abstrações. Nada mais que isso.

Tão rápidas quanto vieram elas partem deixando para trás o terror de sua presença mas, ali em meio ao caos podemos ver emergir uma singela forma; as letras. Estão todas ali, solitárias e perdidas, molhadas e com medo. Ao passar vendo elas daquela forma não posso me furtar em ajudá-las, sempre ajudo, mas ainda não sei muito bem se por autruísmo ou por egoísmo mesmo.

Começo a juntá-las, agrupá-las, esquentá-las, amá-las... para que não se sintam mais sós. Elas me agradecem, ficam felizes, dançam de felicidade. Transam. Uma verdadeira orgia! Um puta bacanal! Uma sopa de letrinhas! Sublime!

Dessa linda dança-cópula-sopa nasce algo mágico, algo que é produzido pelas letras mas não pode ser explicado por elas. Algo que só o escritor sente, e sente apenas por um breve instante. Por isso mesmo escrevo esse texto... Todo escritor sabe que as águas (e a dança das letras) passam rápido. O que sobra de sua passagem, seu reflexo e sombra, é o que chamamos convencionalmente de poesia, mas essa também vai rápido se não for quase que imediatamente registrada perde sua graça, seu encanto, sua luz...
E enquanto ao lodo, ao entulho, as rochas, ao limo, ao mortos? E enquanto ao resto? O que acontece com ele? O resto é o que chamamos de literatura! E como é magnífica!

Esse texto foi inspirado no poema "O Guardador de Águas" de Manoel de Barros.

sábado, 17 de outubro de 2009

vomitaciones

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the glimpsy of my death ( o instante da minha morte) – salvador dalí
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só tenho vontade de escrever num estado explosivo, num clima de acerto de contas. hoje estou bem embriagada. as palavras me tomam, perdón.


- as transparências enganam.

- tudo está a um passo de entrar em erupção.


duas frases que ouvi hoje. não consigo me livrar delas. tenho lido bastante sobre surrealismo e não sei se conseguiria conviver com surrealistas. li que eles costumavam se reunir em torno de uma mesa e trocar maluquices. escrever sem freios, inventar e ressignificar palavras, pintar um mundo ao avesso. talvez ficasse quieta, só observando. ou participaria com aquele meu jeito de mediadora, que não sabe lidar muito bem com o silêncio e tenta ocupá-lo com algum comentário (de preferência um que provoque risadas). mas isso só aconteceria se estivesse embalada a boas doses de algo que afrouxasse os nervos. e você, a quantas anda de entrar em erupção? não pense que não sei que essa cara de muitos amigos é só paisagem. os cumprimentos nos corredores não passam de cordialidade. você queria explodir todo aquele prédio amarelo esquisito e talvez ir junto pelos ares. eu não te conheço, você não me conhece, mas fingimos que sim. ana embriagada está aí para misturar as coisas, fugir das linhas narrativas, viver a vida como um roteiro para uma peça de teatro que ainda está por vir, ou não.


para finalizar, um aperitivo da erudição de uma coroa burguesa que quase me fez vomitar lava sobre os pratos. o assunto rodeava as diferentes maneiras de se dizer uma mesma coisa. sete minutos de discussão: bidê, criado mudo e mesinha de cabeceira. ou seja: móvel que fica ao lado da cama, feito geralmente de madeira; serve principalmente como aparador de livros, garrafas d'água e celulares. segundo nossa digníssima dama da sociedade cacaumeneziana, quem fala "bidê" são os manézinhos catadores de berbigão, povinho sem cultura. nós, os bem nascidos, que tomamos café no iguatemi cinco vezes na semana, dizemos "mesinha de cabeceira". e criado mudo? coisa de classe média.
ai que nessas horas eu sinto na pele a dor e a delícia de estudar história.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Cortando o bolo, depois que apagaram a luz!

Uma coisa que faço quase sempre quando acesso nosso sítio é descer por entre os posts mais antigos. Faço isso no intuito de perceber se algum comentário novo fora feito ou até mesmo para reler algum desses posts e dar umas risadas (no caso dos mais antigos isso ocorre costumeiramente). Hoje ao realizar essa rotina, cheguei até o primeiro post e me dei conta de um acontecimento importante (é, sim!)! Vejam meus caros colegas, a primeira postagem data de 05 de setembro de 2008. É isso mesmo, pasmem! Nosso sítio já tem mais de um ano. Pensei: tecnicamente o primeiro post decente data de 07 de setembro, mas, de todo modo já se passou um ano e quase um mês.
Por uma iniciativa tomada por Paula Tejano, Poeta do Exílio e Zé do Trilho, o letras no exílio emergia online naquele glorioso dia 05 de setembro, e, ao longo destes 13 meses, outros talentosos colegas se juntaram a tríade inicial e hoje formam um time de colaboradores com algo em torno de 13 membros. Este blog já passou por várias fases, fases com alta produtividade, fases de escassez, fases de chegada de novos membros, fases de saídas. E para cada sopro de imaginação um personagem diferente, um mundo particular, múltiplas temporalidades e múltiplos também são os espaços em que estão circunscritos estas várias histórias. Histórias curtas, longas, em prosa, em verso. Houve sonetos, cordéis, poemas sem formas, com formas, mares, terras, perigos, aventuras, alegrias e tristezas. Cada retrato pintado com palavras e cores variáveis de um canto físico diferente que nos remetia para um canto fantasioso, distante, mais próximo de nós que imaginávamos.
Vida longa ao nosso exílio!

sábado, 26 de setembro de 2009

Enfim, apresento-me.


Recordo-me que falava do tango, sinto-me deveras emocionada quando me refiro a tal ritmo. O compasso do acordeom e a volúpia dos corpos rodopiando em meio ao salão me encantam.

O tango é o bater dos corações dos amantes em euforia, o êxtase supremo que escapa dos corpos e ganha vida em forma de som. Tão excitante quanto o orgasmo de mil virgens. Esse ritmo, para mim repleto dos mais sutis significados, segue o fluxo contrário dos demais sons. Sobe-me pelas coxas como as mãos de um amante fervoroso até chegar ao meu peito, aonde adentra minha carne e se instala em meu órgão pulsante.

Ao ouvir o tango revivo minhas lembranças, as quais escapam de minha memória e se postam frente aos meus olhos, como um presente momentâneo.

Vejam só, já estou eu novamente me perdendo entre os mais variados pensamentos sobre o tango. Prometi-lhes contar minha história, assim o farei, e começo pelo exato momento em que escolhi o meu nome. Não me entendam mal, não escondo aqui meu nome verdadeiro por não gostar deste, muito menos por vergonha daquilo que irei narrar, apenas acho que meu nome não combina com o tom que levei minha vida.

Naquela noite cortei meus pulsos! Sim, para mim é natural falar isso assim. Mas talvez minha calma ao anunciar esse fato se dê pela ausência do desejo de morrer. Pode parecer engraçado alguém cortar os pulsos senão para morrer. Replico dizendo que já me sentia vazia de vida antes mesmo de passar a lâmina pela minha carne. Suponho que quisesse lavar minha alma com sangue, já que o vinho não cumprira tal encargo. Nem mesmo a cachaça mais amarga apagaria minhas dores naquela noite.

Talvez a dor carnal diminuísse aquela entranhada em meu órgão vital. Mas, de fato, não cheguei a senti-la, ao ver o ferro atravessando as finas camadas de minha pele, hesitei. Prefiro entregar-me aos prazeres mundanos do que mutilar-me pelas dores que alguém plantou em meu peito.

Assim aconteceu, procurei o rouge entre meus pertences, corei minha face, apertei os lábios, soltei meus longos cachos e sai a procura de um macho que pudesse me preencher com sua virilidade. E foi nos braços de um belo exemplar masculino que matei a mim mesma, foi nos braços de um belo exemplar masculino que criei a mim mesma.

Agora eu era Cacilda B.

sábado, 19 de setembro de 2009


Humanum Desejus Mortalis

Era uma vez um pequeno moço chamado miguel. Miguel havia nascido no interior desse imenso Brasil, numa casa de campo,c om família campesina, com cachorro puguento, e com cheiro de terra.Desde muleque sempre fora muito afeito da natureza. Os campos, insetos, bois, riachos, cachoeiras... até mesmo o estrume dispertava interesse no garoto. Mas nada na natureza podia ser mais grandioso e fascinante que a Árvore que crescia em seu jardim.

O pai, Bento, dizia que aquela Árvore estava por ali muito antes desse mesmo nascer! "Aquela Árvore tem muita história para contar meu filho" dizia o velho Bento enquanto enrolava mais um palheiro - seu maior prazer em vida e também a causa de sua morte.

Desde então Miguel dedicava grande parte de seu tempo a deitar sob a sombra da Árvore e contar-lhe suas histórias. Contava a Árvore de tudo: da vez em que descobriu a cachoeira secreta, da vez em deu uma surra em Tulio por causa de Ritinha, da primeira vez que teve de ordenha a Anastácia, da vez em que pegou a arma de seu pai escondida, da vez em que junto aos outros garotos da redondeza espiara as meninas a banharem-se no riacho, da vez em que capturou Rogério (seu amado passarinho)... entre tantas outras histórias de meninice
mas, algo continuava a pertubar o garoto. Ao contrário do que seu pai dissera, sua amiga, dona Árvore, por mais que fosse uma ótima confidente tinha um defeito: não dava um pio!

Miguel cresceu, foi estudar direito no Rio de Janeiro, casou, teve quatro filhos - as mais novas eram gêmeas. Só voltou mesmo aquele maldito fim de mundo de sua infância quando recebeu a notícia de que seu pai falecera. O tabaco o matará. Seu Bento nunca deixou de fumar, velho teimoso, dizem até por ai que ele morreu com um sorrisso no rosto, enquanto enrolava um palheiro, é claro. Convicto de sua filosofia, grande homem - Miguel pensava. Mas agora que ele se fora para o grande ceu dos fumantes a velha fazenda ficara para seu único filho - sua mãe, Maria, esse nunca chegou a ver, só mesmo em foto. Morrera ao lhe conceder a vida.

Foi, em um dia ensolarado, sozinho até a fazenda do pai. Pensava no caminho que ao invés de vende-lá poderia fazer uma chácara agradável para a família, as meninas iriam adorar! Quando chegou percebeu que tudo estava exatamente como era! Os móveis, o chão, o velho fogão as rachaduras no teto, as inflitrações na parede, tudo! O tempo não surtia efeito naquele lugar ou pelo menos passava de modo diferente. Quando chegou ao quintal teve a maior das surpresas... dona Árvore ainda estava lá!

Miguel foi tomado por uma alegria de criança em dia de aniversário, foi correndo dar um abraço em sua velha amiga. Deitou-se no chão como costumava fazer e começou a contar-lhe as histórias de sua vida no Rio de Janeiro, já ia fazer quase 25 anos que fora embora de casa. Passou o dia a falar, um tagarela de carteirinha, nem o Sol aguentou tanto papo e logo se retirou mas dona Árvore não... ficou ali, firme e forte, a escutar.

Antes de retirar-se para dormir Miguel fez uma pergunta que sempre quis ter feito:
"Dona Árvore, por que você nunca me responde?"
Mas a ÁRVORE nada respondeu...
"Entendo." Ficou cabisbaixo e foi se deitar...

Na manhã seguinte preparou seu café ligou para a esposa ,disse que estaria de volta ao anoitecer. Foi até o antigo galpão do pai e pegou a enferrujada motoserra. Foi até a Árvore e, dessa vez, sem dar nenhuma explicação à cortou por inteiro. Enquanto a gigante despencava ele escutou uma voz que dizia:

"Humano tolo! Será que não entende! Árvores não falam!!!"

Queria ele ter achado que essa fora uma resposta da Árvore, mas não era, era apenas o seu próprio pensamento a reverberar no crânio.

"Eu sei, querida amiga. Não espero que um dia você entenda esse meu ato. Eu, apenas, precisava fazer isso."

Mas dessa vez não falou para a Árvore, falou para si.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Coragem

Hoje prometo não me estender,
pensamentos contarei em versos,
este ofício ainda me é obscuro,
prefiro em prosa me expressar,
contemplando o céu, contudo,
decidi concentrar-me e tentar.

Nesta imensidão do Amazônas,
escreverei meu primeiro cordel,
depois de receber lápis e papel,
cumprirei o que me fora pedido,
a história ainda irei contar,
nesta noite, porém, vou devanear.

Dos meus pensamentos caçadores,
muitos prendo por precaução,
todavia, libertarei algum,
este é o quero lhes passar,
é a ação de um coração comum,
a atitude de se transformar.

A inspiração custa aparecer,
na solidão é difícil esblandar,
ainda só me sinto mal acompanhado,
procuro sentido no destino traçado,
o verde amazônico deixa-me intrigado,
melhor tentar resumir e, continuar.

Apenas examino o poder de agir,
sobre uma forte batida do coração,
sentir constante energia aflorar,
com uma firme e plena decisão,
de revirar os medos e tensões,
e dar cor a todas nossas ações.

Assim, aqui me faço despedir,
desconhecendo se fora cordel feito,
inda dificulto com pouco conhecer,
de versejar idéias em mensagens,
contudo, neste convés me prosto,
a bela e maestra "coragem".

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Apenas uma menina...

Eu poderia ser mais detalhista ao me apresentar, no entanto me parece cedo...
não por nada...
juro!
sou eu mesma, ainda muito menina e temerosa...
ando pelas terras longinquas desde tempos remotos, embora sempre menina!
Pulo feliz todos os dias...saltito!
Toco música de pássaros que escuto e digo la bem fundo de mim mesma
com imperativos afirmativos:
você é uma passarinha!
mas não sou...na superficie eu sei...
sou apenas uma menina que toca flauta;flautista
que saltita;saltitante
sou portanto...uma menina flautitante!
Bom dia meus amigos do exilio...toco essa musica pra vocês...de um passáro muito esperto que canta no cerrado do Planalto central!
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ouviram?
pra vcs...

Vai um caldinho ai?

Preto, aguado, sem sal.
Sem cheiro, sem gosto... sem graça.
Somente com aquelas perdidas e solitárias folhas de louro boiando para depois não falarem por ai que não temperam com nada.
Como é difícil essa vida de universitário. Muito empenho para pouco dinheiro no futuro, mas façamos pelo prazer, pela paixão, é isso que dizem não é, assim fica mais fácil de suportar. E também, se tem algo que ajuda a suportar os anos de faculdade, esse algo, é o feijão.
Mas não pelo sabor, não se enganem, pelo sustento mesmo.
Encarar o feijão do famoso RU, para mim, é nostalgico. De certa forma me lembra de casa pois, ao comer aquele feijão percebo o quanto o feijão de minha mãe era bom. E não que minha mãe seja lá uma chefe de cozinha - na verdade passa bem longe disso - mas é aquele feijão de infância. Fica cravado na mémoria, ou melhor, na linguá.
Lá em minha casa havia uma eterna disputa para saber quem fazia o bendito do melhor feijão, se era a mãe ou a empregada, pois somente as mulheres cozinhavam. Sim, eu sei, casa machista, tipicamente nordestina, fazer o que... mas acho que no fundo todos tem uma pequena pitadinha desse karma chamado "machismo" - as(os) feministas que me perdoem.
Nunca revelei as mulheres de minha casa qual era o meu feijão favorito, para não gerar desavenças, sabe como é. A preferencia vai morrer comigo, é melhor assim. Mas só posso revelar uma coisa com toda a certeza: qualquer um dos dois era muito superior a esse de universidade!

E não me venha com essa que feijão e tudo igual não!
Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é um bom feijão.

domingo, 30 de agosto de 2009

Tango noturno

Peguei-me a ouvir um tango um dia desses, confesso que tal ritmo faz minhas veias pulsarem com mais vigor. Lamento que não tenha aprendido, quando ainda jovem, a emaranhar minhas pernas as de um macho ao som de um bom tango; refiro-me à dança, logicamente. Sempre fui fascinada por ela, porém quando moça preocupava-me em me emaranhar em pernas de uma outra forma, e sempre fui boa nisso.


Agora reservo-me às lembranças da juventude, e aos sonhos que por vezes permito-me ter. Já que a dança, esta já não dialoga mais com meus joelhos. Desculpe-me o saudosismo, garanto-lhes que não sou uma velha rabugenta que culpa a juventude dos outros pela ausência da sua. O fato é que a juventude está no espírito e não nos joelhos, desta forma julgo-me jovem; mesmo que as linhas de minhas mãos e os traços do meu rosto insistam em negar tal sentimento.


Contar-vos-ei minha história, mas não esta noite. Esta noite entrego-me ao tango.

sábado, 22 de agosto de 2009

Do sonhar nas nuvens

N’outrora, naquela Lisboa de ultramar,
Dentro de uma taberna qualquer:
Vi Bocage, seus versos a declamar,
Face aos olhos d’uma formosura de mulher!

E Camões? Onde havia de estar?
Pois também o vi, ó gigante do versejar!
Sua barba a coçar: bendita a força que o fez!
O que fez foi celebrar, foi avisar seus reis.

E com aquele que dizia,
Que o poeta finge “descaradamente”,
Aprendi que possível era,
Fazer versos como quem sente.

Tais foram os poetas:
Delirantes, beberrões e amantes;
Que fizeram de sinapses incertas,
Versos não menos palpitantes!

Mas esta viagem havia de acabar:
No fundo, no fundo eu sabia;
Pois na alvorada, aqui é hora de acordar.
E lá no sonho, bem... no sonho não me parecia.

22/08/09

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Chegada de Paula Tejano Ao Inferno


(Em homenagem à José Pacheco)


Sonhei que fui ao Inferno
seduzida pelo Diabo,
Fui muito bem recebida
vinhos e pães (quem diria!) bebida.


Velhos tragavam seus cigarros,
virgens ninfetas desfilavam como em passarelas
suicidas vagavam entre as caldeiras...
Entre chamas, nos bares e nas casas: escarradeiras!


Reduto de todo tipo de gente, má.
Quando em Voltaire acordei
Parecia ainda estar lá...




terça-feira, 18 de agosto de 2009

O TÉDIO


O tédio. O cansaço de não fazer nada. Mas, o que é o nada? És esta sempre uma boa pergunta. Em sua maioria as respostas mais prudentes a esses tipos de questionamentos são as que vem do interior de cada indivíduo, sendo a sua compreensão algo muito particular e peculiar, baseada na experiência de cada um. Tal entendimento é intrínseco, e a tentativa de exprimi-lo sob qualquer forma (palavras, gestos, expressões, pensamentos, etc) é falha. Falha porque transmuta. E na ousadia de buscar explicá-lo falamos de uma coisa a qual já não corresponde mais ao ponto pleno de compreensão, e sim a um entendimento contaminado por nossas experiências e visões de mundo. Estamos sujeitos sempre ao olhar que disparamos sobre os objetos. O padrão é uma imposição dura e cruel, mas precisamos dele. A essência é uma palavra a qual se tornou um padrão para descrevermos algo puro, uma origem primeira que carrega um sentido único sobre cada coisa. O nada e o vazio. Coisas as quais podem parecer muito semelhantes entre si, mas de um abismo gigantesco entre elas. São os sinônimos também padrões para ousar compreender a essência das coisas. Porém o nada é o nada e o vazio o vazio. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Figuras de linguagem, a gramática, a linguagem escrita e falada em si, constituem uma das formas de comunicação mais comuns utilizada entre os seres-humanos. Entretanto, mesmo que as pessoas falem da mesma coisa, é muito provável que possam estar falando de coisas muito diferentes, uma vez que cada uma delas tem a sua visão sobre determinados objetos. Neste sentido a lei, a imposição de padrões, condutas, é uma violação gravíssima contra o indivíduo! Talvez muitos(as) digam que precisamos das leis, padrões, etc. porque não tentaram viver de outro jeito, e acreditem que realmente seja possível um entendimento pleno. Muito provavelmente também graças a visão empregada para a definição do conceito de sociedade utilizado pelas pessoas. Em tal concepção a integridade do indivíduo estará muitas vezes posta em cheque.


O tédio. Sentimento de estar farto sobre determinada coisa. Coisa. Talvez a palavra mais abrangente e libertadora da humanidade. Pois coisa pode ter uma gama talvez infinita de significados.


O tédio. Queria fazer alguma coisa, mas não encontro nada pra fazer. Estou, portanto, entediada. Possivelmente não encontro nada pra fazer, porque nada é muito amplo. Existem muitas coisas pra fazer. E talvez eu queira fazer alguma coisa diferente das que sempre faço, mas não sei o que. Daí uma possível explicação para o fato de estar entediada. Todavia, o indício da resposta mais coerente para o porquê esteja entediada seja: “eu não sei”.


O tédio. Não fosse ele nada disso teria sido escrito. Mas...o que é o nada!

domingo, 9 de agosto de 2009

das cenas que mudam um domingo:

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mariana rotili-porto alegre-julho-2009
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dois artistas em frente ao mercado municipal de porto alegre: o morador de rua e o violinista.
apesar de a 'marvada' fazer parte da cena, ainda acredito que a culpa é da música.

terça-feira, 28 de julho de 2009

O Cisco de Ontem

A senhora sexagenária
varreu o quarto, a sala,
e num trépido do assoalho sob a estante,
deixou cair um castiçal de ontem.

Juntou os cacos e revirou as gavetas
que não lhe couberam lembranças.
Continuou a varrer tudo que pode,
mas o passado, este, permaneceu intocável.
Ah, como é belo o mar...
Imensidão azul, horizonte pleno, grandeza celestial. Lembro que contemplei extasiado aquela primeira vista. Naquele momento as lembranças das palavras de Padre Janeiro emergiram em minha mente, não entendia o sentido de determinadas explicações de meu preceptor. Esta, compreendi claramente no determinado instante em que enxerguei aquele oceano: "Nós somos a essência divina, o micro que se unirá ao macro. Como por exemplo o mar, se retirarmos uma gota dele, naquela ínfima parte estará contido todas as propriedades existentes no mar, contudo, não é o mar."
Impossível compreender tal exemplo sem conhecer aquela infinitude. Não pude conter a emoção com a nova compreensão, a saudade de Janeiro já era sentimento constante. Dantes de continuar, preciso proclamar um ato de justiça com meu padre, ainda não descrevi a meus possíveis leitores (se é que terei algum) algumas características marcantes daquele grande ser. Padre Janeiro era um homem de no máximo 1,70m de altura, brasileiro genuíno, era impossível identificar sua procedência, descendência. Tinha pele morena, cabelos lisos escorridos e olhos azuis. Era cabra forte, resistente, o vi levantar praticamente sozinho mais de uma igreja. Ser incansável, depois de desgastante dia de trabalho braçal e espiritual, encontrava tempo para se ilustrar e ainda me educar. Suas melhores característica eram a alegria de estar vivo, servir e aprender. Não lembro de vê-lo brabo, se ficava, com certeza escondia. Possível ser um sofredor que não demonstrava, caso fosse esse o caso, ele seria mestre nisso. Seu sorriso é algo que nunca saiu de minha memória. Hoje, muitos anos se passaram, porém, as vezes quando tento ouvir o som do silêncio, este é interrompido por aquele sorriso sincero de Padre Janeiro. Já de muito refleti sobre este ato do criador, o sorriso. Deus já nos criou passíveis de sermos nossos próprios terapeutas. Nos tempos contemporâneos percebo multidões que buscam consolo em alternativas áreas de terapia. Naquela época, quando esta palavra poderia soar como palavrão, Padre Janeiro, no primor de sua inteligência, percebera que o sorriso é a terapia celeste. Um dom nos concedido, aproveitado por aqueles que o percebem e valorizam. Talvez este foi o grande legado deixado por meu preceptor em minha formação, a alegria de viver!

Depois de peregrinar com o regimento por todas as bandas do Ceará, chegamos a Fortaleza, foi quando pude conhecer o mar. De lá pegamos barco para Belem. A capital do Pará era a porta de entrada da Amazônia, ponto de encontro de milhares de nordestinos que buscavam prosperidade na construção da ferrovia. No porto de Belem, olhei assustado para aquela multidão, famílias inteiras, muitos jovens, indivíduos que deixaram mulheres e filhos a fim de encontrar a salvação de suas famílias. O encanto começou a se quebrar neste momento, pela primeira vez senti medo da decisão que havia tomado. Será que todas aquelas promessas seriam cumpridas, e se não obtivéssemos êxito, conseguiríamos retornar as nossas antigas vidas. Tinha até a escolha de fugir e tentar alguns biscates até conseguir retornar a vida eclesiástica no Ceará ao lado de Padre Janeiro. Porém, o orgulho da juventude preponderou em minha decisão, já havia chegado até ali, agora não teria mais volta. Uma palavra de padre Janeiro não tive condição de compreender naqueles momentos, as vezes sentia-me agoniado naquela pequenitude da vila, confessava ardorosamente meus sentimentos ao padre, este então dizia: "Serrinha, tu és jovem, preste atenção em sua condição, lembre-se de Jó, sujeito que resistiu pacientemente todas as tentações do capeta sem perder a fé em seu superior. Tenha este indivíduo como exemplo, chegará o momento de receber o que queres." No meu caso, fugi apressadamente, deixei apenas bilhete, encontrava-me dominado pelo medo, mas não perdi o orgulho e esqueci a paciência.

Já no navio, subindo o Amazônas, ficara impressionado com a dimensão daquele rio, muitas das vezes não enxergava a outra margem, tinha a impressão que navegava no mar. Naqueles longos dias a alimentação foi escassa, munido apenas de uma rede que adquiri em Fortaleza e meus poucos pertences, não costumava sair muito da região do navio em que estava alojado.
Um dia, estava deitado, lendo um livro que ganhara de presente de aniversário de quinze anos de Padre Janeiro, era uma edição portuguesa antiga, datada do século XIX, da bela epopéia de Homero, a Ilíada. Já o lia pela décima quinta vez, quando, distraído, olhei para meu lado esquerdo e percebi duas moças me observando e sorrindo. Logo que as vi percebi que uma delas recebeu um cutucão da amiga, o que a fez corar. Achei aquilo meio esquisito, não dei muita bola. Apesar que senti um pequeno arrepio quando meu olhar cruzou com a moça que acabara de se avermelhar.

A noite, não conseguira dormir, o medo da decisão que tomara as vezes me dava pesadelos, outras me incapacitava de pegar no sono. Resolvi levantar e caminhar pelo convés principal que se encontrava vazio. O céu estava muito estrelado e a Lua tão cheia que até parecia dia. Fiquei impressionado a observar um estrela que tinha brilho tão intenso que deixara rastro de luz nas águas do rio tão forte quanto a Lua. No momento que me perguntava o que seria aquela estrela, ouvi uma voz feminina: - É a Estrela D'Alva, aparece de madrugada, anuncia a chegada do Sol. Fiquei perplexo com aquelas palavras, primeiro que não imaginava ser quase dia, segundo que trocara poucas palavras com passageiros e passageiras durante aquela estranha viagem. Ela continuou: - Fico te observando, tão quieto e pensativo. Fica vidrado naquele livro. Acho tão bonita a leitura, um dia quero aprender a ler e escrever, as vezes penso que poderia escrever todas as idéias que penso. Respondi sem pensar: - A leitura e a escrita nos libertam da falta de saber, mas podem ser uma prisão de nossos pensamentos no papel. Até hoje me pergunto o porquê disse logo aquilo, mas foi o que se procedeu. A tréplica veio rapidamente: - A prisão é ter tantas idéias, mas não ter a condição de libertá-las. Aquelas palavras me desarmaram, olhei meio pasmo para ela, sua resposta foi me beijar. Aquela sensação era algo que não esperava nunca ter pela primeira vez naquele momento. A continuidade dessa história, não preciso entrar em detalhes, posso dizer, como no dito popular, que fiz barba, cabelo e bigode. Já aprendi de uma vez o que padre Janeiro tanto me alertava, o perigo iminente dos prazeres da carne. Digo, com sinceridade, que neste quesito passei a discordar de meu mestre. O prosseguir da viagem foi mais tranquilo, já não me culpava tanto da vida eclesiástica que deixara. No dia seguinte a este acontecimento, a moça, denominada Adelaide (suas características físicas deixo viver apenas em minha memória) veio furtivamente até mim e entregou-me algumas folhas e um lápis, em seguida, disse: - Não posso demorar, o pai não pode me ver, já descerei em breve no porto de Santarem. Consegui retirar da bagagem do meu tio, lembre-se de mim e liberte suas idéias. Partiu rapidamente e, assim como havia falado, desembarcou no dia seguinte em Santarem.
Após esse acontecimento, passei a relatar minha aventura, fiz como Adelaide me havia pedido, iniciei o processo de alforria das minhas idéias

sábado, 25 de julho de 2009

Uma tal de "modernidade"

Como é difícil crescer!
Em pleno sertão, passei a vislumbrar possibilidades nunca dantes imaginadas. Não seria possível um fruto da serra ter condições de romper submissões historicamente construídas. Lembro de Fabiano, que ao perceber o guarda amarelo uniformizado, sentiu-se impotente frente a presença estatal. Salve Graciliano! Será que seus filhos, após o retiro forçado pelas pressões socioculturais e climáticas, obtiveram o sucesso imaginado pelo casal errante. Baleia não poderia ter desencarnado em vão...
Contudo, voltemos aos vislumbres! Padre Janeiro concedeu-me a liberdade e o exílio ao ensinar-me as primeiras letras. A cada mergulho na imensidão literária sentia brotar um intenso conflito entre forças contrastantes, duais. Em tempos posteriores, vim a perceber que esses pólos sintetizariam uma nova compreensão da existência.
A carreira eclesiástica foi-me oportunizada, todavia, sentia uma poderosa energia emergir em meu âmago, não podia compreendê-la ainda, porém, observava um diferente pulsar do cordis quando ouvia extasiado na praça os cordelistas cantarem histórias de cangaceiros, andarilhos, capoeiras, quilombolas, etc.
Já vivia no Ceará quando, ao acordar, ouvi um som de trompetes, bumbos e trombones. Levantei subitamente, sai de casa, localizada aos fundos da igreja, e atravessei a casa de Deus sem comunicar Padre Janeiro. Segui o som daquela banda e rapidamente a identifiquei como militar. Na praça estava um regimento. Perguntei a um transeunte do que se tratava aquela presença. Disse-me sem delongas: - São os fardados do governador, parece que estão recrutando gente para trabalhar. Indaguei para onde, contudo, o interlocutor apressadamente distanciou-se. Meu espírito bisbilhoteiro levou-me a presença do chefe do regimento, este explicou-me que tratava-se de uma grande oportunidade de obter prosperidade. O governo planejava construir a maior ferrovia brasileira, em plena floresta amazônica, esta traria modernidade e desenvolvimento e todos que participassem com êxito desse grandioso empreendimento ficariam marcados na história do país, sem contar das grandes recompensas que receberiam. Não entendi a parte da "modernidade e desenvolvimento", foi a primeira vez que ouvi tais palavras, impossíveis de compreensão naquelas bandas de sertão. Contudo, a possibilidade de ter meu nome cantado pelos poetas de cordel, além dos tesouros possíveis de obter naquela viagem mexeram profundamente com meus ideais de juventude. O Chefe, identificado por Januário, logo perguntou meu nome, data de nascimento e naturalidade. Já ia conceder meus dados, quando lembrei de Padre Janeiro. Sabia que este não concordaria com tal viagem, mesmo com todos os argumentos de grandes feitos, riquezas e essa tal de "modernidade". Meus recursos retóricos seriam incapazes de convencer meu preceptor. Resolvi sentar e refletir... Padre Janeiro sempre me alertava para cuidar dos impulsos, decidi acatar tal conselho. Olhei para aquele céu azulado, senti o forte calor nordestino, observei momentaneamente o espaço daquela vila, respirei o ar empoeirado do sertão e pronto, decidi! Não deve ter chegado a cinco minutos, para minha pouca idade, tempo demais para pensar sobre algo tão grandioso. Sentia que deveria ir, pois estava até com dificuldade de respirar com tal velocidade das batidas de meu orgão vital. Padre Janeiro não poderia saber, não aguentaria ver sua decepção. Disse ao chefe que me alistaria! Perguntei o ônus. Januário me informou que não os teria agora, o governo arcaria com tudo, depois, com as riquezas obtidas, pagaria a dívida, porém, esta seria parte ínfima do montante que ganharia. E completou: - E se apresse menino, partiremos depois do almoço, ainda passaremos em outros vilarejos.
Retornei a igreja. Padre Janeiro indagou onde estava e o que aqueles militares queriam. Falei de um estranho recrutamento de trabalhadores, nada que havia me interessado. Janeiro pediu para realizar os trabalhos matinais, preparar a liturgia, pois teria missa a tarde. Não tardei a concluir o pedido. Retornei a minha casa, arrumei um pequeno farnel, reuni meus poucos pertences e preparei minha saída. Antes, resolvi deixar um pequeno bilhete de agradecimento a meu padre, referência de pai e professor.

"Querido Padre Janeiro,
Parto para Amazônia, terra de riquezas e glórias por acreditar na modernidade. Agradeço por tudo que fizestes por mim até aqui. Tu me libertastes da ignorância, mas sentia-me preso nesta pequenina possibilidade de vida. Sigo convicto!
Com amor e respeito,
Serrinha"



Soube partir sem deixar vestígios, perto do anoitecer já me encontrava distante da vida que deixava.
Minha juventude impossibilitou-me de perceber que trilhava para nova prisão, só a experiência foi capaz de fazer-me entender o que seria aquela tal de “modernidade”.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A piada dos ovos 2


Já perdi a conta de quantas foram

Correm tão rápido!

Quem dera pudéssemos diminuir sua velocidade

Quem dera vivêssemos em um vazio...


Uma agradável sensação subiu!


E agora sinta o vento no rosto

O rosto no ar

Sinta seu corpo flutuar

Com destino ao mais distante

Buscando o mais longínquo

Entre ovos -

Ovos que, sim

Podem nos fazer parar e ver

Em meio a este galinheiro,

Pois os outros correm,

Fogem as galinhas,

Mas não, não é isto o que vemos

Vemos, agora, ovos

Esta coisa sem início ou fim


terça-feira, 21 de julho de 2009

Cordel Faediano [trecho]

Vou versar pra quem quiser
Cordel muito do turista
Nossa visita ao nordeste
Um punhado de sulista
Aportamo em Fortaleza
Com ânsia de natureza
Em busca de águas limpas

Sra. Kika e Fabíola
Deram pretexto de estudo
Convenceram os pais que a ANPUH
Era um pouco além do tudo
Esperaram férias de julho
Arrastaram Júlia de embrulho
E me aliciaram pra escudo

Papo muito do absurdo
Mas no fim apruveitamos
Com olhar muito do atento
A tudo observamos
Quanto aos seminários
Recebemos certificado
E esse assunto nós pulamos

A tapioca alvejamos
Do cearense nativo
Kika com 7 lumbriga
Foi logo cumprando 10 kilo
Um bucado de carne-seca
Pra nipo-brasileira
Baião de dois e cachaça de litro

Um lugar muito do lindo
Numeado Morro Branco
Ao som de “Iolanda”
Fomos nos arrepiando
Ao ver falésias mágicas
Brotar de suas fendas águas
Que o chulé iam curando

Lenda diz que é um tanto santo
Bótar o pé no seu líquido
Num ranca só chêro odioso
Também purifica o espírito
Formação de areias várias
São mais cores que emboladas
Dos vaqueiros nordestinos

[...]

O que é real?

- E se tudo que vivemos fosse apenas parte de uma grande ilusão?
- Então isto teria que ser segredo, pois seria um fardo grande demais para a maioria.

Foi o que disse esse, que veio a ser o primeiro grão-mestre. Ou Papa? Ou Rei? Ou um governante qualquer? Um plebeu talvez? Não importa muito quem o disse, mas o que foi feito dessas palavras.

Assim surgiram as entidades secretas. Seria este um bom porquê para o segredo velado em seus cultos? Uma verdade. Aterrorizante. Não há Deus, Deuses e divindade senão o ser-humano. Criaram a ilusão - alguns pensaram serem os primeiros a percebê-la, deram-na nomes como prova de sua autenticidade, tais como, Matrix, Mundo das Idéias de Platão, Anti-vida, mas não importa quem tenha percebido e dito isso, e sim que tenha sido dito - para aliviar o fardo de suas existências, pois imagine um mundo de muitas incertezas e de certezas angustiantes, como a inexistência de deus e deuses, de ressureição, de um além. É apenas isto e acabou. E que perigo isso traria!! Porque não matar se no fim não haverá pedra sobre pedra? Nem céu ou inferno! E que vazio nos dominaria! Seriam então estas seitas preocupadas com os demais?

Há um quê de ser? Ou apenas somos sem nenhum quê? Estamos no sonho de alguém? Somos parte de imaginação de alguém? Há algum títere sob nossas cabeças? Fios que me atrelam a ele que não consigo ver? Para onde irei depois?

Há uma certeza e uma incerteza nisso tudo:

A certeza de um mal estar e a incerteza do que é real.

O mal estar

- O que foi que aconteceu?
- Não sei. Dizem que era Jesus.
- Mais um Jesus morreu...

As brumas ofuscam a paisagem.

- Ouça os gritos de desespero que vem além das montanhas! Percorre as espinhas dos desvairados! É Prometeu em seu sofrimento eterno por ter roubado o fogo dos deuses e dado aos homens o conhecimento. É o grito de quem ousa lutar contra a anti-vida, foi o que me disse a(o) Indigente.
- E o que mais dizem toda essa gente?
- Falam de tudo um pouco. Um pouco de bobagem, um pouco de sabedoria, um pouco de um muito já soterrado. Muito de um pouco daquilo tudo que se poderia falar.

A roda da Fortuna voltou a girar...
Terei sorte ou azar? Nem os oráculos podem calcular!

- E aquelas torres gêmeas desmoronando em cinzas após os ataques das derrapinas de metal?
- Aquilo nem tragédia é. É o usufruto da razão. Princípios de guerra. Estratégia nada mais.

As cruzadas se seguem. A guerra santa. É em nome de Deus!!

- De Zeus?
- Não, nem Zeus, Hera, Poiseídon, Hades, Atena, Apolo, Ártemis, Afrodite, Ares, Hefesto, Hermes e Dionísio, dizem agora que só há um Deus.
- Por Zeus! Como é possível dizerem que é apenas um Deus? Em que mundo estou afinal?!
- No mundo das idéias de Platão!
- Então são essas as idéias de mundo para Platão?! E pensei que era a vida! A minha vida! Sou apenas uma ínfima parte das idéias desse homem!

E o terror tomou conta deste ser que agora não tinha mais chão para pisar!Seria o mal estar que Nietzsche queria falar? Ou a amplitude da natureza que os seres-humanos não conseguem ver como acreditava Kant? Diante deste horror e mal estar corrosivos o ser que havia tomada a pílula vermelha vermelha grita:

- Leve-me de volta a caverna! Não quero saber de mais nada! Nada a mais para além das sombras que vivia a fitar!
- Agora é tarde, não há mais volta. Só lhe resta saber o que fazer com tempo lhe foi dado! O fim se aproxima!
- E tu que me falestes todas essas coisas quem és? Como posso saber se são verdades?!
- É simples meu caro...eu....sou....Platão e você está no meu mundo!

domingo, 12 de julho de 2009

Nostalgiando

Aquele cadáver estava muito deteriorado para podermos trabalhar...
A vida em Porto Alegre está indo muito bem, você ficou sabendo que ela também vai para lá...
Não vejo vocês a tanto tempo, me contem tudo...
Como anda aquele? Ah é mesmo, se suicidou...
Estou ensaiando uma nova peça chamada...
Ficaram sabendo que aquela engravidou!...
E aquele outro que está morando em Londres...
Estou procurando um novo estágio, cansei do meu antigo...
Estou jogando poker a nível profissional...
E enquanto à mim, estou a tomar anti-depressivos...

Ali, naquela sala, diante da mesa, estavam reunidos não apenas um grupo de antigos amigos e amigas. Estavam reunidos uma gama infinita de possibilidades, que pelos mais diversos motivos, não chegaram a vingar. Pois, afinal de contas, é isso que a vida é! A vida nada mais é do que um pequeno punhado de possibilidades (ou "sonhos" se assim preferir) que chegaram a acontecer. Nada mais do que escolhas que decidimos seguir em um determinado momento e outras que simplesmente discartamos.

Enquanto as conversas extremamente nostálgicas se seguiam, ao som do violonista que queria ser físico, e em meio a dezenas de latas de cerveja, não custou muito para que alguém proclamasse:

"Bons tempos que não voltam mais!"

E, quase instântaneamente, um grande sentimento de alegria invadiu os corações dos bêbados divagadores. Um brinde rapidamente foi convocado:

"Aos bons tempos que não voltam mais!"

E foi a introvertida Memória que puxou esse brinde! Pois, naquele momento, ela foi útil aos companheiros. Serviu-os como uma espécie de conforto. Um passado idealizado de felicidade e gozo no qual os amigos e amigas poderiam se reconforta sempre que desejasem. Tchin Tchin.

E costumam ainda a dizer por ai que só quem se preocupa com o passado são os historiadores e os museus!
Perdoe senhor, pois não sabem o que dizem.

sábado, 11 de julho de 2009

Ao sorriso dos que muito me ensinam

Nem sempre traz alegria
Dotado de energia
Acalma e transparece
E sentimentos reflete
O sorriso das “crianças sem futuro”
Que no passado carregam
A incerteza do mundo lá fora
E no presente desfrutam o sorriso de ser criança agora.

E o sorrir não precisa ser alegre
Pois carrega esperança
Esperança nova é por onde eu vagueio
Comunidade escondida
Da Floripa exibida
Localizada nos “escombros”
Na cidade do falso encanto.

Bela é a experiência
Do professor aprendiz
Quando o sorriso da criança
Desmorona a matéria escrita com giz.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Por um instante fugi
E me salvei
Prisão do tempo
Futuro sempre vivo
E o dilema temporal,
Não há mais como fugir disso.

O menino se perdeu
Achou o nome da rua,
Instante de salvação
E os minutos não são mais futuro.

Tempo paralelo;
Desenhos do caderno
A percepção demora a saber
A importância do instante,
Em que o menino se perdeu.

E é em versos que eu demonstro
Dando um pouco de luz a arte
Que a cronologia do burguês mercador
Dizia Benjamin, é o tempo opressor.

Onde estará Mnemosine?

Entre goles secos de martini,
E pelas sarjetas sujas da cidade,
Flagrei-me por vezes a evocar-te.
Onde anda você, cara Mnemosine?!

Quando em minha vã consciência
O mangue vasculho, e ainda assim
Me falta a desejada sapiência,
É quando indago: morreste, enfim?

Fora assassinada pruma imposição,
D'uma triste desumanidade,
Mas quem hoje te evoca não o faz em vão.

Se a cada fagulha de poesia,
Recitada por poetas delirantes,
Assim vejo que se foste não estaria
Por ai, a inspirar ladrões e amantes.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Veillir

Escute,
pois as rugas de minha face
e os fios brancos de meu cabelo
dão o crédito as palavras
que escapam de minha boca.

Me guardo das lembranças de minha infância
para sentir aquilo que meus joelhos
não podem mais me oferecer

Amarelinha,
pular corda,
e pega-pega.

É! Melhor carregar cabelos prateados,
do que envelhecer antes do tempo.

Escrevi sem querer, matei você

Não há nada escrito...
Nada escrito para além do que já foi dito
Aquele homem que se recusava a escrever
Pode ter sido o primeiro a perceber

Que a morte de Mnemosine estava para acontecer
Com aquilo que parecia um simples ato de escrever
Ainda que aquele Platão tentasse nos adverter
Os reflexos da caverna era o mundo real que conseguíamos ver

Ofuscados(as) pela luz tudo parecia real
O que pensávamos ser a vida era só representação
Escrevi sobre as coisas, mas sem saber o que era real

Assassinei as possibilidades usando tintas e formas
Formei representações de realidades sem saber a finalidade
Agora mato por prazer e o próximo será você, escrevo.. agora.. L...E...I...T...O...R!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Sapiência

- Anda cobradô.. toca o ônbx que nóx num somo sardinha!
- ...
- Agora que aumentô a passage tu qué qui encha até o talo né.. vai fica rico tu ô..
- (risos)
- A gente é qui si iludi cum essi Avaí, band’i boca-mole.. sábado qui vêm tâmu tudaqui dinovo pagando salário duzurubu.
- Treinam num tapete dessi e num fazi nada. Qué isso!? Já joguei aqui eu, palhaçada o campo.
- Então é purisso que o Avaí não ganha, se até tu já jogassi aqui..
- Ah dá licença! Pra fazê u qui o Lima faz no campo até o Brutueja ali encachaçado.. Toca issaí motora!
- ...
- Ô cobrado tu acha quissaqui é o bocarra? Não cabe mais ninguém.. Quéz é dinhêro né tô sabendooo.. nós vamo aí ti robá heinnn.. Avaí perdeu tamo puto, ca mensalidade suja, nós vamo aí hein.. Tocaaaaa si não amanhã a genti si vê no Hélio Coxta, vai dá cozaaaaa...
- (risos)
- Visse? Já fico cabrero.. Nada que uma psicologia bandida não resolva...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Comunidade do blog!

Caros leitores e colaboradores, agora o nosso blog tem uma comunidade no Orkut. Abaixo segue o link:

www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=91641600

Penso que este novo espaço proporcionará novas possibilidades de interação. Aguardo a presença de vocês!

Valeu!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Notas

Notas; musicais, Notórias...
Notas, Notáveis, que Notifico em minha mente.

Por que diabos não me deixam em paz?!
Não Notam que o professor está a falar e eu deveria estar a aNotar?
Nota-se que não! Não vão parar, logo Nota boa não vou tirar.

Malditas! Notas só pensam nelas mesmas, são egoístas e petulantes! Notavelmente não lhe abandonam nunca! Só vão mesmo quando você já nem mais pensa nelas, ou melhor, quando não as Notamos mais.

Notórias, Nostálgicas, Mentais, Musicais...
Notas, Notáveis, que Notifico em minha mente.
Notas.


Nota mental: Mandar - quem sabe - esse texto para o blog assim que esse F (lê-se Fá maior) parar de me pertubar.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ao traunseunte desconhecido:

Lembranças se esvaireceram, porém aquela noite chuvosa reservou a ele algo inesperado. Talvez esse o motivo de permitir aqueles segundos um espaço exclusivamente gravado no ar. Ar, era isso que precisava quando após as sequentes taquicardias, conseguiu proferir palavras advindas das profundezas do cordis. Lógica, não, este não é um atributo do orgão vital, o poço de sentimentos. As cousas do sentimento não passam por esse tipo de análise cartesiana, não segue linearidade ou qualquer espécie de método. Surge inspirado, rápido como a luz, os versos são declamados desprovidos de forma e métrica, apreendido e, simplesmente, proferido. Assim contou-me antes de partir, seu espírito completo, energia celestial. "A maior abstração de nossa existência só é plena quando compartilhada"... Disse com convicção! O exato evento, este, como supracitado, coube ao ar zelar. Contudo, o poeta conta esses vestígios, por eles a mente atribuiu-se de entender, ao limite, deixo os passos de cada batida trilhar pacientemente a compreensão.

sábado, 27 de junho de 2009

Apresento-me

Hoje eu vi a fome
suspensa no silêncio
Jorrando a morte em prestação
Viajando não sei ver isto não

Minha boca apodrece
E compartilha poesia
Seu mal hálito lhe mostra
O que a rosa não faria

Sou caixeira andarilha
Sem rumo, nem milagre
A garganta não me cala
Jazo detrás do silêncio
Pássaros voam com a verdade.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A rotina de Ouvir

Carros, ruas, tumulto, fumaça, buzinas, vendedores, cigarros...
Pertubado, pegou seu ônibus e foi trabalhar.
Catraca, moedas, conversas, susurros, palavrões e seu dia só estava por começar.
Ao chegar ao trabalho sentou-se, e pensou por um breve momento que poderia respirar!
Mas logo veio a labuta, a hipocrisia, o desacato, o desaforo, a ignorância...
E mesmo que o dia parecesse já estar perdido, mesmo assim, de vez em quando, surgem palavras de esperança, pessoas amigáveis que sabem respeitar e entender o lado de quem está atrás do balcão da repartição pública - até por que um "olá" e um "obrigado" não machucam ninguém. "A sociedade chegou a tal ponto onde ser carinhoso é sinal de fraquesa!" Ponderou nosso querido protagonista - exausto pelo seu dia de serviço mas ao mesmo tempo contente ao pensar no salário ao final do mês - enquanto rumava para casa.
Três ônibus o separavam do lar e por trezentas vezes escutou coisas que não gostaria de escutar...
No lar, esperava descansar, mas isso não aconteceu pois, lá estavam o casal de vizinhos recém-casados à brigar e arremaçar a mobília um no outro, o memino levado estava a chorar diante das proibições de sua severa mãe, a música no andar de cima estava alta demais e isso sem falar no velho da porta da frente - que diante de sua enorme solidão - estava novamente a se embriagar e vociferar conversas sem sentido para as paredes.
Era quase três da manhã quando o condomínio se silenciou. Teria de estar de pé às seis, mesmo assim demorou para dormir. Ficou a se deliciar com o silêncio!
E que sensação sublime, divina e reconfortante foi aquela! Como era bom imaginar que ele proprio já não mais existia!
De fato o único ruído que agora escutava era sua própria mente a sussurrar "silêncio, silêncio, silên..." Adormeceu de súbito.
E naquela noite teve um lindo sonho: Sonhou que estava a dormir. Shhh... se não ele acorda.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Hierarquizaram-me
Que pureza é esta de valores inexistentes?
Exclusão incoerente
Até uma carta-lei era o princípio
E nos dias de hoje, é da raiz que eu sinto.
Ela cresceu e deixou suas marcas
Estaca
É o preconceito da raiz intacta.

Nesse período a cor não tinha raça
Era impureza declarada
Mulatos, mamelucos,
Curibocas, caboclos ou crioulos.
A exclusão é quase a mesma,
Não importa quem esta no topo.

Na chamada impureza
Existia distinção,
E quem escravo era
Ficava entre campo, a casa-grande e o patrão,
Coisa da instituição
Não foi de raça não
Esta só veio bem depois
E hoje o digno cidadão
Escolarizado de plantão
Apanha da burrice
Grita “escola e educação”
Mas fala “isso é coisa de preto”
Esbanje a “raça”, e é exemplo da nação.
Situação incoerente
Vai se ferrar seu “pai joão”.

Sinfonia em ré maior


Melodias melosas me matam
Orgias, orgasmos, orquestram
Representações retorcidas rindo reiteram
Dias de difíceis deleites
Indo, irada, irônicamente intervenho
Danada dureza desvairada do desprazer
Antes arder alucinada a adquirir
Sanidade sem sequer sentir

Nua na noite notei
O ônus oculto onde olhei
Safada sentei saborear

Subindo, saindo, sofrendo
Excitada, empoleirada, esqueci
Ilusões irrisórias inventadas
Ofegante, ofuscada, orgasmo, ousei
Sentir suada, sublime sobreposição!

terça-feira, 23 de junho de 2009

celebração à luxúria

se grega eu fosse, naqueles tempos, hetaira seria.
e minha tragédia, se transposta ao japão, de mim faria uma gueixa.
e quando pensasse estar livre, nem a mais alta sabedoria descolaria de minha carne a sina do concubianato.
amante difusa, entrego minha devoção aos que devoram as fatias mais doces de minha vida.
predadora que sou, longe de tomar tal fato como lamento, excito-me a cada coração roubado.
minha alegria é reconhecer no espelho uma sábia puta bandida.



hopper - office at night - 1940

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Apresento-me para uma busca conjunta
Doando um mundo particular.
Recebendo, em contrapartida, seus anônimos impactos
Que se tornam ressignificações aqui dentro.
Fazem conhecer-lhes de verdade
E amar, ainda mais, minhas ilusões.

[...]

Meu intento é imenso, de antemão advirto.
Tamanho sentimento levo a todo lugar que piso
Prejuízos não concebo, identifico maus amigos.
Não concebo bons conselhos.
Dôo paz em mais sorrisos.

Enquanto ser utópico queria ser tudo isso.
Mas peças em desarranjo vivem vasto niilismo.
Contaminam e sufocam, onde passam desatinam.
Meu escudo trucidante,
A força do bode-riso.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Tudo ou nada




Tenho os punhos cerrados,
E os olhos, num alvo, fixos.
Se há um tudo ou nada:
Sobra-me o nada, e...
Não saberei o que fazer,
Contudo.

Esbravejo, como um guerreiro;
Que nunca fui, é bom lembrar;
Mas se me há de servir o nada,
Irei eu, sozinho, no frio da noite,
A desferir meus golpes, contudo.

Com tudo o que houver, de força,
E o que me restar de vontade: é pouca.
Contudo, por que quero o nada (acho),
E fica evidente nas coisas que faço,

Pois a vida é feita assim: bem frágil.
E ainda assim quero amanhecer.
Apesar do tudo ou do nada,

Tomar um trago,
E sobre meu dia cinza...
Escrever.

18/06/09

domingo, 14 de junho de 2009

Numa noite sem fim...


... silenciosa e negra, ele entrou, disfarçado, num barco a vapor de cor ferrugem.


Escondido, sentia a noite. Ouvia conversas distantes, de marinheiros acomodados dentro do barco. Se fosse descoberto, seria tudo ou nada.

_Adeus terra inóspita, estou de partida. Não conseguiria viver mais aqui. Não seria louco de pisar neste barco, se não sentisse que esta era minha última oportunidade.

Os barcos eram raros e esta sua última morada era uma cidade esquecida e decadente, que tocava jazz como se o jazz fosse a última moda. Apareceu um hoje, ele pensou, talvez o próximo só venha em meses.
Seu corpo envelhecia: quase tanto quanto seu espírito.
A hora do tudo ou nada estava por vir, muito provavelmente aconteceria ao amanhecer, quando a pequena tripulação, de uns oito homens, fosse ao convés ver o tom do novo dia e o encontrasse e resolvesse jogá-lo ao mar. Os homens desse ofício em um determinado ponto da vida ficam deveras embrutecidos, e depois de uma noite de bebedeira, não pensariam antes de se livrar de um peso morto.

O exilado abre um pedaço de papel amassado, que estava guardado em seu bolso. Nele havia uns versos:

Um estouro,
Um beijo,
Uma passagem pra eternidade.


Ele pensa: que versos pobres. E os joga ao mar.
E de repente, ouve uma risada diabólica: foi descoberto por um marinheiro bêbado, que já ria de pena dele, pois já pensava em trucidar com este estranho.
O exilado, da sombra onde estava, engole a seco. Levanta seu olhar para o dono da risada e sem que ele perceba cerra os punhos e se prepara pro combate, pro tudo ou nada.


...

domingo, 7 de junho de 2009

até amanhã, sou ana


no sé por donde empezar: ou talvez o inverso - são vários os começos. soy ana embriagada, miragem em taça de vinho. meu nome eu que escolhi. admito ter rodopiado um tanto entre maria e ana. descartei maria por ser muito maternal, apesar de ana ser o nome de minha mãe. pressinto que as coisas fluem. misturo os tempos; circulo com vestidos bufantes pelas gafieiras e de sandália rasteira pelos salões de baile. guardo uma tristeza no rosto, tristeza de uns vinte anos ou pouco mais. para mim o tempo flui sem dor; sei que um dia tudo estará terminado. divirto-me às custas dos desesperados. vivem sua lucidez histérica comendo uns aos outros. guardo minha histeria para os amores. pratico o sono à tarde para desenrolar as juntas. à noite tenho vontade de começar a vida outra vez, mas levando muito da anterior. minhas manhãs são poucas: tomei por hábito apenas acordar para o almoço; ao menos terei mais sonhos para contar aos netos. sou musa e criadora. habitei séculos passados e dei vivas à fotografia, afinal, nunca fui boa com pinturas. gosto é de posar para amigos talentosos. como vim parar aqui? o poeta caiu em meu canto. não teve a sorte de ulisses em ficar amarrado ao mastro do barco e nem de seus marinheiros, ensurdecidos por pedaços de cera. visitei o exílio e mordi seus lábios. nem o mais amargo café carrega seu gosto da minha boca. embriagada, gosto de escrever minúcias em minúsculas e destruir corações.


eu por hopper - automat - 1927

sábado, 6 de junho de 2009

Sob o frio do inverno em meu cobertor



O dia frio tomou conta de mim. Sigo deitada em minha cama. Que manhã estranha é esta. Tudo o que foi ontem já não é mais. Um novo dia. Não sou o que fui ontem. E apesar de nova me resigno a velhos hábitos. Não tive cuidado com o dado! Continuo sendo parte da reforma, parte das reproduções, neste mundo do deus “reprodutibilidade”! Mas também pudera! Nunca havia percebido o sentido deste fluxo que deságua numa cachoeira! Quebrando as pessoas no lugar de troncos! Como é prazeroso nadar contra a correnteza! E que força tinha! Mas não sabia!!! Oh meu amigo Indigente, como estavas certo sobre esta gente! Que eles temam! Amanhã é um novo dia! E eu uma nova pessoa! Adeus velhos hábitos! A minha roda se pôs a girar (A Roda da Fortuna)! A sorte está lançada!

domingo, 31 de maio de 2009

Cartas do exílio

Caros leitores, envio aos senhores esta carta. Mais uma carta, porém os dias no exílio têm sido mui frios e a sobrevivência torna-se difícil neste período. Mas há de passar, assim gosto de acreditar. Caros leitores, dirijo minhas pobres palavras a seus belos olhos. Espero que este mundo opaco, donde escrevo, sirva de contraste com a vida feliz que imagino que alguns de vocês cultive em seus interiores. Creio que dentro de alguns meses, se completará um ano desde que criei coragem para escrever a primeira carta. Acredito que tenha sido em forma de verso, pois quando mais aflito me encontro, mais apurados ficam meus versos e mais precisas as minhas palavras. Não sei se posso voltar agora, os perigos dessa vida ainda rondam minha sutil existência, temo pelo pior. Mas, ao mesmo tempo, sinto um ardente desejo de retornar e abandonar esta terra. Não sei, sinto que viver escondido não é o que sempre pensei, ao longo da minha vida; mas eis um espectro paradoxal: em muitos momentos estive de peito aberto e o que mais desejei era estar escondido.

Que nossa troca de cartas perdure, pois o fogo de suas idéias alimenta meu coração.
Saudações,
Poeta

domingo, 10 de maio de 2009

Olha a bela flor dobrar serena a
antiga avenida central;
tem pernas, sim, e desliza pelo lamaçal de macadame.
tempos idos, o cimento fez-se o chão de nossos pés (não assim, bem,... diferente),
a bela flor, na lembrança é mais bela,

vê a flor murcha, a regozijar-se com as gotas do orvalho matinal
de todos os dias (quase).

Sê a bela flor a passear pelos desníveis do meu peito castigado,
E quem sabe não serei mais uma vez um corpo entorpecido,

Vê a flor, que aos olhos é menos bela que na lembrança,
A assobiar notas tal qual um instrumento musical,
Numa noite de luar, ao fundo do meu quintal,
Na plena imensidão das dores cotidianas.

Querida flor.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A piada dos ovos

Meu peito está prestes a estourar em um mundaréu de palavras absurdas...

Aquela galinha inexistente
E aqueles ovos
Ah, aqueles ovos que não me deixam em paz
Aqueles ovos
Me parecem
São o suplício desta vida
São nosso fardo querida
Meu e seu
Não há o que se possa fazer
Não há religião que nos possa oferecer
Alternativa!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Cuidado com o dado

Há que se ter força para transformar o dado em novidade,
E coragem para abrir mão do dado, quando este lhe favorece;
O dado pelo dado é, sobretudo, uma prisão,
E como uma boa prisão tende a domesticar o fardo,
quando este não é dado.

O dado pode ser pago: em prestações, uma forma de escravizar.
No tipo: eu fico famoso, e você que foi atrás do dado, em parte por que estava dado,
Acabou se transformando num saco, domesticado, e com espírito opaco.

Libertai-vos do dado, e buscai-vos, no intangível, o não dado. Tenha a certeza de não ser dado, e de também não ter dado: que tal uma transformação? Uma revolução! Eis o combustível do espírito livre!




Florianópolis, 13/04/09.

sexta-feira, 20 de março de 2009

O Samurai

Ouvi falar de um guerreiro,
Cujo corte preciso era;
Podia passar o dia inteiro,
A ver os detalhes da primavera;

Moderado no dizer,
Intenso no viver,
Entregou-se a paixão,

E ninguém tinha o direito de julgá-lo.


--


O Mouro

Havia também um andarilho,
Que causos do sertão nos contava;
Cujo coração andava no trilho,
Via o pôr do sol à beira da estrada;

Intenso no dizer,
Moderado no beber,
Entregou-se a paixão,

E ninguém tinha o direito de julgá-lo.


--


O Outro


Não deixemos o tal ferrabrás,
Que de misterioso nada tem!
Simples no ser e nada mais,
Em cujo bolso não jaz um vintém.

Moderado no falar,
Intenso no versar,
Entregou-se a paixão,

E ninguém tem o direito de julgá-lo.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Janela em forma de fotografia





Uma janela em forma de fotografia;
É uma passagem, saída pra toda agonia;
Sem cores multicoloridas, e se for...
Como uma variante forma de torpor.

Nessa solidão pós-moderna,
Os pés sentem frio, aproximam-se:
Esfregam-se.

Sim, há na parede do quarto,
Uma fotografia em forma de janela...
É retrato, não é aquarela,
Traz a leveza quando me sinto farto.

E se por hora sentir calor...
Mas um calor intolerável!
Ah, Céus,...pedirei a ela...

Que use seu talento inefável,
E capte o frio escondido
Nas Urbes, e mostre o seu viés,
Serei direto, sem querela!

E que na parede do meu quarto
Pra esfriar meus pés...
Se pendure outra fotografia,

Em forma de janela.

*Foto de Mariana Rotili

terça-feira, 17 de março de 2009

Conselho

Eita cumpadi, meu amigo!
Por que estas tão sumido?
Perdestes em algum pensamento,
deixastes levar por sentimentos.

Pensava que estava brabo comigo,
aflito por cousas do tinhoso,
atarefado com trabalho ardoroso
ou simplesmente com punho inibido.

Sabes das incerteza desta terra,
de conflitos que muito tememos,
e da esperança de outros tempos.

Faça novo voto de coragem,
deixe que o coração fale,
das profundezas deste sertão.

quinta-feira, 12 de março de 2009

É uma noite calma
De uma dia agitado
Alguém espera um olhar, uma alma
Para ser cativado

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Do Julgamento

Solitária, a pobre alma se aquece;
Na noite vazia, tem seu maior desafio:
Proteger-se irrequieta do cortante frio,
E esquivar-se de tudo que à sua carne fenece;

Longas horas até surgir alvorada,
Absorto: seu nariz é uma pedra gelada.
Queda-se a pensar no porquê de estar ali:
Por que seu mundo, ao revés, lhe sorri.

Após o grande julgamento, tem seu veredicto:
Se das vicissitudes oriundas dessa vida tesa,
É inocente, e por um segundo fica em leve estado;

Mas sobre ter desperdiçado seu tempo,
Neste caso inexiste resquício de defesa:
A leveza se esvai e não se faz de rogado: é culpado.

Inspirada no filme "Papillon"

http://pt.wikipedia.org/wiki/Papillon

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Manhã Idílica [às três da manhã]

Acorda dia, sob tua mesa novos poetas.

A dor de ontem já passou.

O orvalho venceu,

lavou, escorreu.

E hoje tudo é novo e claro.



As putas são belas.

Os bêbados ainda de pé.

Ninguém vê os meninos ao chão.

Mas o sol os cobre na manhã dura.



Eu cambaliei por toda cidade.

Cada rua era a mesma.

Eu perdi as horas do meu coração.

Depois parti à chave,

não era minha porta.

Fechei o dia: minha casa é à noite.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

vinte e um

Hoje é dia de festa,
o sertão tá animado,
o cordel preparado,
o povo vem celebrar.

Depois de tantas proezas,
neste mar de sertão,
ela surge imponente,
para receber seu presente.

Seu nome é Maria,
a alcunha é Bonita,
guerreira de coração.

Eis uma breve homenagem,
deste modesto admirador,
ao raiar de um belo dia.

domingo, 8 de fevereiro de 2009


Ando pensando demais.
Exagerando na dose
Dessa droga neurótica
De efeitos letais.
Ó mente, ó razão,
Liberte-me do vício do pensamento
E traga-me de volta ao momento!


sábado, 31 de janeiro de 2009

Haikais de verão


Soa vento, folhas, grãos

Mar de azul intenso

Em minha pele arde o sol

*

Folhas bailando ao som do ar

Brilham à luz do sol

Ondas, no mar, aplaudem

*

Sobre o palco azul do céu

Pássaros atuam

Nuvens riem deleitadas

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Guardo comigo um sentimento
Que acredito ser nobre.
Vale mais que meu esquecimento
E mora nesse coração pobre.

E, apesar dos pesares,
Das intempéries, e...
Das mudanças que pairam no ar...
Paixões arrebatadoras...

É ele que diz: abra os olhos,
Vale a pena acordar.

15/01/08

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O versos que seguem logo abaixo é uma singela homenagem prestada a um sujeito que conheci certa vez, pelas minhas andanças no norte da áfrica. Solzão, Magreb...!



A este mouro devo dizer:
O que fizeste com nosso ouro?
Ao ser indagado: se surpreender!
Em toda amizade jaz um tesouro.

Ao nobre parceiro, uma homenagem
A esta alma inquieta, perseverante:
Que esta amizade não esteja de passagem!
E que não malogrem este semblante.

Vazias seriam as minhas palavras
Se mantivesse a maldita pergunta!
Pro nobre mouro: um ás de espadas
No lugar do coringa: carta imunda.

Para melhores lembranças,
Pra este vascaíno, sofredor,
Fica o verso de um leigo
E não os de um inútil doutor:

“Salve Jorge, viva Jorge”

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O poeta do jazz


O criador que em notas suaves,
faz arte.
Cercado de heróis: um suspiro;
o ar vem tosco: sai esculpido;
Seu trompete quer falar!

Só os ouvidos podem ver,
E só o coração, sentir.

Jan 2009