domingo, 30 de dezembro de 2012

SEM-TETO (para Mário Quintana)

Se no verso do poeta
"Amar é mudar a alma de casa"
Por certo
Sou agora sem-teto

Marta Magda
(Dezembro 2003)

DE MÃOS, BEIJOS E CORPO...

Gostava de tuas mãos
Gostava de teus beijos
Gostava do teu corpo sobre o meu
Gostava de te ver...

Não era gosto
Era bem-querer

Gosto de lembrar de tuas mãos
Gosto de lembrar de teus beijos
Gosto de lembrar o teu corpo sobre o meu
Saudade, gosto de dor

Não é gosto
É amor

Marta Magda
(Novembro de 2003)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Queria...


Queria dar-te o céu
Com seu infinito azul
Suas estrelas a pulsar...
Se eu pudesse
Dar-te-ia o universo
Verso por verso
Frente e verso!

- Bianca Velloso -

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Chamado



O Poeta do Exílio
Anda mesmo 
Exilado do próprio exílio
Volta, poeta querido!

- Bianca Velloso -

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Menino Deus



Numa tarde em que busco
Apenas acolher a solidão
Vem um menininho iluminado
E me traz inspiração!

- Bianca Velloso -

sábado, 22 de dezembro de 2012

Do passo ao voo



Quando foste embora
Primeiro eu chorei
Desesperei-me
Quase despenquei

Depois arrisquei passos
Num caminho estranho
Imbuída de uma racionalidade duvidosa

Até que apareceste
Novamente...
Que alegria!

Pensei que ficarias...
Que nada!
Foi só pra pisar
E maltratar...
Doeu! E muito!

Mas foi exatamente aí
Que descobri
Que posso voar
Que posso ser eu,
MULHER,
Independente, intensa
Densa, deusa, criança

Hoje sou
Aquela que dança
Sem nem saber dançar
Que ri, canta
E faz versos
E encanta

Loucura que liberta


- Bianca Velloso - 

Ah, o amor!



Recebi de presente esta frase:

"O amor é um pássaro rebelde: não aceita gaiolas".

Então respondi:

Tenho um coração escorpiano,

Tinhoso que só ele!

Não me obecede nunca!

E desconhece a palavra calma.

Resolveu, por conta própria, alçar voo.

Voo kamikaze? Talvez sim...

Enfrenta a razão com uma coragem

De dar inveja ao mais destemido guerrilheiro!

Fico eu aqui com um frio na barriga...

E um medo sem tamanho!

Mas é tão bom...

- Bianca Velloso - 

sábado, 15 de dezembro de 2012

DES-ILUSÃO

Desenho
De um sonho
Virado
Em borrão

Marta Magda

(Janeiro de2004)

Adivinhações

Casa
Ria

Piada seria
Ou zombaria?

Pergunta
De moço:
Casaria?

O amor
Muito mais queria

Pergunta
De moço:
Casaria?

Tanto faz
Só ria...

Marta Magda

(Janeiro de 2004)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Nudez


Acontece de repente
A sensação de estar nua
Muito mais liberdade do que vergonha...
Escrever é despir a alma:
Misturar Deméter com Afrodite...
Delicadeza incandescente!

Bianca Velloso

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Idéias esparsas, um monólogo coerente

Dentro de uma caixa, uma glória. Era Pandora, em meio à multidão, uma caixinha de surpresas. Na Ágora, Platão desafia Aristóteles, professor do grande Alexandre, e assim se pronuncia: Vamos por pratos limpos à mesa. Haja franqueza!, o coro se manifesta. Em festas, as fraquezas. Bem, as fraquezas... Voltemos ao ridículo, falemos do cubículo (ou da caixa) e não precisamos nos apresentar ou mostrar currículos. Falemos. Sem dar voltas, evitaremos andar em círculos. Chega de redundâncias! Diriam que isso é demasiado humano; supõe-se que haja, por sua vez, certa dose de ganância. O perfume, um romance qualquer, não nos oferece contexto ou alguma fragrância. E quem disse que seria tão fácil assim? Desviamos os fatos, gritamos aos montes, e continuamos repudiando toda qualquer espécie de rato!, assim como Dyonélio modernamente nos alertou. Esquecemos de Cairos, inimigo de Kronos, aquele que desconhece aquilo que se crê como condição sine qua non para a vida: a rotina, uma droga tão pesada quanto outras que terminam com a sílaba ína. Tudo o que se aprende é bônus. E o que se perde? Certamente - e aqui se emprega uma terminologia tipicamente kafkiana: alguém certamente havia denunciado Josef K! - se ganha, uma vez que as experiências estão cada vez individuais e singulares, o que confere a elas um caráter que transita entre a ambiguidade musical do ser e a realidade corroída pelo Tempo. 

domingo, 9 de dezembro de 2012

O MEU JARDIM

Imagem: Camille Monet et l'enfant dans le jardin - Claude Monet


Gosto de olhar o eu jardim.
Ali tinha havia um pessegueiro sempre florido. Agora é construção.
Ali tinha um ipê amarelo. Agora é um belo canto de sonho e ilusão.
Ali tinha um ligustro. Fui eu que o plantei. Cresceu demais e foi condenado. Coitado.
No meu jardim. As crianças são sempre crianças.
Fiz-lhes uma casinha. Depois uma maior aqui. E outra maior para elas.
Como crescem as crianças

Mal ficava pronta uma casinha, já não cabiam mais dentro dela.
No eu jardim tinha uma laranjeira. Surgiu ali desde pequena.
Dava muitas laranjas de graça. Um dia secou. Nunca reclamou.
Se árvores têm alma, deve estar não céu.
Cobri-lhe com as flores de uma trepadeira. Como um véu.
A esta hora sopra uma brisa de acalanto.
Sempre foi lindo o meu jardim, mesmo sem qualquer trato.
Nele andam fantasmas a sorrir e contando histórias em cada canto.
Guardo muitos pedacinhos delas dentro do porta retrato.
Sento-me no meu jardim a olhar para cima.
Vejo as andorinhas com seus voos errantes
Mais adiante, por entre um céu azul, imagino no infinito, alguém sentado a perguntar:
“Haverá mais alguém por aí?” E respondo: Sim.
Eu e tu estamos aqui.
 
Adelino Miranda - 1987

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sobre as formas de narrativa





A narrativa em terceira pessoa tem a gravidade das verdades e das certezas. Vem carregada de rigor científico, da formalidade acadêmica.  Tem o cheiro asséptico de texto jornalístico. Esta forma só tem graça mesmo nos romances, quando as certezas e incertezas do autor se decompõem nas personagens da história.

Ao contrário, o texto escrito em primeira pessoa é informal como uma conversa, tem a leveza da trivialidade, da transitoriedade. O autor confronta verdades, sentimentos, incertezas, assume sua parcialidade, torna-se mais próximo do leitor.

O grande barato da literatura é tirar o leitor da zona de conforto: textos que desestabilizam, que questionam certezas... Textos que desafiam, que levam o leitor a repensar verdades. A escola formal não ensina a questionar o que está escrito nos livros, pelo contrário, ensina a aceitar tudo como verdade incontestável. 

Há quem diga que escrever em primeira pessoa só serve para exaltar o ego. Não é verdade! Escrever em primeira pessoa é mais simples, mais humano, menos pretensioso e mais convidativo à crítica, uma vez que deixa explícito que se trata da opinião do escritor.

Tudo bem, este texto está escrito em terceira pessoa... Mas a intenção aqui não é ser verdade absoluta,nem trazer certeza alguma, o que ele – o texto – mais quer, de verdade, é ser questionado. Além do mais, seu único objetivo é provocar o revisor!

Bianca Velloso