Humanum Desejus Mortalis
Era uma vez um pequeno moço chamado miguel. Miguel havia nascido no interior desse imenso Brasil, numa casa de campo,c om família campesina, com cachorro puguento, e com cheiro de terra.Desde muleque sempre fora muito afeito da natureza. Os campos, insetos, bois, riachos, cachoeiras... até mesmo o estrume dispertava interesse no garoto. Mas nada na natureza podia ser mais grandioso e fascinante que a Árvore que crescia em seu jardim.
O pai, Bento, dizia que aquela Árvore estava por ali muito antes desse mesmo nascer! "Aquela Árvore tem muita história para contar meu filho" dizia o velho Bento enquanto enrolava mais um palheiro - seu maior prazer em vida e também a causa de sua morte.
Desde então Miguel dedicava grande parte de seu tempo a deitar sob a sombra da Árvore e contar-lhe suas histórias. Contava a Árvore de tudo: da vez em que descobriu a cachoeira secreta, da vez em deu uma surra em Tulio por causa de Ritinha, da primeira vez que teve de ordenha a Anastácia, da vez em que pegou a arma de seu pai escondida, da vez em que junto aos outros garotos da redondeza espiara as meninas a banharem-se no riacho, da vez em que capturou Rogério (seu amado passarinho)... entre tantas outras histórias de meninice
mas, algo continuava a pertubar o garoto. Ao contrário do que seu pai dissera, sua amiga, dona Árvore, por mais que fosse uma ótima confidente tinha um defeito: não dava um pio!
Miguel cresceu, foi estudar direito no Rio de Janeiro, casou, teve quatro filhos - as mais novas eram gêmeas. Só voltou mesmo aquele maldito fim de mundo de sua infância quando recebeu a notícia de que seu pai falecera. O tabaco o matará. Seu Bento nunca deixou de fumar, velho teimoso, dizem até por ai que ele morreu com um sorrisso no rosto, enquanto enrolava um palheiro, é claro. Convicto de sua filosofia, grande homem - Miguel pensava. Mas agora que ele se fora para o grande ceu dos fumantes a velha fazenda ficara para seu único filho - sua mãe, Maria, esse nunca chegou a ver, só mesmo em foto. Morrera ao lhe conceder a vida.
Foi, em um dia ensolarado, sozinho até a fazenda do pai. Pensava no caminho que ao invés de vende-lá poderia fazer uma chácara agradável para a família, as meninas iriam adorar! Quando chegou percebeu que tudo estava exatamente como era! Os móveis, o chão, o velho fogão as rachaduras no teto, as inflitrações na parede, tudo! O tempo não surtia efeito naquele lugar ou pelo menos passava de modo diferente. Quando chegou ao quintal teve a maior das surpresas... dona Árvore ainda estava lá!
Miguel foi tomado por uma alegria de criança em dia de aniversário, foi correndo dar um abraço em sua velha amiga. Deitou-se no chão como costumava fazer e começou a contar-lhe as histórias de sua vida no Rio de Janeiro, já ia fazer quase 25 anos que fora embora de casa. Passou o dia a falar, um tagarela de carteirinha, nem o Sol aguentou tanto papo e logo se retirou mas dona Árvore não... ficou ali, firme e forte, a escutar.
Antes de retirar-se para dormir Miguel fez uma pergunta que sempre quis ter feito:
"Dona Árvore, por que você nunca me responde?"
Mas a ÁRVORE nada respondeu...
"Entendo." Ficou cabisbaixo e foi se deitar...
Na manhã seguinte preparou seu café ligou para a esposa ,disse que estaria de volta ao anoitecer. Foi até o antigo galpão do pai e pegou a enferrujada motoserra. Foi até a Árvore e, dessa vez, sem dar nenhuma explicação à cortou por inteiro. Enquanto a gigante despencava ele escutou uma voz que dizia:
"Humano tolo! Será que não entende! Árvores não falam!!!"
Queria ele ter achado que essa fora uma resposta da Árvore, mas não era, era apenas o seu próprio pensamento a reverberar no crânio.
"Eu sei, querida amiga. Não espero que um dia você entenda esse meu ato. Eu, apenas, precisava fazer isso."
Mas dessa vez não falou para a Árvore, falou para si.
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