Houve uma pausa. Bebeu vinho. Continuou.
Mas saiba caro marujo, que nem todas as histórias são felizes. Como eu ia lhe dizendo aconteceu há quinze anos. Estávamos a bordo do meu primeiro navio, o Dream Hunter, bela embarcação, muito veloz, feita de madeira clara. Navegávamos por uma região do Caribe com o objetivo de chegarmos à Jamaica, em Kingston, mesmo porto que atracamos alguns dias atrás. Os motivos de nossa parada eram óbvios e você já os presenciou. Os marujos precisam, volta e meia, repor a ausência de certos caprichos que o mar não pode oferecer.
Durante parte de nossa viagem um albatroz seguiu o Dream Hunter, chegando até a pousar no convés do navio em muitas ocasiões. Durante o tempo em que o pássaro nos acompanhou a pescaria foi intensa. Os peixes praticamente saltavam para dentro do barco implorando para que os comecemos, entende garoto. Não precisávamos fazer nenhuma parada, havia comida em abundância, tanto peixe que até o pássaro era muito bem alimentado. Não tenho nada contra isso, não tenho nada contra animais, mas, algo no comportamento dos marujos começou a me enfurecer.
Começou espalhar-se um boato pela tripulação de que o tal pássaro era um presente de Deus, que trazia boa sorte, que era graças a ele que a pescaria estava indo tão bem, e falatórios desse tipo. Senti que deveria ajudar aqueles pobres homens crédulos a pararem com tais asneiras e resolvi dar um basta naquilo tudo.
“Certa manhã, no convés, ao ver o albatroz ídolo que estava repousando no deque saquei minha pistola e o atingi. Bang! Mas não foi um tiro letal, eu não queria matá-lo, ao menos não daquela forma. Você sabe como eu sou não é garoto?” Passou um tempo fumando antes de continuar. “- Algumas pessoas me consideram cruel, eu, pessoalmente, me considero uma pessoa divertida. Existe algo mais engraçado do que fazer alguém sofrer antes de morrer?! Eu acho hilário!” Jolly Roger começou a rir histericamente enquanto todos os meus músculos se enrijeceram de tal forma que achei que o coração fosse parar, mas ele não parou e a história seguiu...
“Então eu peguei o maldito pássaro que ainda não estava morto e o amarrei junto a estátua de uma sereia que ornamentava a proa, para que ele morresse de fome ou sede com o passar do tempo, mas na verdade morreria antes que isso graças ao ferimento da bala. A tripulação ficou enfurecida! Olhavam-me com um imenso ódio! Amaldiçoaram-me! Tentaram se rebelar e fazer um motim! Foi uma situação complicada. Tive que matar dois e aleijar um terceiro para que voltassem a si e tornassem a me respeitar. Sabe garoto, sou pequeno mas não queira entrar em uma luta de espadas comigo.” Falou isso dando tapinhas em minhas costas. Senti a espinha gelar.
Um comentário:
E quando começará a narrativa do que se começou?
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