De autoria do poeta Francisco Monteiro
Quando adentrou aquele bar
Pareceu que tudo ao redor parou,
Todos paramos para o ver entrar
Ele sequer se incomodou
E puxou uma cadeira pra sentar
Era um sujeito franzino, tinha a barba por fazer
Via-se facilmente em seu rosto
Uma tristeza, um quase enlouquecer
Ou qualquer coisa triste, um desgosto
Que por certo o fizera sofrer
As vestes suas estavam molhadas
Pela chuva que caía sem parar,
E ele não se importava com nada
Nem com a cadeira que estava a molhar
Ou com sua camisa rasgada
Tinha o olhar vago, profundo, vazio,
Nele notavam-se rugas recentes
De mágoas que o invadiu,
As mãos trêmulas aparentemente
Como quem de algum lugar fugiu
Ao notar que era notado,
Deu-nos um sorriso sem graça
Era nítido que estava perturbado
A penar de uma dor que não passa,
De algum mal mal-curado
Acendeu um cigarro amassado
Que tirou de sua camisa rasgada,
Fingiu espirrar pra olhar de lado
E, numa profunda e grande tragada
Criou um ambiente esfumaçado
Toda aquela tristeza dele cortava-me o coração
Porém nada tinha eu a fazer
A não ser observar-lhe cada ação
E sim deixar apenas acontecer
O que ele quisesse fazer por opção
Sei que quando sofremos do mal do amor
Ficamos escondidos, isolados
Queremos sozinhos curtir a nossa dor
Curando o coração magoado
(E deixamos o mundo apenas por expectador)
Ele trazia no bolso uma fotografia
Que tirou e pôs-se a olhar,
Quase balbuciando a chamou de vadia
E, em silêncio começou a chorar...
(foto pequena, grande agonia)
Não pude ver quem era exatamente
Mas notei que era uma mulher bela
E ele bem delicadamente
Beijava no retrato o rosto dela
(num desespero latente...)
Penalizei-me por ver que ele a amava
E que todo aquele seu sofrer
Era por um amor que o assolava,
Mas sem saber o que fazer ou dizer
Apenas me reservei a ver como ele se comportava
Sentado, seus pés mal tocavam o chão
-Sujeito pequeno era o infeliz-
Pequenas também eram suas mãos
Que mais pareciam infantis
(Era o quase dono da solidão!)
Ao tomar a bebida que pedira
Ele levantou-se pra ir embora,
Enfim toca no chão e se vira
E como sempre a todos ignora
(coisa que não me admira...)
Seu visível descontrole me incomodava
Por saber e ver que ele sofria,
A vontade de ir ter com ele não me abandonava,
Porém, o que lhe falar eu não saberia...
(Enquanto o tempo alí no bar quase se arrastava)
Cruzou o salão em passos lentos
E novamente chamou-nos à atenção,
Estávamos todos bem atentos
Aos passos do Senhor Solidão
(que parecia estar sonolento!)
Ao chegar na porta do bar
Tirou de sua cintura uma arma
Virou-se pra trás a nos olhar
Parecia um sujeito sem alma
Um fim em sua vida iria dar
Neste istante notei que uma lágrima rolou
De seu triste rosto desesperado,
O seco som de um disparo ecoou,
O antes de pé corpo franzino, agora estava estirado.
A vida pra ele terminou!!!
Por causa de um amor bandido
Estava morto aquele homem pequenino.
E morrera solitário, desiludido,
Um homem em forma de menino
E no verso da foto estava escrito:
“Morri porque não suporto solidão,
tantas vezes tentei com ela ser feliz,
dei-lhe toda a minha vida e o meu coração
mas, infelizmente ela nunca quis...
vivi uma vida de decepção”
Pensei: A nossa vida é bem engraçada
Tanto que até parece comédia
Mas se não soubermos viver a desgraçada
Ela vira drama, vira tragédia.
(E acaba mal-acabada!)
2 comentários:
E eu que pensava que meu camarada Francisco só escrevia sonetos.
Eis um exemplo belo e vigoroso de sua versatilidade, no sentido literal... mais que literal!
Dentre os vários sonetos que faço, às vezes surge algo que não enquadra-se nesse formato. No entanto eu deixo fluir e algumas vezes os publico. (Pouquíssimas são essas vezes...)
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