domingo, 31 de maio de 2009

Cartas do exílio

Caros leitores, envio aos senhores esta carta. Mais uma carta, porém os dias no exílio têm sido mui frios e a sobrevivência torna-se difícil neste período. Mas há de passar, assim gosto de acreditar. Caros leitores, dirijo minhas pobres palavras a seus belos olhos. Espero que este mundo opaco, donde escrevo, sirva de contraste com a vida feliz que imagino que alguns de vocês cultive em seus interiores. Creio que dentro de alguns meses, se completará um ano desde que criei coragem para escrever a primeira carta. Acredito que tenha sido em forma de verso, pois quando mais aflito me encontro, mais apurados ficam meus versos e mais precisas as minhas palavras. Não sei se posso voltar agora, os perigos dessa vida ainda rondam minha sutil existência, temo pelo pior. Mas, ao mesmo tempo, sinto um ardente desejo de retornar e abandonar esta terra. Não sei, sinto que viver escondido não é o que sempre pensei, ao longo da minha vida; mas eis um espectro paradoxal: em muitos momentos estive de peito aberto e o que mais desejei era estar escondido.

Que nossa troca de cartas perdure, pois o fogo de suas idéias alimenta meu coração.
Saudações,
Poeta

domingo, 10 de maio de 2009

Olha a bela flor dobrar serena a
antiga avenida central;
tem pernas, sim, e desliza pelo lamaçal de macadame.
tempos idos, o cimento fez-se o chão de nossos pés (não assim, bem,... diferente),
a bela flor, na lembrança é mais bela,

vê a flor murcha, a regozijar-se com as gotas do orvalho matinal
de todos os dias (quase).

Sê a bela flor a passear pelos desníveis do meu peito castigado,
E quem sabe não serei mais uma vez um corpo entorpecido,

Vê a flor, que aos olhos é menos bela que na lembrança,
A assobiar notas tal qual um instrumento musical,
Numa noite de luar, ao fundo do meu quintal,
Na plena imensidão das dores cotidianas.

Querida flor.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A piada dos ovos

Meu peito está prestes a estourar em um mundaréu de palavras absurdas...

Aquela galinha inexistente
E aqueles ovos
Ah, aqueles ovos que não me deixam em paz
Aqueles ovos
Me parecem
São o suplício desta vida
São nosso fardo querida
Meu e seu
Não há o que se possa fazer
Não há religião que nos possa oferecer
Alternativa!