quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Aos humanóides que nos acompanham, lá vai uma mensagem:

A regência trina (que não é mais tão trina assim, já que nossa querida Paula não tem estado dentro, ops, quero dizer, ela se perdeu no interior do Paraná. É, foi pescar mussum de vala.) gostaria de desejar um feliz natal pra quem acredita nessas coisas. Bem, estou em Moscou agora... tá muito frio aqui, sabe comé que é. Um abraçovsck

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Eis aqui uma breve história

daquelas que normalmente não se lembra, mas que fica marcada apenas para aqueles que sabem das coisas que ninguém viu. Em um pequeno vilarejo, daqueles que pode se contar as casas, encontrar todos na praça, prozear por horas sem perceber o tempo passar. Em um desses, ao pé da Serra conhecida como talhada, eu nasci! É apenas o que sei, mãe não conheci, irmão apenas os que adquiri ao longo dessa existência. Do pai, por muito tempo soube que era um antigo coronel, dono de grandes faixas de terra do sertão nordestino, que em uma noite fervorosa de prazer com uma escrava da casa, produziu o que viria a ser EU. Filho bastardo indesejado, era o que diziam. Tempos passaram até descobrir que meu pai fora um antigo bandoleiro, um indivíduo contratado por aquele tipo de coroner (que pensava ser meu progenitor) para fortalecer seu séquito de combatentes durante conflitos por terras, escravos e influência política. Meu pai um dia se rebelou, reuniu ao seu redor outros bastardos, antigos capatazes, capitães do mato. Iniciou um movimento violento contra os supostos donos de terra do sertão, alí ele virou mar, mar de sangue, violações e sofrimentos.
Essas histórias, difundidas pelos poetas do cordel, os historiadores do sertão, um dia chegaram ao meu conhecimento. Saber como este homem era meu pai, foi um longo processo de junções de vestígios, perguntas e mais perguntas, pitadas de imaginação e o encontro não premeditado com a fonte: esta era uma idosa mulher, daquelas que sabem que vai chover porque o Burro ta suando, que a chuva vem de um lado, pois o João de Barro construiu sua casa com o buraco virado para o outro. Essa nobre conhecedora dos mistérios da natureza, aquela que me iniciou no conhecimento das propriedades dos frutos de nossa terra, conheceu o homem que deixou um recém nascido na porta da igreja, pois pensava que assim ele seria uma pessoa direita.
Nesta vila, conhecida como Serra Talhada, José Adeobaldo deixou aquele menino, fruto de uma rápida e audaz aventura com a filha de seu coroner, que com a ajuda daquela que viria a ser a velha senhora, pode tirá-lo do destino cruel que seu avô lhe reservaria, para um anônimo, onde ser historiador de si mesmo, transformou-se em obsessão. De meu pai, soube que depois desse episódio partiu e não mais fora visto, apenas memórias de seus feitos foram sabidas, mas essa é uma outra história.
Criado pelo padre da capela de Nossa Senhora da Penha de Serra Talhada, passei a ser conhecido por Serrinha, pois não era filho de ninguém, e sim daquela terra, daquela serra. Rapidamente fui iniciado nos valores cristãos, além de ter acesso as letras, coisa rara para um filho da terra. O padre que me adotou era conhecido por Janeiro, pois seu nome era José em terra de zé. Como chegastes em janeiro, em pleno dia de Reis, ganhou a vulgata! Aos sete anos, Padre Janeiro fora para o Ceará e me levou junto, este seria o início de uma vida sem limites territoriais, sem raizes profundas, emergia assim o que viria a ser, o poeta errante!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Exposições

Enquanto as horas passavam, ele refletia.
Pensava, lembrava: sentia. Um turbilhão de emoções fatigava sua carne e envelhecia seu espírito. Seria este o novo fardo de sua existência?

A fumaça sobre o rosto, dentro dum quarto à meia luz. Entre e durante cada baforada o velho poeta refletia. Tantos anos haviam se passado desde o exílio. Seus traços não diziam exatamente que essa lembrança lhe trazia prazer, mas denunciavam uma interrogação. Os olhos úmidos denunciavam emoção. Sentado a frente de sua escrivaninha com alguns de seus romances favoritos, ele lembrara como se fosse ontem acerca de tudo o que tivera que fazer pra sobreviver durante muito tempo, num lugar distante, estranho, no meio de gente estranha. As marcas em seu rosto, o cansaço em seus olhos e as noites em claro de hoje encontra sua gênese num passado não muito remoto. Quantas experiências ele passou, o quanto ele foi sagaz ao longo desse tempo? A sobrevivência o fizera conhecer aspectos de si que ele sequer imaginaria possuir. E hoje, nesta sexta-feira, ao se sentir sozinho mais uma vez lhe ocorrera a lembrança de uma noite, no exílio. Como ele chegou lá? Bem, isso é papo prum dia inteiro e não pretendo tocar neste assunto agora.

E assim, subitamente, lhe vem uma lembrança. Serei razoável: isso que chamo de lembrança o poeta o sabia muito bem que tinha um significado muito maior. Era um café, era noite. Ao fundo Coltrane, provavelmente o disco ‘África Brass’, ou seria seu clássico ‘Love Supreme’? Bem, ele sempre confundiu os nomes dos discos do Coltrane, até conhecê-los profundamente. O lugar estava cheio e misturavam-se no ambiente o sax deste músico com as dezenas de conversas paralelas circunscritas ao espaço comum. Gargalhadas, confissões, sussurros, atração. Ali, naquela noite, entre um gole e outro, entre uma baforada e outra, entre um olhar e outro, este homem solitário depois de umas noites dormindo na rua, que conseguira aos poucos se estabelecer neste novo mundo que a ele se apresentava, fora tragado numa curva do destino. E exatamente nesta noite que ele teria onde dormir, um lugar pra ficar, foi que mais uma vez ele dormiu fora. Mas aqui fora por opção. Bem, nem tanto. Ah, aquele olhar. Que mulher era aquela, ele pensava. Compartilhou seu olhar, sua bebida, e sem rodeios, seus lábios. Sem dizer muitas palavras, se entenderam. E noite foi longa, a lua testemunhou. O agora sôfrego poeta teve inspiração pra escrever durante semanas, até encontrá-la novamente. Sempre que pensava nela vinha o sax do Coltrane naqueles solos intermináveis que acompanhavam perfeitamente a maneira intensa na qual se entregavam ao sexo.

De repente o esporro de uma trovoada o desperta destas lembranças e de volta o traz para seu quarto. Era uma sexta chuvosa e fria, e agora novamente no seu presente, percebe que lágrimas escorrem pelo seu rosto e a saudade que lhe aperta o peito o faz ter idéias que ele não imaginaria que poderia ter, como, por exemplo, largar tudo e voltar pro exílio. Bem, ele pensa novamente, e de maneira racional tenta de toda forma contrapor este impulso instintivo de estar perto daquela mulher, e argumenta para si o quão absurda esta idéia é, pelo risco que nela há.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Incertezas

Meus pensamentos voam,
o tempo se esvairece,
o concreto é abstração,
ou presto atenção em vão?

Diferenças denotam similitudes,
palavras confundem-se com atitudes,
no esplendor do silêncio ouço um barulho,
é uma onda nefasta de incerta frequencia.

O tino indaga sobre procedimentos,
o ímpeto responde prontamente,
a prundência chega com acalentos.

O pisar não pode escapar dos trilhos,
estes que devem apontar o caminho
para o trem mover-se com ardor.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Eles: os ponteiros.
Contam nosso envelhecer.
A sangue frio, diga-se de passagem.

E pra piorar, a matéria é perecível a força irresistível do tempo.

Dito isso, que faremos?

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Soneto da Revolta

(Em reverência ao mestre cuíca)

Humanóides quando emputecidos
Cospem pro céu, xigam, praguejam!
Pra transmitir aos seres já idos,
A razão pela qual esbravejam!

Porém, conheço um camarada
Que nesses momentos, em vez do verbo
Dá nítida preferência a uma cagada
Dando turva voz a seu protesto!

Já dizia um velho ferrabrás:
Clareia o tom de sua revolta!
Em mundo de preconceito, melhor não faz..

Ao dar à luz tal infame reclamada
Esquece o barro, sejais moderno:
Prepare uma quente e gosmenta esporrada!