quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Antes de começarmos gostaria de falar algumas coisas:

Já faz algum tempo que queria escrever algo sobre o simples ato de "escrever" mas, faltava-me a inspiração para tal. Pois bem, tal inspiração surgiu a alguns dias atrás durante uma aula de África e gerou o texto que seguirá abaixo. Afinal, "escrever" sempre me pareceu um tema pertinente. Escrever é aquele ato simples que alegra os corações dos exílados... e por falar neles (as), os saudo! Parabéns aos exilados (as) - que completaram um ano -, continuando a escrever, a parir suas próprias idéias, para, quem sabe um dia, alcançar a derradeira paz de espírito. Vamos adiante...

Aqui deveria vir um título, ou não.

O turbilhão de águas volta a assolar minha mente. Chega do nada, sem avisar, como sempre faz. As águas gostam de fazer surpresa. Rapidamente me invadem, varrem, destroem meu espírito com toda sua força, suas cores, formas, cheiros, essências. Abstrações. Nada mais que isso.

Tão rápidas quanto vieram elas partem deixando para trás o terror de sua presença mas, ali em meio ao caos podemos ver emergir uma singela forma; as letras. Estão todas ali, solitárias e perdidas, molhadas e com medo. Ao passar vendo elas daquela forma não posso me furtar em ajudá-las, sempre ajudo, mas ainda não sei muito bem se por autruísmo ou por egoísmo mesmo.

Começo a juntá-las, agrupá-las, esquentá-las, amá-las... para que não se sintam mais sós. Elas me agradecem, ficam felizes, dançam de felicidade. Transam. Uma verdadeira orgia! Um puta bacanal! Uma sopa de letrinhas! Sublime!

Dessa linda dança-cópula-sopa nasce algo mágico, algo que é produzido pelas letras mas não pode ser explicado por elas. Algo que só o escritor sente, e sente apenas por um breve instante. Por isso mesmo escrevo esse texto... Todo escritor sabe que as águas (e a dança das letras) passam rápido. O que sobra de sua passagem, seu reflexo e sombra, é o que chamamos convencionalmente de poesia, mas essa também vai rápido se não for quase que imediatamente registrada perde sua graça, seu encanto, sua luz...
E enquanto ao lodo, ao entulho, as rochas, ao limo, ao mortos? E enquanto ao resto? O que acontece com ele? O resto é o que chamamos de literatura! E como é magnífica!

Esse texto foi inspirado no poema "O Guardador de Águas" de Manoel de Barros.

sábado, 17 de outubro de 2009

vomitaciones

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the glimpsy of my death ( o instante da minha morte) – salvador dalí
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só tenho vontade de escrever num estado explosivo, num clima de acerto de contas. hoje estou bem embriagada. as palavras me tomam, perdón.


- as transparências enganam.

- tudo está a um passo de entrar em erupção.


duas frases que ouvi hoje. não consigo me livrar delas. tenho lido bastante sobre surrealismo e não sei se conseguiria conviver com surrealistas. li que eles costumavam se reunir em torno de uma mesa e trocar maluquices. escrever sem freios, inventar e ressignificar palavras, pintar um mundo ao avesso. talvez ficasse quieta, só observando. ou participaria com aquele meu jeito de mediadora, que não sabe lidar muito bem com o silêncio e tenta ocupá-lo com algum comentário (de preferência um que provoque risadas). mas isso só aconteceria se estivesse embalada a boas doses de algo que afrouxasse os nervos. e você, a quantas anda de entrar em erupção? não pense que não sei que essa cara de muitos amigos é só paisagem. os cumprimentos nos corredores não passam de cordialidade. você queria explodir todo aquele prédio amarelo esquisito e talvez ir junto pelos ares. eu não te conheço, você não me conhece, mas fingimos que sim. ana embriagada está aí para misturar as coisas, fugir das linhas narrativas, viver a vida como um roteiro para uma peça de teatro que ainda está por vir, ou não.


para finalizar, um aperitivo da erudição de uma coroa burguesa que quase me fez vomitar lava sobre os pratos. o assunto rodeava as diferentes maneiras de se dizer uma mesma coisa. sete minutos de discussão: bidê, criado mudo e mesinha de cabeceira. ou seja: móvel que fica ao lado da cama, feito geralmente de madeira; serve principalmente como aparador de livros, garrafas d'água e celulares. segundo nossa digníssima dama da sociedade cacaumeneziana, quem fala "bidê" são os manézinhos catadores de berbigão, povinho sem cultura. nós, os bem nascidos, que tomamos café no iguatemi cinco vezes na semana, dizemos "mesinha de cabeceira". e criado mudo? coisa de classe média.
ai que nessas horas eu sinto na pele a dor e a delícia de estudar história.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Cortando o bolo, depois que apagaram a luz!

Uma coisa que faço quase sempre quando acesso nosso sítio é descer por entre os posts mais antigos. Faço isso no intuito de perceber se algum comentário novo fora feito ou até mesmo para reler algum desses posts e dar umas risadas (no caso dos mais antigos isso ocorre costumeiramente). Hoje ao realizar essa rotina, cheguei até o primeiro post e me dei conta de um acontecimento importante (é, sim!)! Vejam meus caros colegas, a primeira postagem data de 05 de setembro de 2008. É isso mesmo, pasmem! Nosso sítio já tem mais de um ano. Pensei: tecnicamente o primeiro post decente data de 07 de setembro, mas, de todo modo já se passou um ano e quase um mês.
Por uma iniciativa tomada por Paula Tejano, Poeta do Exílio e Zé do Trilho, o letras no exílio emergia online naquele glorioso dia 05 de setembro, e, ao longo destes 13 meses, outros talentosos colegas se juntaram a tríade inicial e hoje formam um time de colaboradores com algo em torno de 13 membros. Este blog já passou por várias fases, fases com alta produtividade, fases de escassez, fases de chegada de novos membros, fases de saídas. E para cada sopro de imaginação um personagem diferente, um mundo particular, múltiplas temporalidades e múltiplos também são os espaços em que estão circunscritos estas várias histórias. Histórias curtas, longas, em prosa, em verso. Houve sonetos, cordéis, poemas sem formas, com formas, mares, terras, perigos, aventuras, alegrias e tristezas. Cada retrato pintado com palavras e cores variáveis de um canto físico diferente que nos remetia para um canto fantasioso, distante, mais próximo de nós que imaginávamos.
Vida longa ao nosso exílio!