domingo, 30 de agosto de 2009

Tango noturno

Peguei-me a ouvir um tango um dia desses, confesso que tal ritmo faz minhas veias pulsarem com mais vigor. Lamento que não tenha aprendido, quando ainda jovem, a emaranhar minhas pernas as de um macho ao som de um bom tango; refiro-me à dança, logicamente. Sempre fui fascinada por ela, porém quando moça preocupava-me em me emaranhar em pernas de uma outra forma, e sempre fui boa nisso.


Agora reservo-me às lembranças da juventude, e aos sonhos que por vezes permito-me ter. Já que a dança, esta já não dialoga mais com meus joelhos. Desculpe-me o saudosismo, garanto-lhes que não sou uma velha rabugenta que culpa a juventude dos outros pela ausência da sua. O fato é que a juventude está no espírito e não nos joelhos, desta forma julgo-me jovem; mesmo que as linhas de minhas mãos e os traços do meu rosto insistam em negar tal sentimento.


Contar-vos-ei minha história, mas não esta noite. Esta noite entrego-me ao tango.

sábado, 22 de agosto de 2009

Do sonhar nas nuvens

N’outrora, naquela Lisboa de ultramar,
Dentro de uma taberna qualquer:
Vi Bocage, seus versos a declamar,
Face aos olhos d’uma formosura de mulher!

E Camões? Onde havia de estar?
Pois também o vi, ó gigante do versejar!
Sua barba a coçar: bendita a força que o fez!
O que fez foi celebrar, foi avisar seus reis.

E com aquele que dizia,
Que o poeta finge “descaradamente”,
Aprendi que possível era,
Fazer versos como quem sente.

Tais foram os poetas:
Delirantes, beberrões e amantes;
Que fizeram de sinapses incertas,
Versos não menos palpitantes!

Mas esta viagem havia de acabar:
No fundo, no fundo eu sabia;
Pois na alvorada, aqui é hora de acordar.
E lá no sonho, bem... no sonho não me parecia.

22/08/09

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Chegada de Paula Tejano Ao Inferno


(Em homenagem à José Pacheco)


Sonhei que fui ao Inferno
seduzida pelo Diabo,
Fui muito bem recebida
vinhos e pães (quem diria!) bebida.


Velhos tragavam seus cigarros,
virgens ninfetas desfilavam como em passarelas
suicidas vagavam entre as caldeiras...
Entre chamas, nos bares e nas casas: escarradeiras!


Reduto de todo tipo de gente, má.
Quando em Voltaire acordei
Parecia ainda estar lá...




terça-feira, 18 de agosto de 2009

O TÉDIO


O tédio. O cansaço de não fazer nada. Mas, o que é o nada? És esta sempre uma boa pergunta. Em sua maioria as respostas mais prudentes a esses tipos de questionamentos são as que vem do interior de cada indivíduo, sendo a sua compreensão algo muito particular e peculiar, baseada na experiência de cada um. Tal entendimento é intrínseco, e a tentativa de exprimi-lo sob qualquer forma (palavras, gestos, expressões, pensamentos, etc) é falha. Falha porque transmuta. E na ousadia de buscar explicá-lo falamos de uma coisa a qual já não corresponde mais ao ponto pleno de compreensão, e sim a um entendimento contaminado por nossas experiências e visões de mundo. Estamos sujeitos sempre ao olhar que disparamos sobre os objetos. O padrão é uma imposição dura e cruel, mas precisamos dele. A essência é uma palavra a qual se tornou um padrão para descrevermos algo puro, uma origem primeira que carrega um sentido único sobre cada coisa. O nada e o vazio. Coisas as quais podem parecer muito semelhantes entre si, mas de um abismo gigantesco entre elas. São os sinônimos também padrões para ousar compreender a essência das coisas. Porém o nada é o nada e o vazio o vazio. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Figuras de linguagem, a gramática, a linguagem escrita e falada em si, constituem uma das formas de comunicação mais comuns utilizada entre os seres-humanos. Entretanto, mesmo que as pessoas falem da mesma coisa, é muito provável que possam estar falando de coisas muito diferentes, uma vez que cada uma delas tem a sua visão sobre determinados objetos. Neste sentido a lei, a imposição de padrões, condutas, é uma violação gravíssima contra o indivíduo! Talvez muitos(as) digam que precisamos das leis, padrões, etc. porque não tentaram viver de outro jeito, e acreditem que realmente seja possível um entendimento pleno. Muito provavelmente também graças a visão empregada para a definição do conceito de sociedade utilizado pelas pessoas. Em tal concepção a integridade do indivíduo estará muitas vezes posta em cheque.


O tédio. Sentimento de estar farto sobre determinada coisa. Coisa. Talvez a palavra mais abrangente e libertadora da humanidade. Pois coisa pode ter uma gama talvez infinita de significados.


O tédio. Queria fazer alguma coisa, mas não encontro nada pra fazer. Estou, portanto, entediada. Possivelmente não encontro nada pra fazer, porque nada é muito amplo. Existem muitas coisas pra fazer. E talvez eu queira fazer alguma coisa diferente das que sempre faço, mas não sei o que. Daí uma possível explicação para o fato de estar entediada. Todavia, o indício da resposta mais coerente para o porquê esteja entediada seja: “eu não sei”.


O tédio. Não fosse ele nada disso teria sido escrito. Mas...o que é o nada!

domingo, 9 de agosto de 2009

das cenas que mudam um domingo:

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mariana rotili-porto alegre-julho-2009
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dois artistas em frente ao mercado municipal de porto alegre: o morador de rua e o violinista.
apesar de a 'marvada' fazer parte da cena, ainda acredito que a culpa é da música.