sábado, 28 de maio de 2011

Salve Salve, povo do exílio.

Faz um bom tempo que não posto nada por aqui, não que eu tenho ficado esse tempo todo sem escrever mas às vezes me esqueço que existem espaços tão acolhedores, como este, para que possamos compartilhar os mesmos.

Antes de mais nada gostaria de saudar dois novos escritores que estão postando textos fantásticos nesse blog: Ana T. e Cevador de Solidões! Sejam muito bem vindos! Fiquei abismado com a capacidade de ambos, parabéns! Saudações também ao Lucas que continua bom como poucos são.

Em segundo lugar gostaria de falar um pouco de como esse conto, que irei postar em seguida, me surgiu. Muito dele é baseado em um elemento daquilo que chamamos de "natureza" que sempre me cativou: o mar. Adoro o mar. Olhar o mar, cheirar o mar, sentir o mar. Acho que não conseguiria viver muito longe dele (nunca cheguei a arriscar). Sempre quis passar alguns dias em alto mar, em algum navio pesqueiro, à léguas e léguas das turbulentas cidades. Espero algum dia ainda fazer isso. Como gosto bastante do mar também admiro a literatura sobre esse, e foi a partir de várias dessas histórias, que fui conhecendo ao longo da vida, que escrevi este conto.

Esse conto também tem algo inédito no meu próprio processo de escrita. Normalmente, quando eu escrevo uma história eu já sei o final dela. Na verdade muitas de minhas histórias nascem à partir do final. Isso acontece com vocês também? Escrevo para chegar ao final, para acabar com ela. Dou vida a fantasia em forma de palavras mesmo sabendo, de antemão, quando, como e onde a história irá morrer. Um pouco cruel, eu sei, mas é a verdade. Com esse texto foi diferente. Deixei ele me levar, o que é claramente, pelo menos para mim, uma forte alusão ao mar em si. Só pensei no começo, o resto foi aparecendo aos poucos.

Como o conto ficou muito longo eu o dividi em partes que irei postar esporadicamente. Também não consegui dar um título para a história por isso cada parte terá seu próprio subtítulo. Espero contar com a ajuda de vocês para dar um título geral. No mais, espero que gostem.

Ulisses - parte I

Dizem que a vida de um marinheiro é boa. Isso é mentira. A não ser que você considere uma boa vida, as léguas e léguas do mar salgado, a sujeira, o escorbuto, o sol escaldante na nuca, a falta de privacidade e o maldito canto, ou melhor, ruído, das gaivotas. Nesses casos, tudo bem, temos uma boa vida mas, pessoalmente arrisco dizer que não. Não levamos uma boa vida não mas, afinal, quem é que leva? Sendo assim devo dizer que após longos 45 anos de vida, dos quais 33 pertencem ao mar, sou apaixonado pelo que faço, apaixonado pelo maldito oceano, e pelas malditas tarefas que todo marinheiro faz.

Certo dia, Arthur (o mais jovem e belo da atual tripulação) me fez uma pergunta enquanto esfregávamos o convés:

- Hey, Jack. O que é para você ser um pirata?

- O que garoto?

- O que é ser um pirata, para você.

- Que diabos é isso?!

- É o que somos não é? Pilhamos, atacamos pequenos vilarejos, matamos pessoas, estupramos as mulheres (e os homens), levamos seus pertences como troféu, comemos e bebemos toda sua bebida. É isso que fazemos, é isso que somos; piratas!

- Tudo bem garoto, essa parte eu entendi, só não entendo de onde você tirou essa palavra pirata?

- É como todos nos chamam, pelas cidades e pequenas ilhas que aportamos. Vem do grego, se não me engano. Significa "assaltante", ou algo semelhante a isso. Para mim é disso que mais gosto, o medo que colocamos no coração das pessoas quando atracamos em seus portos, o pânico que se espalha pela cidade ao verem nossas bandeiras içadas vindo do horizonte...

- Cale-se garoto! Já não me basta a dor de cabeça do rum da noite passada ainda vem você me falando essas coisas. Olhe bem Arthur, os gregos não sabem de nada, são um bando de lunáticos, pelo menos os de hoje, diferente dos de antigamente, aqueles lá do tempo do Grande Ulisses, o primeiro de nós, marinheiros, aqueles sim eram dignos de honra, os de hoje não valem nada, mataria todos eles se pudesse.

- Jack, você sabe muito bem que Ulisses não existiu, não é mesmo?

***

Acordou de súbito. Teto estranho, cheiro estranho, era um cheiro bom, diferente do porão onde os marujos costumavam dormir. A cabeça estava doendo muito, a mão trêmula notou que ela estava enfaixada. Alguma coisa o havia acertado. Foi então que notou que Zurique, o banto, estava do seu lado. Assustou-se e também, não tinha como ser diferente, Zurique era horrível. Não bastava ser negro ainda tinha uma enorme queimadura no meio da face. Não gostava nem um pouco dos negros, foram eles que o obrigaram a seguir por essa vida de fora da lei já que sempre pegavam, ou melhor, roubavam os empregos dos verdadeiros ingleses – Arthur pensava enquanto Zurique o olhava.

- Você teve sorte, pequenino, se eu não tivesse interferido o velho Jack teria te acertado com o esfregão até você morrer. Você deve ter dito algo que o ofendeu muito, afinal, ele não costuma ser assim, não com a tripulação. O que você disse a ele, garotinho?

Zurique tinha uma voz rouca e olhos tão profundos quanto uma tempestade. Era temido por todos da tripulação, mas era braço direito de nosso capitão. Dizem às histórias que já tinha sido rei, se é que podemos dizer que havia reis na África, depois foi um escravo pois seu reino fora derrotado. Foi comprado por um francês, um homem de negócios, que estava apostando no ramo dos perfumes, o que era muito sensato de sua parte, minha mãe sempre me disse que Paris fede a merda e a peixe por todos os cantos. Zurique não suportou aquela vida. Matou seu amo, a família do mesmo, e logo mais estaria se alistando na tripulação do demon fog. Sem falar que corriam os boatos pela tripulação que ele era um mandingo, uma espécie de feiticeiro dos negros, não que eu acredite nessas coisas mas vai saber, sabe como eles são, povo traiçoeiro. Nota-se que era um sujeito assustador. De tanto medo acabei não respondendo a pergunta dele. Houve silêncio. Então ele disse.

- Se não vai contar a mim então terá que falar com Roger.

continua...

4 comentários:

posseiro das palavras disse...

não sei porque a fonte mudou. Não estou conseguindo concertar e estou com sono. Paciência, vai assim mesmo.

Poeta do Exílio disse...

Chico, seu fanfarrão!
Espero que vc não faça como eu: "mentir" pra galera dizendo que a história continua, quando no seu íntimo sabia que não teria paciência pra continuá-la!
Pois, esse início do conto tá bem articulado! Deixou-me com desejo de continuar a leitura! Se vc (realmente) tiver a continuação dessa história, tenta postá-la de maneira regular.
Os demais exilados concordam com essa sugestão?

Ana T. disse...

Concordamos, sim!

"Não levamos uma boa vida não mas, afinal, quem é que leva?"

E muito obrigada pelo elogio ((: Fiquei lisonjeada, afinal escreves muitíssimo bem.
E poste o resto!

Cevador de solidões disse...

Grande camarada Chico. Um elogio vindo de ti me deixa muy contento. Assim como a camarada Ana Terra e o camarada Neves, espero mais e mais capítulos desse belo texto.