sábado, 19 de setembro de 2009


Humanum Desejus Mortalis

Era uma vez um pequeno moço chamado miguel. Miguel havia nascido no interior desse imenso Brasil, numa casa de campo,c om família campesina, com cachorro puguento, e com cheiro de terra.Desde muleque sempre fora muito afeito da natureza. Os campos, insetos, bois, riachos, cachoeiras... até mesmo o estrume dispertava interesse no garoto. Mas nada na natureza podia ser mais grandioso e fascinante que a Árvore que crescia em seu jardim.

O pai, Bento, dizia que aquela Árvore estava por ali muito antes desse mesmo nascer! "Aquela Árvore tem muita história para contar meu filho" dizia o velho Bento enquanto enrolava mais um palheiro - seu maior prazer em vida e também a causa de sua morte.

Desde então Miguel dedicava grande parte de seu tempo a deitar sob a sombra da Árvore e contar-lhe suas histórias. Contava a Árvore de tudo: da vez em que descobriu a cachoeira secreta, da vez em deu uma surra em Tulio por causa de Ritinha, da primeira vez que teve de ordenha a Anastácia, da vez em que pegou a arma de seu pai escondida, da vez em que junto aos outros garotos da redondeza espiara as meninas a banharem-se no riacho, da vez em que capturou Rogério (seu amado passarinho)... entre tantas outras histórias de meninice
mas, algo continuava a pertubar o garoto. Ao contrário do que seu pai dissera, sua amiga, dona Árvore, por mais que fosse uma ótima confidente tinha um defeito: não dava um pio!

Miguel cresceu, foi estudar direito no Rio de Janeiro, casou, teve quatro filhos - as mais novas eram gêmeas. Só voltou mesmo aquele maldito fim de mundo de sua infância quando recebeu a notícia de que seu pai falecera. O tabaco o matará. Seu Bento nunca deixou de fumar, velho teimoso, dizem até por ai que ele morreu com um sorrisso no rosto, enquanto enrolava um palheiro, é claro. Convicto de sua filosofia, grande homem - Miguel pensava. Mas agora que ele se fora para o grande ceu dos fumantes a velha fazenda ficara para seu único filho - sua mãe, Maria, esse nunca chegou a ver, só mesmo em foto. Morrera ao lhe conceder a vida.

Foi, em um dia ensolarado, sozinho até a fazenda do pai. Pensava no caminho que ao invés de vende-lá poderia fazer uma chácara agradável para a família, as meninas iriam adorar! Quando chegou percebeu que tudo estava exatamente como era! Os móveis, o chão, o velho fogão as rachaduras no teto, as inflitrações na parede, tudo! O tempo não surtia efeito naquele lugar ou pelo menos passava de modo diferente. Quando chegou ao quintal teve a maior das surpresas... dona Árvore ainda estava lá!

Miguel foi tomado por uma alegria de criança em dia de aniversário, foi correndo dar um abraço em sua velha amiga. Deitou-se no chão como costumava fazer e começou a contar-lhe as histórias de sua vida no Rio de Janeiro, já ia fazer quase 25 anos que fora embora de casa. Passou o dia a falar, um tagarela de carteirinha, nem o Sol aguentou tanto papo e logo se retirou mas dona Árvore não... ficou ali, firme e forte, a escutar.

Antes de retirar-se para dormir Miguel fez uma pergunta que sempre quis ter feito:
"Dona Árvore, por que você nunca me responde?"
Mas a ÁRVORE nada respondeu...
"Entendo." Ficou cabisbaixo e foi se deitar...

Na manhã seguinte preparou seu café ligou para a esposa ,disse que estaria de volta ao anoitecer. Foi até o antigo galpão do pai e pegou a enferrujada motoserra. Foi até a Árvore e, dessa vez, sem dar nenhuma explicação à cortou por inteiro. Enquanto a gigante despencava ele escutou uma voz que dizia:

"Humano tolo! Será que não entende! Árvores não falam!!!"

Queria ele ter achado que essa fora uma resposta da Árvore, mas não era, era apenas o seu próprio pensamento a reverberar no crânio.

"Eu sei, querida amiga. Não espero que um dia você entenda esse meu ato. Eu, apenas, precisava fazer isso."

Mas dessa vez não falou para a Árvore, falou para si.

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