terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Do Julgamento

Solitária, a pobre alma se aquece;
Na noite vazia, tem seu maior desafio:
Proteger-se irrequieta do cortante frio,
E esquivar-se de tudo que à sua carne fenece;

Longas horas até surgir alvorada,
Absorto: seu nariz é uma pedra gelada.
Queda-se a pensar no porquê de estar ali:
Por que seu mundo, ao revés, lhe sorri.

Após o grande julgamento, tem seu veredicto:
Se das vicissitudes oriundas dessa vida tesa,
É inocente, e por um segundo fica em leve estado;

Mas sobre ter desperdiçado seu tempo,
Neste caso inexiste resquício de defesa:
A leveza se esvai e não se faz de rogado: é culpado.

Inspirada no filme "Papillon"

http://pt.wikipedia.org/wiki/Papillon

Um comentário:

Aprendiz de Pastor disse...

Filmes tematizando a vida dentro de uma prisão sempre me despertam uma sensação bastante particular: uma satisfação e até um alívio por ser, neste instante, livre para ir aonde minhas pernas puderem me levar e poder deitar em um pasto a fim de contemplar o céu azul, o sopro do vento, os raios do sol. Lendo este poema sinto algo parecido, por me ver diante de alguém em sofrimento. Sinto o frio cortante e o nariz gelado no outro e agradeço por não estar passando pelo que este está, e valorizo o momento que estou vivendo AGORA. Procuro não desperdiçar meu tempo.