sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ossos do Ofício

Aqui estou. Deitado, nu, papel e caneta em mãos, confuso. Sinto-me inspirado, as águas voltaram mas dessa vez, turvas demais. A caneta falha... súbito desespero... ainda bem, alívio, foi só um alarme falso. Divido meu quente leito nessa noite solitária com o senhor Dostoiévski embora deva confessar que sou muito mais uma bela dama mas, as noites solitárias são assim mesmo: sem nenhuma dama, quanto mais uma bela. Álem do mais, devo até ser grato, mas vale um grande russo como companheiro do que um best-seller qualquer.

O problema comigo não é escrever, isso sei fazer até que bem - pelo menos é o que acho - , o verdadeiro problema é versar. Hoje cedo li um poema de Pessoa, magnífico. Tive vontade de fazer algo semelhante e aqui estou... deitado, nu, papel e caneta em mãos, e contudo, mais confuso do que nunca.

Acho que gosto do seguro terreno da prosa, o qual conheço muito bem desde os primeiros anos de escola. A poesia é como o estrangeiro, o diferente, o volátil, o mutável, me assusta. Só em pensar nas rimas, na métrica, na sintaxe, no vasto vocabulário de palavras... recuo covardimente e aqui estou, deitado, nu, papel e caneta em mãos e agora com a certeza de que não consegui escrever um poema e sim uma prosa.

Talvez eu seja assim mesmo, daquele tipo de Pessoa que dá os primeiros passos sem nunca vislumbrar onde o fim do caminho levará. Talvez seja o tipo de Pessoa que repentinamente é assolado por um avalanche de pensamentos, sentimentos, desejos, mas que logo passam e desaparecem em questão de poucos minutos. Só hipótesis. Tudo o que sei é que ao tentar versar acabei escrevendo repentinamente uma prosa. De repente minha próxima prosa pode vir a ser uma poesia, quem sabe... texto pronto. Aqui estou, deitado, nu, caneta e papel em mãos, e é claro, extremamente feliz.

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