quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Introdução à vertigem


O primeiro poema do ano nasceu do sono. Nós dois ainda quentes da cama quando uma fresta fina saída da rua trouxe luz para o quarto e ordenou: pegue papel e caneta, ou seqüestrarei sua inspiração. Ele obedeceu. Eu continuei achando que poesia é difícil de alcançar. Uma imprecisão, mesmo que minúscula, carrega tudo para o brega. Terreno ensaboado esse. O que mais vejo é gente escorregando. Tudo ficou ainda mais complicado ao observá-lo tecendo seu poema. Deixa ir, pensei. Vou é ficar quieta, olhando de fora. Ele sussurrava letrinhas baixas à procura da palavra ideal. Descobri que é um artesão das sílabas. A seu pedido, guardei na gaveta por quatro dias, e hoje minha relação com o resultado mudou. Já vi detalhes que o frescor do momento roubou, a cegueira do encanto escondeu. Porém, escrito a escrito, continuo cultivando a sensação de mundo preenchido que cada poema oferece.


Crepúsculo da aurora enfraquecida

O peso do mundo em suas costas não lhe permitia levantar
Prostrada ante a aurora turva da luminária enfraquecida, pensava:
O dia está belo, quero estar lá

E de repente a janela se abriu
Uma profusão de raios luminosos revirou toda a bagunça do quarto
E esse foi o crepúsculo da aurora enfraquecida

E também foi o despertar de um coração que ao se desvencilhar das soturnas amarras
Rodopiou pela casa e foi ser feliz por aí...


Poeta do Exílio
Janeiro de 2010


osgemeos/vertigem

Um comentário:

posseiro das palavras disse...

Esse é, de fato, um dos poemas mais belos do poeta do exílio. Me delicio com ele a cada vez que leio.