segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Armando Pinto e o Poeta

Viajava o poeta pelo mundo certa vez, quando ao caminhar à beira de uma praia qualquer, num lugar distante, encontrou os manuscritos do venturoso contra-mestre Armando Pinto. Diferente de como se podia esperar, em vez dum pergaminho enrolado dentro duma garrafa esverdeada pela ação do mar e do tempo, nosso viajante espantado ficou ao se deparar com uma caixa velha, no formato atual de uma caixa de cerveja (feita de madeira), para 24 unidades, preenchida com o mesmo número de garrafas. Cada uma contendo um pergaminho. Todas elas vedadas com rolhas. E foi assim que a história deste tal, um conhecido ferrabrás de outrora, chegou à contemporaneidade. De forma fragmentada, é bom ressaltar.
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O poeta se descabelou tentando montar o quebra-cabeça. Acostumado com o sedentarismo desenvolvido ao longo de décadas frente a sua escrivaninha sem vergonha, ele não imaginaria que sua busca por aventuras fosse lhe proporcionar tamanha dose de prazer. Enquanto ele assistia a dois nativos exercerem o ofício de carregadores de caixa (tarefa a qual se mostraram grandes especialistas após receberem um pagamento muquirana do poeta), uma ansiedade lhe percorria a região abdominal, simulando inclusive uma sensação familiar: um desejo de ir ao banheiro, fazer...bem, defecar. Ele tinha uma leve intuição de que havia descoberto coisas valiosas.
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O resumo da ópera foi o descrito a seguir: as 24 páginas reunidas formavam um diário de viagem. E, depois de muito, muitíssimo tempo de análise, não foi difícil perceber que havia algumas pistas entre tais rabiscos. Depois de misturar alguns elementos em uma bebida esquisita, que praticamente arriou o pensamento lírico do nosso anti-herói, eis que finalmente foi possível perceber o ponto nevrálgico do textículo que se anunciava. E, foi assim, devagar, devagarzinho, que o poeta foi descobrindo a figura (esta sim) heróica do grande contra-mestre, destemido dos mares, rei do convés, o lusitano Armando Pinto, que para os íntimos atendia por seu nome completo: Armando Pinto de Madeira.
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Era nas noites de sexta-feira, bebedeira no navio, que esse português sem bigode fazia o queixo de marujo calejado cair, na semanal competição de metragem fálica que muito alterava os ânimos a bordo! Ó, saudoso português! Que num dia de tempestade pensava que o mundo ia acabar e escreveu o que pode, e tudo ao mar arremessou!
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Este prólogo desejava contar,
Como possível foi, desvendar...
A partir de migalhas de pensamento
Que há muito, dentro de garrafas,
Atravessaram o mundo,
E, assim, cortaram o tempo.

2 comentários:

Luccas N. Stangler disse...

Belo!

Felício Freire disse...

Já estava na hora.
E, como de praxe, iniciou com muita destreza.
Fico na expectativa de conhecer as aventuras deste errante putanheiro lusitano.