sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Uma das janelas

Um dia desses abri uma das janelas da casa e vi lá, ali, logo adiante, onde havia o dito sol radiente, o cinza nos mais variados tons. O vento e o frio ocupam o vazio de montanhas de areia cinza-claro; e ao fundo o grito do Desesperado!

- Nãooooooooooooooo!

Logo sobe um calafrio pela espinha. A noite aqui agora parece eterna. A luz já não mais brilha além do olho em chamas de ganância. Chamamos a esses Iluminados Olhos. O desatento pode vir a concebê-los como amáveis, exaltado diante da beleza do brilho daqueles olhos, Iluminados Olhos, tão logo cegos acabarão, mas não antes de ver o terror do asco de si mesmo quando de súbito se mira sendo devorado, mordida após mordida, dentada após dentada, dilacerando a carne! Parte já está só no osso, onde a dor é uma das mais terríveis e angustiantes, como sentir os ossos sendo serrados, roídos por ratazanas desdentadas, - e o pior, chega à beira de um prazer estranho - e assim, também é o asco de ver-se literalmente despedaçado! Mas, as veias ainda pulsam junto ao sangue a escorrer, espirrar e enfim jorrar! A dor agora já não é mais dor! É uma transmutação somada com o prazer, um prazer estranho a essa sociedade e seus preconceitos, a ignorar o prazer da dor e a dor do prazer de morrer, o prazer de sentir a larva se banquetear da sua carne exposta a quem quiser ver o que - do rosto as entranhas - o apolíneo burguês fez parecer seu ideal, esquecendo, pois, da podridão de que é feito o ser - humano. Eis aqui o limite explícito da aparência.

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