sábado, 11 de dezembro de 2010

Memórias de um preso

Quem sou? De onde falo? Isto não importa, seguindo a moral imposta pela sociedade, sou um desqualificado, um ser à margem da sociedade, um bandido, um preso. Resumindo, uma pessoa sem espaço, sem tempo para o tempo.
Esta seria a visão que a sociedade tem de um preso, mas calma! Eu sou um preso, e não me considero nada disso que coloquei acima. Parece tudo muito confuso, então explicarei a quem estiver lendo, o porquê de minha prisão.
Bem, sinto-me perdido no tempo, a única informação que tenho, é que estou em uma quinta-feira, e pela posição de sol, é um final de tarde. Escrevo ao som do mar em uma prisão de militares. Estou no terceiro dia de reclusão, acordo todos os dias ao som de bumbos, trompetes, ou seja, minha cela fica ao lado da concentração da banda militar. A rotina é cruel, olhar fixamente as paredes de uma sala pequena, é de se levar a loucura. A sorte é que tenho um livro a mão, algumas folhas e uma caneta. A comunicação que tenho, além do "Polícia" que me traz comida, é somente com os meus pensamentos. Talvez faça mais sentido o motivo de alguns detentos tirarem a vida, com esta solidão implacável que assola horas e mais horas. Não que eu tenha pensando em me matar, entretanto, a situação é desesperadora. Neste meio tempo, descobri que não era somente eu que estava preso, quando vi o ambiente em minha volta, os alunos e a própria guarnição me atendendo, via em seus rostos uma prisão psicológica, fruto do militarismo e sua lavagem cerebral.
No meu primeiro dia que eu tive direito ao banho de sol, deparei-me com a realidade do que é liberdade. O militar perguntou-me: "Preparado pro banho de sol?" Ele estava ali por obrigação, sentia em seus olhos a impaciência de empregado. Então simplesmente respondi, "Sim, estamos preparados". Aquilo de derta forma era confortante, a minha prisão física não me afetava tanto, se comparado a prisão mental do meu colega de armas. Assim meu dia passava, tomando banhos demorados, pois o tempo embaixo da água parecia passar mais rápido. Esperava o almoço anciosamente, pois, após a refeição, o sono batia, e assim dormia para o tempo acelerar.
Esqueci de explicar o porquê de estar aqui. Simplesmente não cumpri ordens de um suposto superior hierárquico, o que me condicionou a pena de alguns dias de cadeia. Justo ou não, nem um ser humano de bem, eu desejo que passe por isso. A minha sorte foi uma caneta, um livro e umas folhas para o meu passatempo, caso contrário, sabe-se lá onde eu estaria.
TOA
Quinta-Feira, Junho de 2010

2 comentários:

Luccas N. Stangler disse...

E não é que o sujeito resolveu mostrar o que realmente sabe fazer? Seu catarina!

Poeta do Exílio disse...

Eles não desconfiaram que vc poderia usar sua caneta para fugir dali? Foi o que acabou acontecendo - mesmo que só por alguns instantes.