sexta-feira, 4 de março de 2011

Pedalando no páramo

       Já é praxe, eu pensava. Introduzo o parágrafo sendo alguém, finalizo-o sendo outro. Durante o momento em que sou linha e costuro no tecido escolhidas palavras para acrescer aos meus internos registros, milhares de sentimentos ecoam em mim de forma revoltante. Querem sair, agir, modificar tudo que um dia fui e o que pretendo ser. São sentimentos que continuo sendo incapaz de traduzir - quando isso acontecer, expulsá-los-ei de mim e desabafarei: ajam! Foi quando, irritado com os borrões no papel e na vida, rapidamente levantei. Indo em direção a janela, meu olhar foi desviado ao espelho e por um breve momento analisei-me. Minha mente estava inquieta. Debrucei-me no para-peito e meus olhos foram fechados pela leve e intensa brisa que entranhava não só em minha casa como em mim. Minha casca, definitivamente, discrepava de minha essência. Isso angustiava-me. “A resposta é você! É você, meu caro!” Quando abri os olhos, ainda pude avistar o homem que gritava pedalando sua bicicleta no final da rua. Ele ainda repetiu, em meio a risadas “É você!”. E, sem mostrar o rosto, se foi. Voltei-me ao espelho e percebi que eu poderia ser quem eu quisesse, desde que fosse.

2 comentários:

Luccas N. Stangler disse...

Uma grande estréia aqui no blog - agora como exilada!

Poeta do Exílio disse...

Sim! Chegou 'chegando'! :)