domingo, 24 de fevereiro de 2013

Alguma inquietude pela manhã


Uma tarde de segunda-feira
deve sempre se configurar na neblina
Hoje chove e no centro da cidade nada se enxerga a não ser a ausência de tempo de todos
uma mulher atravessa a rua sem pressa seu olhar me atravessa
aquela mulher com olhos fundos, fundos de vida, um vácuo na neblina
e eu assustada com aquele personagem
corte no asfalto
pausa no tempo
eu molhada, talvez atordoada
a mulher atravessa a rua como um campo de batalha calmamente envolta a sua capa, suas olheiras e um pouco de rancor, expressão daqueles que exalam em suas peles uma maturidade saturada, talvez rachaduras ou dobras do devir
não conheci aquela mulher mais do que três segundos cristalizados em minhas retinas
seus fugidios movimentos tão citadinos, eu tão estrangeira...
Não era fotografia, era gráfico, tinha sensibilidade, mas não se eternizou,
a não ser em minha memória meio cinema, arte cidade... Ou Godard em dias cinza.

Este poema foi escrito por "Nas Moradas do Desassossego".

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