sábado, 11 de junho de 2011

O Vermelho

O vermelho. Vermelho. Morango. Rosas. Fogo, pétalas, sangue. Ouço o canto dos pássaros que dividem espaços com a sinfonia dos veículos na rua da cidade. O bater do vento sobre as árvores; e ao farfalhar as folhas caem. As pétalas caem; vermelhas. O céu azul; agora coberto de cinza. O agonizante cinza que paira por vossas cabeças sedentas de porquês. Um dia houve paz? Concentração. Meditação. Ouço agora o coração batendo bobeando o sangue pro corpo inteiro. Tum tum tum.O sangue vermelho. Vermelho. Vozes de protestos. Banhos de sangue. Mas sei que por detrás das nuvens e sua escuridão reluz a grande bola de fogo na abóboda azul. Além das nuvens, além das tempestades, além da escuridão e toda premissa tempestiva de desesperança, há um céu azul! Azul. Agora sinto o cheiro. O cheiro provindo daquele jardim, das pétalas de milhares de flores que circundam as crianças. As crianças que inda correm sem pressa ou compromisso, desconhecendo tudo e nada. Nos sorrisos insisto a felicidade que muitas vezes se quer arrisco. Na boca agora o gosto, o paladar, o sabor do canto de um sonhador. E se disso tudo nada tiro; um amor, uma flor, o prazer de viver a vida - simples como ela é - não como o bicho “homem” quer; o prazer da água fresca a boca a escorrer pelos lábios e logo ao lado, ali, um colibri! que mesmo sem dentes com o bico me sorri! Lembra-me de tudo o quanto matamos, dia após dia, vidas perdidas, controladas, programadas e quando tirarmos nossas roupas, máscaras, personagens, essência não haverá senão o reflexo no espelho - usando o tato as pontas dos dedos se aproximam a tocar o espelho; imagem e reflexo se encontram; tocam-se, mas nada sentem como milhares de corações de pessoas robotizadas - do projeto humano, ainda em barro, ele grita “quero viver! Quero viver” e do outro lado do espelho o humano cansado chora e desmonta, balbucia, tenta gritar e não consegue e de sua boca jaz a desesperança de nossos tempos e grita pra si “quero morrer, quero morrer”, mas o som que sai morre no choro e a concentração me volta. Do alto morro volto a usar a visão. Agora abro olho. O pensamento se foi. Um pouco de paz chegou. Findo agora o esforço de não pensar e em jejum o fiz e disso tudo que corri, hoje terá um nome, de sentido que se esvai ao começar do amanhã e amanhã este nome outra coisa poder-se-á, mas hoje o nome disso é vermelho.