quarta-feira, 15 de junho de 2011

Quem colírio não tem



- Jesus!?
- Diga
- Você tem colírio?
- Não (proferido com um ar severo)... mas, tenho esses óculos escuros aqui! Óculos escuros do Jesus, o único onde através da luz você enxerga o paraíso! Por apenas R$ 130 e 15,00 terços!

Em algum boteco no Brasil...

A baforada saiu como a de um toro, embora, desta vez não expressasse um ar altivo, bracejador, mas apenas uma baforada de tédio do saudoso Juca, enquanto este mastigava o arroz, o feijão e um pedaço de bife de uma garfada qual recém abocanhara. O prato estava numa bancada de madeira maciça. Bem a sua frente a visão de Juca lhe mostrava o dono bar, uma estante com bebidas, 5 geladeiras de cerveja, ervas em metro, a chapa, o chapeiro e o Chapeleiro. A comida ainda não estava bem pastosa em sua boca, dando ainda pra sentir a trituração de algum grão que perdia a casca para os dentes quando “Diachos!!! – falava consigo mesmo – agora esses desgraçados usam qualquer imagem na TV pra maior vender! De Jesus a Che Guevara, passando pelo Lula – na campanha para uma clínica de cirurgias estéticas através de células tronco, as mesmas células que lhe possibilitaram ter o dedo perdido de volta (isso abalou um pouco a sua identidade de começo, mas depois...), porém com isso acabou perdendo a sua aposentadoria por invalidez, mas ainda tinha a de presidente da república – indo até Sócrates (o atual técnico de futebol da seleção Cubana, campeã da última edição da Copa do Mundo) fazendo comercial de....ora essas, só poderia ser de Rum né; e também tem uma propaganda com a Frida kahlo, também de uma clínica de estética, mas esta de depilações com raios gama!”

- Ainda tinha gente que dizia que o capitalismo teria menos dias. Balbucio entre uma garfada e outra. Porém um outro trabalhador que estava ao seu lado, vestido de azul não pôde deixar de ouvir tal comentário o qual lhe soou bem audível.
- Mas quem foi que disse que não temos menos dias?!
- Ora essa! Um ingênuo aqui do meu lado esquerdo? Disse sem desviar o olhar do prato de comida enquanto comia.
- Claro que temos menos dias! Insistiu de forma incisiva o operário, como se lhe tivessem ofendido a honra! Temos menos dias. Menos dias de férias, menos dias de descanso, menos dinheiro pra comida e por aí vai.

Riu-se internamente o dito Juca. Todavia manteve a mesma postura serena de antes. E em tom provocador uma pergunta ao outro lançou!

- E por acaso a sua Senhora, a D. Graça foi parar aonde?

- Não tenho como lhe falar isso agora, pois como disse antes, temos menos dias. Au revoir. Saindo sem mais palavras deixando Juca de certa forma perplexo. “E lá se vai o Smurf”, pensou Juca.


Segundos depois uma pedra acerta sua cabeça. Quem seria? De onde veio ela? Fechei e abri o olho e ao abri-lo vi árvores em minha volta, ou melhor em nossa volta, já que haviam outras pessoas lá também. Parecia uma clareira. Estávamos sentados em círculo. Uma fumaça adentrou minhas narinas, causando-lhes odiosa irritação, porém de um cheiro agradável. Eufórico - do meu lado - um guri da minha idade se ria todo, fazendo balançar aqueles cachinhos dourados a cobrir e descobrir os olhos azuis. Do outro lado outra dizia “Será que a pedrada foi forte demais? Falei pra não brincar assim!”. Senti uma ardência no local em que a pedra acertara. Fiz minha mão percorrer a testa até a nuca, quando senti que algo havia de errado. Pensava “não pode ser isto, não foi tão forte assim”. Mas o fato é que estava sangrando. Senti minhas pupilas dilatar. O vento soprou como a me enamorar. Um raio de sol tocou meu rosto trazendo um pouco de calor no meio daquela tarde de inverno. Vi as lentes do meu óculos, mas diante da lente só via luz.

- E foi assim meu filho, que surgiu o famosíssimo ditado “Quem colírio não tem usa óculos de Jesus”.

- E como surgiu aquela expressão....?

- Qual?

- Segurando as pontas?

- Essa...hum...essa! Essa você pergunta pra sua mãe.

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