terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O poder do sacolé

Alvorada, uma cidade que não desfruta de belezas naturais, em sua grande maioria moradores com pouco poder aquisitivo. Cidade dominada pelo tráfico de drogas e violência, um descaso do poder público. Em meio a todos estes problemas, Alvorada consegue manter sua classe plebéia com diferenciações dignas de uma cidade sem tipo algum de atrativo, seja turístico ou econômico. Começo por suas sangas imundas, os moradores se localizam por estas valetas asquerosas, porém, o problema maior não são suas sujeiras e sim o mau cheiro que causa um grande constrangimento quando a parentada de Gravataí menos pobre, visita a Alvorada. As paradas de "bus" também tem sua peculiaridade, sempre com sua numeração dupla, estas, se distinguem pelo grau de violência, sempre à 66 levando "vantagem", vantagem esta, considerada pelo número de mortos na madrugada. Contudo, em meio a este purgatório há algo que rege a vida de futuros adultos. Parece ridículo, mas este objeto vale míseros quinze centavos, se não for de creme.
O nome deste objeto alimentício se chama Sacolé. Circula entre os mais jovens de seis/sete anos até os adolescentes de Dezesseis/Dezesete. O Sacolé tem funções extraordinárias no cotidiano desta gurizada. Os mais jovens usam deste objeto para integrar-se a outros jovens, geralmente com o intuito de jogar bola ou simplesmente ter uma desculpa para vagar entre as ruas desta insuportável cidade. Os mais velhos usam do sacolé para se aproximar de meninas que causam reações biológicas nunca antes experimentadas. Geralmente as filhas de sacolezeiras da Alvorada são muy guapas, então a gurizada se mete a galo de ir comprar vários e vários sacolés durante o dia, só pra olhar de revesgueio, a guria loca de linda atrás da grade. O sacolé já juntou pessoas, já até causou brigas entre a gurizada, sim, um mísero sacolé era motivo de briga. Por exemplo, se você chegava em uma roda de três ou quatro colegas, ou você pagava sacolé pra todos ou pra nenhum deles, caso contrário, o mal estar se instalava e as amizades eram colocadas em dúvida.
O sacolé era a salvação de muita gente no final do mês, apesar de muito barato ajudava na cesta básica que vivia aumentando o preço. O mais incrível de tudo, é que as famílias sempre estavam no aperto, mas nunca negavam dinheiro pra locadora e/ou sacolé da molecada. A gurizada nova que não tinha noção do aperto dos pais, pediam dinheiro sem pudor algum, a inocência os afastavam de todos os problemas. Como eram bons os tempos de guri na Alvorada, bastavam quinze centavos e a felicidade estava concretizada.

TOA

5 comentários:

Luccas N. Stangler disse...

Sacolé é coisa de gaúnncho!

Aqui, um pouco mais acima dos chimangos e maragatos, chama-se geladinho ou chup-chup! E também fez e faz a felicidade da criançada.

Tem de todas as cores, mas o sabor sempre me pareceu o mesmo. E que diferença isso faz? O sacolé, como diz o povo aí do sul, diverte. E isso basta!

Ana T. disse...

"O Sacolé tem funções extraordinárias no cotidiano desta gurizada."

Imaginei o narrador de um documentário sobre o comportamento dos animais na floresta. Hm, Ana, você é autista.

E ficou muito bom o post. Sim, senhor.

Cevador de solidões disse...

Chup-chup, e falam do nosso cacetinho.

Ana T. disse...

"Chup-chup, e falam do nosso cacetinho."

Tens razão.

Luccas N. Stangler disse...

"Nosso cacetinho?"

A conversa desviou para uma vertante que não me é familiar, é coisa de gaúnncho!

hahahahahaha