sábado, 5 de fevereiro de 2011

Seo Capenga

Lá, depois do supermercado único da região, andando pelo beco, atravessando o esgoto. Lá, você verá um pequeno estabelecimento (estabelece o que?) de porta e janela com um bocado de pessoas dentro. A primeira vista, você pensa ‘o que é isso? Por que tanta gente num lugar como esse?’. Descreverei o local: duas mesas de sinuca, várias cadeiras espalhadas pelas – pequenas – dimensões do espaço, um único banheiro em não tão boas condições, um freezer de cervejas, um balcão bastante grande para o tamanho do lugar com um senhorzinho atrás, que olha desconfiado e galanteia as moças bonitas que por lá passeiam.

Reduto de universitários do Itacorubi; local conhecido pela grande atuação na produção de anticorpos. Nome comum: Capenga, Esgoto ou – para os não tão íntimos e formais – Bar do Seo João. Eu costumo chamar mesmo de Seo Capenga, por respeito e ... enfim.

Lá, no fim do beco, depois da ponte sobre o esgoto do Itacorubi, é onde certamente serão encontrados os universitários que resolveram descansar das aulas em sala para desfrutar do conhecimento transferido numa mesa de bar regado à bebida amarela. Quando não, aproveitam a quantidade de pessoas para jogar sinuca, truco ou conversa fora; ou ainda tocar, cantar e ouvir um som feito pelos acadêmicos de artes da universidade próxima. E fica assim ‘cientificamente provado’ que as trocas feitas em mesa de bar acabam por transcender a quaisquer outras.

Há os que dizem que é um bar pé sujo que anda se modernizando e virando modinha universitária – o que é uma pena. Há os que dizem que já é patrimônio universitário, uma extensão das salas de aula de cuspe e giz, para aulas de convivência e cerveja... e mais cuspe. Mas vale lembrar que não é apenas de universitários falidos e sedentos por cerveja que a clientela fiel do Seo Capenga é feita. Moradores locais - os nativos - também se regozijam com as comodidades cedidas pelo lugar e toda quarta-feira batem cartão para desfrutar da imagem dos jogos de futebol na televisão de plasma. Televisão adquirida há pouco, na qual podem ser ouvidos os hits mais badalados, normalmente Zezé Di Camargo e Luciano, no último volume.

Enfim, com tanto, o que se sabe é que todo mundo deve fazer uma visita ao Seo Capenga, porque ele parece gostar desses vários netos – não precisa conversar com ele, pois isso só é garantido (e com risco de ainda não entendimento) com tempo de casa, ou exuberante beleza e simpatia da moça – e que quem vai uma vez, não se perde mais por lá, e normalmente pede pra voltar; bem, pelo menos nos dias sem chuva.

5 comentários:

Luccas N. Stangler disse...

hahaahahahaha
Excelente!


Há quem diga que ele já foi até bombeiro. Dizem, também, que o Cevador de solidões, ao saber disso, foi procurar saber da veracidade da notícia, mas parece que não teve sucesso na resposta que ele esperava.

Poeta do Exílio disse...

Digo que é patrimônio - não da universidade - mas dos universitários. Sem pretensões possessivas, pensando bem não é de ninguém. Nem mais do seo John. Faz parte, digamos. Faz parte de nossas vidas, embora eu tenha há muito deixado de comparecer ao 'seo' balcão. Mas, é fato, fui testemunha ocular do flerte: de quando a faed se mudou pro itacorubi e fui dos primeiros faedianos a frequentá-lo ainda no processo de mudança.

Cevador de solidões disse...

Seo João, a lenda viva. Segundo os relatos da própria lenda, este morou em Santos, sabe-se lá quais as suas atividades por aquelas bandas, um livro aberto, pronto para ser folheado.
Excelente texto, magnânime Hellen.

Filipe disse...

Eu havia dito para o Luccas em uma ocasião que o Capenga merecia uma crônica. Maravilha.

Tyche Fortuna disse...

Há que se ressalvar
Assim como quando os portugueses chegaram cá
Antes que os (as) universitários (as)pudessem imaginar
Muita freguesia já havia por lá
E se falando em bar
Aqueles a quem interessar
De Seo Cilinho vou falar
Que dos bares de lá era ele comandar
Capenga, seu irmão, hoje do bar está a cuidar (ainda desconheço como entrou para o ramo)
Mas para ele - Seo Capenga - parece-me que os (as) universitários(as) são pessoas esporádicas a lhe visitar
Já os moradores da região são a alma do bar
Os quais após mais um dia a trabalhar
É pra lá vão beber, jogar e falar
De forma que o laborar se torna mais tênue - bem como - o fardo de ser trabalhador (explorado, mal pago, mal tratado, excluído, humilhado pelos deputados)
Que melhor sorte a eles minha roda lhes traga
E aos seus carrascos toda a desgraça que merecem

Tlec tlec tlec