domingo, 30 de agosto de 2009

Tango noturno

Peguei-me a ouvir um tango um dia desses, confesso que tal ritmo faz minhas veias pulsarem com mais vigor. Lamento que não tenha aprendido, quando ainda jovem, a emaranhar minhas pernas as de um macho ao som de um bom tango; refiro-me à dança, logicamente. Sempre fui fascinada por ela, porém quando moça preocupava-me em me emaranhar em pernas de uma outra forma, e sempre fui boa nisso.


Agora reservo-me às lembranças da juventude, e aos sonhos que por vezes permito-me ter. Já que a dança, esta já não dialoga mais com meus joelhos. Desculpe-me o saudosismo, garanto-lhes que não sou uma velha rabugenta que culpa a juventude dos outros pela ausência da sua. O fato é que a juventude está no espírito e não nos joelhos, desta forma julgo-me jovem; mesmo que as linhas de minhas mãos e os traços do meu rosto insistam em negar tal sentimento.


Contar-vos-ei minha história, mas não esta noite. Esta noite entrego-me ao tango.

4 comentários:

Poeta do Exílio disse...

Tango. Essa palavra me faz lembrar daquele militar reformado, acho que era coronel, e que mesmo cego, tirou para dançar aquela bela jovem que, naquele momento, num restaurante de pompa, eperava entediada seu namorado que se atrasava. E ao som de Gardel, acho que a canção era "por una cabeza", o senhor, que não via mais com os olhos, ficou tão leve que mais parecia um lençol pendurado no varal com vento forte, e deslizava pelo salão com a jovem com uma elegancia tipicamente burguesa.
E assim foi. Foi tranquilo, foi bonito e ao som de um tango.

Felício Freire disse...

Lembro de ter ouvido falar de tal estilo, andava pela região do Mamoré quando conheci Esteban, contava da existência de uma música do povo que passara a ser dançada nos grande salões de seu país, dizia que até nas terras da modernidade tal povo a ouvia. "Agora reservo-me às lembranças da juventude, e aos sonhos que por vezes permito-me ter. Já que a dança, esta já não dialoga mais com meus joelhos."
Lembrei das épocas de xaxado, gemedeira, martelo agalopado...Se dançar Tango lhe trás tão boas lembranças, como proseastes com maestria, cara poeta, acredito que entendi o porque que quando Esteban proferia suas memórias, lembranças das primeiras festas de São João logo avivavam em minha mente. Hoje, após algumas dezenas de anos e horas incontáveis de forró, não esqueço nem um minuto sequer, ou movimento qualquer junto aquela Rosa que encontrei na imensidão do sertão.

Cacilda, seja bem vinda!

posseiro das palavras disse...

"Bem-vinda
Tu és a dama mais formosa
E, ouso dizer, a mais gostosa
Aqui deste covil"

Já diria Chico Buarque!

Bela estréia!

hellen disse...

"Tenho vinte e cinco anos de sonho e
De sangue e de América do Sul.
Por força deste destino,
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues."

Acho que Cacilda B. tem a força desses versos de Belchior: de sonho e de sangue!