sábado, 29 de janeiro de 2011

Sentimento unificador

Eis que no dia em que se encontrou com a rosa, ela sussurrou ao ouvido do eremita: Fé!

Não compreendeu. Há tempos vinha a refletir sobre o acontecido, pois procurava observar sinais e assim examiná-los, entendê-los. Por muito raciocinou, todavia, pereceu.

Um dia sentiu falta da rosa, da sua beleza e da delicadeza de sua voz. Contudo, à distância não o fez sentir a ausência apenas por uma atribuição da razão, sentiu algo diferente que partiu do pulsar de seu cordis. O tom gerou movimento em seu peito de dor e felicidade. A dor do prezado ser não estar ali, a felicidade resumida na sua simples existência, corroborada pela alegria dela a ter cativado. O sentimento unificador era uma estranha lembrança que vinha do peito, da mente unida ao coração como uma espécie de arte do cultivar. A certa altura, lembrou-se que conheceu um velho marinheiro, contador de histórias, que dissera que muitos anos atrás, durante as Grandes Navegações Portuguesas, seres desprovidos de medo lançaram-se ao mar em busca de grandeza e deixaram o seu futuro ligados a coragem de experimentar o novo. Sentimento mutuo de dor e admiração emergiu entre os que partiram e os que ficaram, e os conectou pelo amor a cada um e a causa maior. Disse que um grande mestre da literatura daquele país resumiu tal movimento com uma palavra denominada “saudade”. Interessou-o um pensamento em que relacionou a coragem ao coração. A lembrança o fez ir às lágrimas. Agradeceu a oportunidade de tal encontro, que até aquele momento ainda não havia feito sentido, mas que finalmente vinha a compreender. Não escondia a emoção por enxergar as capacidades da natureza. Reconheceu que o sentia era saudade da rosa e assim lembrou-se da fé.

A chave da compreensão partia da inexistência da lógica no entendimento da fé. Pois ela parte do coração pela capacidade de abstração que vai além das habilidades mentais. O sentimento envolve a mente e vai além, é atributo do espírito.

Compreendeu assim as palavras da rosa, pois enxergou além do visível, do aparente possível. Sentir a conexão o deu a convicção que por seu coração sincero, encontraria novamente a rosa, mesmo em aparente caminho pedregoso em que estava.

Feliz por sentir saudade, experimentou o metafísico e gostou.

Caminha ainda distante, porém, convicto que a leveza está no poder de acreditar, no poder de amar.

Um comentário:

Poeta do Exílio disse...

A Rosa que ilumina,
faz pensar: não se admira.
Admira que sim,
esteja lá, encanta e sirva:

Pra inspirar, dar ar ao coração
Delicada como (não) poderia ser,
uma rosa do sertão.