segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Sobre a inocência das flores
Em que eu tentei escrever.
Não me faltava tinta, não me faltava disposição:
Nas manhãs seguintes, acordava com olhos fundos e lentamente,
Notava papéis brancos sobre a mesa.
Assim, brancos. Sem palavra. Sem uma letra sequer.
Por muito tempo não consegui transpor,
Aqueles pensamentos que em minha mente reverberavam.
E os papéis, brancos amanheciam.
Esse mal que me acometia, cujos contornos custei a perceber,
Era uma espécie de opressão velada imposta pelo meu jardim. Aquelas plantas bonitas que eu reguei com água fresca, cioso por vê-las crescer. Ah, sim! Não pouparei o jardim dos meus carinhos vãos, pois que havia ali rosas espinhosas que se rebelaram e se puseram a me oprimir, quando tudo o que eu precisava era vê-las florescer.
Não quero cuspir palavras de auto-enaltecimento. Não quero mais ter jardins. Desejo vê-los, sem ter posse. Pois que meus eles não precisam ser para que eu possa procurar a beleza que há em cada um deles. Eles não precisam de donos. Nada precisa.
E no fim de tudo, aquele algoz que me oprimia e me fazia fugir esteve sempre aqui, muito próximo a mim. Levava meu nome e tinha em seu rosto os meus contornos e meus cabelos brancos. E me fez pensar por muito tempo que a culpa era das flores...
Florianópolis, dezembro de 2010.
domingo, 2 de janeiro de 2011
Sobre os ocos fogos tradicionais
http://portilloiulla.blogspot.com/
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Gênio é industriosidade!*
você me ensinou a Nietzsche ler: Pela manhã, você dizia e infelizmente não mais me diz, leia-o. Acompanhado de um bom café, é claro. Pai patrão, Delicatessen, Bagdad café... Quantos e quantos filmes me indicastes. E teus ensinamentos, ao longo da nossa amizade, ainda guardo: Não sejas trouxa, Luccas!
Ai que saudade ingrata!
* Título que faz menção ao texto Relógio normal - Walter Benjamin.
Dia 24.12.10 falece um mestre, Ricardo Corrêa, que com toda a certeza fará falta!
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
O amigo Tédio
O tédio, sim ele novamente. Aquele que já me rendeu alguns textos. Sem nada pra fazer, uma cerveja pra beber, a morte a me esquecer. Bajulado pelo o tempo e o vento, oculto no cotidiano, no amanhã que é a repetição do dia anterior. Assim, ele - tédio - modela alguns de meus dias. Mas baseado em quê estou a escrever essas palavras? Ah! Sim! No tédio outra vez. Tem se tornado um bom amigo, sabe? Nessas horas em que não se tem o que fazer. Assim vai indo a humanidade com muito tédio de si mesma e um pouco de vontade de alguma coisa. Mas que coisa? Alguma coisa pra fazer. Mas pra que? Ah..deixa-me me ver! Já sei ora essa! Pra quebrar o tédio!
- Só não me vá fazer guerra outra vez Áries! Já estou entediada de tanta guerra!
- Então vou inventar o natal....
Esses meninos...sempre procurando arte pra fazer.
Andanças
Na última andança mundo a fora
Fui pra muito mais além da outrora praia de fora
Dirigi-me ao norte
Indo até seu pólo levando todo azar e sorte
Visitei novamente Asgar
Odim como sempre estava a me esperar
Das maçãs de Freya tive o prazer de desfrutar
A jovialidade que dos gregos tanto se ouve falar
E que deleite fora pôr goles de hidromel a boca!
Senti-me como Ana Terra com aquele prazer de tremer as pernas
Os bicos dos seios a tocar meu manto sagrado fez pulsar a flor mais abaixo
Em Valinor contemplei toda graça e esplendor dos Valar
Antes que o(a) leitor (a) possa a leitura desse pseudosoneto acabar
Minha roda se colocará a girar, sorte ou azar você terá quando a interrogação chegar?
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Ernesto
domingo, 19 de dezembro de 2010
Eles sabem de tudo.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Foi, é, ou será?
Dói que sejamos tão incompatíveis externamente quanto sincronizados mental e interiormente. Poderíamos viver na suposta felicidade e sintonia eterna se tantos fatores externos dos quais dependemos não nos impedissem disso. Bandeira, em um dos seus poemas tísicos mais famosos, lamentou: “A vida que poderia ser sido e não foi”; Tezza, em um verso realista apresentado no seu romance-biográfico, completa e complementa: “Nada do que não foi poderia ter sido”. Esse é o dilema que, a partir do nosso desabafo mútuo, passei a querer desvendar. Você consegue ser o que minha razão nunca quis e o que meu coração pede. Deveria eu aceitar que nada pode ser feito ou prantear pelas discrepâncias?
Iulla Portillo:
http://portilloiulla.blogspot.com/
sábado, 11 de dezembro de 2010
Lave as (suas) mãos!
Memórias de um preso
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Eu, DITADURA.
Eu te ensino a copiar
Eu te ensino a não viver.
Eu te ensino a não ensinar
Eu te ensino a aceitar
Eu te ensino a não escrever.
Eu te ensino a Freire, o Paulo, amar
Eu te ensino a não filosofar
Eu te ensino a não ser você!
Assim é que eu te ensino,
Assim me apresento,
Eu me chamo Educação,
Prazer em conhecê-lo.
domingo, 28 de novembro de 2010
NINGUÉM É INOCENTE, MAS SERÃO TODOS CULPADOS?
As ondas de violência que estão a assolar a cidade do Rio de Janeiro vêem sendo vistas numa lógica dualista, numa antiga visão entre o bem e o mal, mocinho e bandido, obra do Zoroastro. É muito mais do que óbvio – a quem se dispor refletir sobre – que não existe nem só bandidos, nem só vilões, quanto menos inocentes a viver no meio disso tudo. De uma forma ou de outra todos e todas acabam contribuindo para este tipo de situação. Muitos traficantes são de famílias de “bem”, as quais trabalham arduamente pra conseguir seu sustento. Essas famílias – muitas vezes – são coniventes com o tráfico de drogas uma vez que seus filhos as comercializam. Obviamente também existem famílias que relação alguma possuem com este tipo de atividade econômica, mas que se omitem – em grande parte – por causa do medo. Há também os policiais a se corromperem, a traficar e/ou gerir este tipo de negócio. A corrupção, como não poderia deixar de ser, está claramente também no meio político, em que esses que deveriam ser os representantes do povo representam em larga escala as classes mais abastadas da sociedade e possuem além de ligação com o tráfico de drogas, também com o de armas (caso do político o qual o nome lembra um Pavão ou também do poderoso chefão João Havelange, embora este não seja político). Por fim, temos no topo da colina, os peixes grandes a fomentar este tipo de atividade ilegal, além de inúmeras outras variantes que não caberão aqui. São pessoas das altas classes da sociedade e entupir os narizes com cocaína, matéria prima do Craque o qual existe uma campanha demasiadamente hipócrita para combatê-lo. De certo que ninguém mora nos morros porque quer. Mas que contribuem de uma forma ou de outra com o tráfico...E os consumidores! Entoa em voz alta o conservadorismo extremo que cultiva o autoritarismo em seu âmago! “Só existe o tráfico porque existe consumidor”. O consumo de drogas existe desde que o mundo é mundo e todo tipo de segmento social já fez algum tipo de uso dessas substâncias. Antigamente elas eram utilizadas para se ter contato com o divino. Toda essa hipocrisia tem raízes no moralismo religioso, na economia e política (para destacar apenas 3 elementos disso tudo) e em se falar de religião é muito engraçado este combate, peguemos o caso do catolicismo, mais precisamente do papa Leão XIII que tomava vinho de coca, que mais tarde viraria a bebida coca-cola a qual em seu início utilizava cocaína em sua fabricação. O caso do cânhamo é muito interessante. Ele era utilizado – suas fibras – para a confecção de velas dos navios a época das grandes navegações (dentre outros usos como confecção de cordas) e mais atualmente a marca Adidas utilizava suas fibras para a confecção de um calçado. Detalhe extremamente relevante é de que o cânhamo poderia ser utilizado em quase tudo, como é o caso do petróleo, sendo muito mais ecologicamente correto que o último. Mas obviamente a máfia do petróleo não queria perder esse mercado. Aí junta-se a isso o moralismo puritano norte-americano, o preconceito em relação a imigrantes mexicanos que faziam uso da “droga” e o resultado é criminalização da maconha em grande parte do mundo, tudo isso, claro, a grosso modo. O mais engraçado de tudo é que o álcool e o cigarro - que matam milhares de pessoas todos os anos mundo a fora é permitido, paga imposto, e causa rombos nos cofres públicos na área da saúde – não são considerados drogas, mesmo sendo corriqueiramente denominados de “drogas lícitas” enquanto que no caso da maconha nunca foi constatada nenhuma morte pelo seu uso e está sendo largamente estudada pela ciência em áreas como a medicina no tratamento de doenças como esclerose múltipla e fibromealgia. “A informalidade gera violência, desordem e dividendos” como escreveu recentemente Fernanda Torres. A legalização das drogas – com políticas públicas sobre seu uso, bem como, seu controle – seria um golpe tremendo para os corruptos e o tráfico, mas são exatamente esses corruptos que estão no poder...Claro que a legalização não é nenhuma medida miraculosa, pois mesmo havendo esses controles, por trás deles estarão humanos a fazê-los, mas muito provavelmente melhoraria em muito essa situação. A questão do tráfico não é só de segurança pública, mas também de saúde pública e educação, é uma questão social. E este tipo de situação só é discutida quando passa a atingir as classes médias e altas da sociedade as quais temem que essa violência bata a porta de suas casas! A violência ocorre diariamente nos morros e ninguém fala nada. Porque só agora decidiram combater ativamente o tráfico de drogas? Como armas de uso exclusivo do exército vão cair nas mãos de traficantes? A polícia sempre soube quais são os pontos de venda de drogas. Mas deixe estar a esses policiais aspirantes a titãs, os deuses estão zangados e o mais deles é Dionísio, a tragédia se anuncia no horizonte. Minha roda se pôs a girar, tlec, tlec, tlec, que o apolínio burguês trema! O afortunado da vez é Baco o deus estrangeiro. Das florestas vem o sopro aterrorizante “Ninguém é inocento, são todos culpados”. Os "inocentes" temem "os deuses estão zangados".
"Não há mais culpados nem inocentes agora todos irão pagar, mas na guerra sublimada aleijados e analfabetos ainda tentam modificar"
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
A falta
As palavras me faltam.
Que angústia!
Logo agora que tanto preciso delas
Elas me escapam.
Somem, desaparecem.
Por tudo o que representou,
Por tudo o que ainda representa.
Faltam-me as palavras.
Faltam-me.
A beleza inocente,
A doçura que não se deixa amargar.
Idas sem rumo,
Voltas sem direção.
Faltam-me as palavras.
Faltam-me.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Uma história pra lembrar e contar: a vida para amar
Papai, ainda me lembro, sempre dizia “cuidado com a hipocrisia”. Ouvi algumas vezes esta frase. Ele sempre procurou nos passar valores éticos e um pouco de moral, uma moral humana. No começo não entendia essa tal de moral, mas a ética era como um guia a me orientar em minhas escolhas. Aprendemos com ele a valorizar a vida, afinal uma pequena semente poderia se tornar uma enorme árvore e “a lagarta que rasteja até o dia em que cria asas”, ao batê-las aqui pode provocar um furacão em um lugar do outro lado do mundo! Toda forma de vida devia ser respeitada. A semente de hoje era a comida de amanhã. “A mãe-terra nos dá tudo o que precisamos”, dizia ele, por isso tínhamos que cuidar bem dela! No lugar onde crescemos havia muito verde, de todos os tons; cores das mais lindas quando chegava a prima mais querida, a primavera; muitos bichos – grandes e pequenos – e por vezes saíamos nas noites primaveris a procura das fadas! Tudo que precisávamos saber papai e mamãe nos ensinavam. Boa parte de nossxs amigxs iam ainda para escola. Mas nós aprendíamos com nossos pais as importantíssimas lições da vida as quais, diziam elxs, não encontraríamos nas escolas. Além disso as escolas ficavam longe, na selva de pedras – uma das mais terríveis, em que pessoas matavam pessoas, com ou sem motivo, um verdadeiro absurdo, e quanto medo nos dava ao ouvir essas estórias nas rodas de contos a beira do fogo em noites estreladas – em que a cor predominante era o angustiante cinza. Claro que nem tudo era maravilhoso, por vezes ficávamos de castigo por aprontar travessuras, bem como, em brigas entre irmãos, e papai nos fazia ir com ele em suas andanças pelas hortas, casas em construção, pescar, e nos ensinava como as coisas funcionavam, que uma casa não se começa pelo telhado “ela tem que ter uma base forte antes” e que criar animais, cultivar hortas, não poluir o rio, acabavam por criar bases para sobrevivência humana, contribuindo para saciar a fome e a sede.
Certo dia papai estava atônito e triste. Chegou pra mim e disse “filha você está crescendo”. Após essas palavras seu semblante se fechou; suas pálpebras reprimiam os olhos para baixo e uma luz correu seu rosto, era uma lágrima a qual ao cair no chão causou-lhe uma pequena deformação e se transformou em milhares de outras gotículas a molharem a grama. “Vou lhe contar uma história e preste muita atenção”.
- Há algum tempo atrás, cerca de uns 600 anos mais ou menos, o mundo começou a mudar para o que é hoje. Houve uma crise. Muitas pessoas morreram por motivos de doença, guerra e fome. Pouco a pouco os burgos (cidades) aumentavam cada vez mais e tornavam-se paulatinamente mais importantes. A nobreza entrava em decadência. A monarquia se fortalecia. Os mercenários ganhavam importância. Isso se deu num continente que leva o nome da deusa Europa.
Nunca tinha ouvido desta história até então! Deusa Europa?! Mercenários?! A 600 anos atrás?! Seguiu um breve silêncio naquele ponto. Ele procurava retomar o fôlego. E continuou.
- Deram-se inicio as grandes navegações. Descobriram então que o mundo era maior do que pensavam quando acharam essas terras. Mas elas já possuíam moradores. Esta história é sobre a ganância humana. Pois, mesmo os que aqui já habitavam, outrora também expulsaram e mataram os que antes viviam cá. Isso tudo - a largo passo – foi motivado pela ganância de pessoas ricas que queriam cada vez mais as riquezas só pra si, evidenciando desta forma, outra cruel faceta humana, o egoísmo. As instituições modernas foram forjadas. Muita coisa importante foi pouco a pouco esquecida. Os burgos – as cidades, selvas de pedras – cresciam cada vez mais. O cinza foi tomando conta do verde, a sujeira dos rios e muitos dos animais desapareceram por completo, a não ser pela memória. Inventaram as fábricas que jogavam dezenas de metros cúbicos de gases tóxicos no ar. Logo vieram os carros e já não tínhamos mais lugar por onde andar. Criaram os aparatos repressivos a obedecê-los e a nos bater, calar, torturar e matar. E diante da fumaça e desgraça que a gente teve que tossir resolvemos resistir e lutar. Mas as estruturas estavam contaminadas e assim, contaminavam as pessoas. Tivemos que fugir. E aqui chegamos. Sempre hesitei este momento, mas é chegada a hora em que você terá lidar com essas coisas sozinhas. Não podemos mais nos esconder do mundo. As cidades estão chegando. E lá se dará uma nova etapa de sua vida.
Não queria acreditar no que ouvia! Não podia ser verdade! Não queria ir pra cidade. Corri desesperada mata adentro. Corri, corri e corri sem parar. Suava frio quando cheguei à beira do rio. Estava cansada, assustada e com sede. Comecei a controlar a respiração novamente. Pouco a pouco aflição foi cedendo. Agachei-me e posicionando uma mão sobre a outra fiz um “copinho” para apanhar um punhado de água que corria pelo rio. Alguma coisa havia mudado. Podia sentir isso no gosto da água, no soprar daqueles ares. Não era mais o mesmo rio e eu não era mais a mesma mulher. Dias depois daquela conversa papai e mamãe foram assassinados. Antes disso nos mandaram para cidade na casa de parentes. Aquela fora a notícia mais triste que já recebera em toda a minha vida. Era tudo muito estranho. Mas uma frase martelava em minha cabeça “cuidado com a hipocrisia”.
Aos poucos comecei a sair do quarto. Voltei a comer. A comida nunca mais teve o mesmo sabor. O que era aquilo que comiam na cidade? Pra mim não era comida. O medo da selva de pedras ainda se fazia presente. Estava olhando pela janela da sala a rua. Era uma grande janela. Então pude ver o tempo mudando. Ao longe vinha uma imensa, gigantesca, nuvem escura. Dela saíam muitos raios, trovões! Mas poucos atingiam a superfície. Corri para o quarto e me escondi em baixo das cobertas. Foi quando lembrei certa vez de uma pequena planta. Era um dia tenebroso como este com milhares de raios e trovões e pensava “coitada da pobre plantinha sozinha lá fora”. Na manhã seguinte corri para ver como ela estava. Seu estado era drástico. As folhas caídas pareciam demonstrar sua tristeza. Papai então chegou e me disse “não fique triste minha pequena, as raízes estão firmes, a base está forte, ela irá melhorar”. Essas palavras acalmaram meu coração. Dia a dia ia lá para ver a pobrezinha. Na primeira semana as coisas pareciam não mudar. Quando veio a segunda semana pude ver o que os olhos não permitiram. As raízes estavam fortes mesmo como papai disse e as folhas voltavam a flutuar entre o caule, o céu e o chão, desafiando novamente a gravidade que as colocara para baixo. Não podia mais ficar ali, escondendo-me para sempre embaixo do lençol. Dei um pulo de súbito! Coloquei um calçado e saí pela porta! A tempestade já havia passado. Tinham crianças na rua a jogar bola e se divertir das mais diversas formas. Estranhei aquela cena. Por muito havia guardado apenas aquela imagem apocalíptica da cidade. Foi então que percebi. Quando papai me falou aquilo não era pra me amedrontar, mas para me alertar das atrocidades que ocorrem nas cidades, principalmente nas grandes. Os pais daquelas crianças das ruas não eram iguais, alguns se pareciam com os meus outros eram os gananciosos e egoístas que papai nos prevenia. E estes falavam muito bonito para inglês ver (ou seria melhor: para norte-americano ver?); falando de sustentabilidade, ética, justiça, quando o que lhes importava era o dinheiro, aquele “pedaço de papel sujo, que nem pra limpar a bunda serve” dizia mamãe em suas discussões com sua irmã, nossa tia. E nessa correnteza eu notei a essência da frase martelo, pois a nossa maior luta chegara, a luta pela vida! Estávamos nas ruas protestando! As empresas sintéticas pretendiam dar o golpe final! Nesses tempos a artificialidade tomou conta da vida. Denominavam os sábios isso como sendo a “anti-vida”. O individualismo nos isolou por duros anos, até este momento. O Chefe de Estado então decidiu se pronunciar. Seu partido era tido como de esquerda.
- Cidadãos e cidadãs!
Logo pensei, pra quem este palhaço está falando?! Nunca ensinaram cidadania em suas políticas públicas...ah, sim, cidadãos são os abastados, assim como, na antiga Grécia, de forma bem diferente, obviamente.
- Estamos aqui para manter o Estado-democrático de direito!
Milhares de forças repressoras asseguram o discurso do chefe e muito bem equipadas nos ameaçam de diversas formas, inclusive de morte.
- Deixem essas questões para os órgãos responsáveis! Entoava ele.
Curiosamente neste exato momento a ficha parece ter caído a todxs! Estávamos frente a frente com a hipocrisia. Os órgãos competentes eram extremamente incompetentes para com os vidamantes, demonstrando na maioria dos casos completa indiferença para com nós! Pude então entender a tal da moral! Mas esta que nos despejavam a torto e direito não era humana. As campanhas eleitorais eram uma das maiores peças a qual esta humanidade presenciava! Criminalizavam as drogas e fomentavam o tráfico, o qual sem pagamento de tributos ao Estado entrava já sob a forma de dinheiro nas campanhas, aumentando o endosso dos famosos “caixa 2”, acabando também por fomentar a violência. Não permitiam ao pequeno cultivar sua comida em terras protegidas pelas leis ambientais, mas garantiam o aval de construções com enormes impactos ambientais naquelas regiões sem nenhuma forma de punição para esses figurões, como enormes represas – as quais acabavam por alagar imensas áreas – estaleiros em águas rasas, dentre outras. O dinheiro produzido com nosso suor, nossas vidas, ausência – muitas vezes – de carinho e atenção para com os nossos, era – através dos impostos – dado aos banqueiros e outros exploradores da vida alheia. E a nós? O que resgatava agora? Nem mais migalhas! Nem mais migalhas! E parece que de uma forma mágica ou racional, não sei, essas palavras ecoavam nas cabeças de cada um(a) ali presente! E repentinamente começou! Em uníssono:
- Não mais migalhas, vida a quem trabalha! Não mais migalhas, vida a quem trabalha!
- Não mais migalhas, vida a quem trabalha!
E o que começou aos poucos de forma tímida, foi tomando conta de tudo e todxs! Tão logo assim o foi, que xs humanxs por trás das fardas puderam perceber novamente a vida! E o que tinham feito a ela! Aquilo não podia continuar! E começaram a entoar ainda mais alto:
- Não mais migalhas, vida a quem trabalha! Não mais migalhas, vida a quem trabalha! E começamos todas e todos a marchar em direção aos(as) tiranos(as)! O chão tremia! Aos “déspotas” se notava agora um extremo medo, terror e pavor em seus olhos! Foram cercadxs e obrigadxs a se render. A humanidade não era mais a mesma. Sabíamos o que fazer. Não precisávamos de mais ninguém a dizer como as coisas tem que ser feitas! Não mais Estado e aparatos repressivos, não mais patrão, uma nova Era parece emergir.
E tão logo a vitória chegou, colocamo-nos a nossos afazeres. Os inimigos de ontem são no máximo hoje como animais peçonhentos, sem muito que temê-los, mas tendo o cuidado de não pizá-los. Agora não precisava mais trabalhar todo dia, muitos menos fazê-lo guiado pelo tempo do relógio. Agora acredito que meus filhos poderão viver num lugar mais justo, um lugar que nossos pais lutaram e sonharam, um lugar pra chamar de lar, um planeta pra amar, um lugar para sempre lembrar. De terra e mar; beber da água do rio pra sede saciar, ir para onde quiser e sem nenhum papel a nos condicionar. Novamente a voz prevalecerá. Temos uma vida pra amar.
Impressões sobre o tempo.
Tenho algumas impressões sobre o tempo. Um dia, quem sabe, elas se tornem certezas e minhas impressões param de me perseguir. Ainda estou sendo seguido, perseguido por ele - o ponteiro não cessa de funcionar! Maldita construção: o tempo.
sábado, 6 de novembro de 2010
Open your eyes
Ela abriu os olhos - realizada - e viu um teto estranho. Teto que julgou devesse ser reformado. Olhou para o lado, e ele ainda dormia, com um leve sorriso de satisfação no rosto e a mão sobre o ventre dela. Com todo o cuidado, ela levantou-se da cama. Pisou num tapete macio, azul - que parecia veludo - pegou uma camisa dele e entrou no banho. Ao sair, de cabelos molhados - e molhando a camisa, sentiu um forte e agradável cheiro de café recém feito; o cheiro infestava a casa. Olhou para a cama e dessa vez só encontrara o gato, Bola de Meia. O animal não pensou duas vezes quando pulou no colo dela, pedindo cafuné e chamego. Ela aceitou e reconheceu os motivos de ele nunca ter se desfeito daquele bichano. Sentou-se na cama, e no chamego viu ele subir com um café na mão. O cheiro de café se misturava ao cheiro do shampoo, do cabelo dela.
Ela tocou a mão dele, em busca da caneca: mão quente, passando o calor. Ele tocou a mão dela, deixando a caneca: mão fria, buscando calor.
Nesse momento, os olhos se encontraram, a luz que refletia naquele verde se tornou a mesma luz que refletia nos castanhos dela. A boca dele procurando o cabelo molhado dela, enquanto a boca dela procurava a caneca quente de café dele. O cheiro de café se confundindo com o cheiro de shampoo; misturados.
A mão dela agora é quente, a mão dele agora é fria. O tapete no chão ainda é macio, mas mais macio é o Bola de Meia se enroscando nas pernas dela. A luz que estava lá fora se vai. As pequenas gotículas que choram do céu escurecido são transparentes e refletem a magia do momento: o sorriso transparecendo nos olhos brilhantes.
O café acaba, ele desce. Bola de meia a empurra para a cama, e ronrona no afago. Ela aceita, e, de cabelos molhados – sentindo o cheiro de café - entra no banho. Sai com a camisa dele, molhando-a. Pisa no tapete macio, azul, que parece veludo. Com cuidado, deita-se na cama. Olha para o lado e o vê, de olhos abertos. Ele coloca a mão no ventre dela, e fecha os olhos com um sorriso de satisfação. Ela olha para cima, pensa na reforma que deveria ser feita naquele teto desconhecido, e fecha os olhos - realizada.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Um primeiro encontro
A liberdade em que as pessoas acreditam que vivem não existe. Desde os primórdios a humanidade esteve em transe sob a sombra da luz. Há uma terrível sombra que os mantém caverna adentro, a qual se chama medo. O medo - por vezes - age de maneiras sombrias correndo pelas espinhas. Paralisa. Atordoa. Alienia. Atrofia. E por fim, mata. Mata, mesmo que a sobrevida permaneça. Desconhecem a vida pensando temerosamente na morte. Sois essa a vossa sorte! Do contrário, quais sortes senão a morte? Aqui começa o tal recorte da ausência de nossa sorte! Há apenas a dita cuja da Fortuna que com azar e sorte nos importuna. Tão pequenos vós sois que essa história contar-lho-eis depois.
E foi assim, que os contadores cantores - cegos eram - contaram cantando os dizeres do primeiro encontro com a gigante Aldebaram.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Sidarta!
Com toda a sinceridade, resumindo sua expressão, não sabe se volta.
Por que deveria voltar?
A busca dele não é única.
Não é nova.
Não é de todos.
O que ele procura, muitos já procuraram.
Poucos - verdadeiramente - encontram.
Pouquíssimos, eu suponho.
Mas, diz ele, não custa tentar.
Percurso tortuoso, respostas sinuosas, tautologias mil.
A objetividade das respostas, isso Sidarta bem sabe, não será encontrada.
Sua procura é outra.
Vá, Sidarta, vá!
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Imensidão

segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Desvendando o espelho.
(Feito por uma talentosa escritora, Iulla Portillo, que tem escrito com frequência no portilloiulla.blogspot.com)
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Vê, agora?
- E, então?
- E, então, o que?
- Ali, logo adiante, me diga senhor, o que está vendo?
- Nada.
- Nada?
- É, nada.
- Como nada?
- Nada porra! Não tem nada ali! Não tem nada aqui! Só areia para todos os lados... estamos perdidos, oh céus!
- Pois eu vejo muitas coisas ali adiante...
- Você está louco homem, não há nada ali! Só o maldito deserto! O maldito e seco deserto! E foi você quem nos trouxe aqui, a culpa é sua!
- Admito meu caro, que a culpa é minha, mas veja bem, você não vê, ali adiante, os tigres, o enorme Dragão, a moça bela com longos cabelos e olhos de diamantes...?
- Não. Tudo que vejo é um enorme nada. Um grande mar bege que no horizonte se uni a outro enorme oceano azulado. Não há nada além disso.
- Pobre coitado, o Sol já deve estar afetando suas idéias. Tudo bem, mas vai me dizer que você não vê o Palácio de Cristal, com o seu monarca na varanda? Ele está nos olhando nesse exato momento.
- Não, meu amigo, ele não está! Você está louco!
- Isso é porque você só olha com os olhos.
- E com o que mais deveria olhar?!
- Ora, não é obvio. Com os ouvidos, com os pelos do corpo arrepiados, com o coração, com as sensações... coisas assim.
- Meu chapa, você está mais louco do que eu imaginava! Mas não se preocupe, logo o Sol irá nos desidratar por completo.
- Louco é você!
- HAHAHA, essa é boa! Eu, louco?! Diante das tamanhas besteiras que você me fala! Baseado em que você explicaria minha loucura?!
- Veja bem, meu jovem, essa questão é simples, tente não se espantar. Esse sonho é meu, logo o louco é você, que nem sequer existe!
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Uma das janelas
Um dia desses abri uma das janelas da casa e vi lá, ali, logo adiante, onde havia o dito sol radiente, o cinza nos mais variados tons. O vento e o frio ocupam o vazio de montanhas de areia cinza-claro; e ao fundo o grito do Desesperado!
- Nãooooooooooooooo!
Logo sobe um calafrio pela espinha. A noite aqui agora parece eterna. A luz já não mais brilha além do olho em chamas de ganância. Chamamos a esses Iluminados Olhos. O desatento pode vir a concebê-los como amáveis, exaltado diante da beleza do brilho daqueles olhos, Iluminados Olhos, tão logo cegos acabarão, mas não antes de ver o terror do asco de si mesmo quando de súbito se mira sendo devorado, mordida após mordida, dentada após dentada, dilacerando a carne! Parte já está só no osso, onde a dor é uma das mais terríveis e angustiantes, como sentir os ossos sendo serrados, roídos por ratazanas desdentadas, - e o pior, chega à beira de um prazer estranho - e assim, também é o asco de ver-se literalmente despedaçado! Mas, as veias ainda pulsam junto ao sangue a escorrer, espirrar e enfim jorrar! A dor agora já não é mais dor! É uma transmutação somada com o prazer, um prazer estranho a essa sociedade e seus preconceitos, a ignorar o prazer da dor e a dor do prazer de morrer, o prazer de sentir a larva se banquetear da sua carne exposta a quem quiser ver o que - do rosto as entranhas - o apolíneo burguês fez parecer seu ideal, esquecendo, pois, da podridão de que é feito o ser - humano. Eis aqui o limite explícito da aparência.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Azmyl e o vazio
Azmyl costumavam dizer os antigos, ou ao menos assim se acredita, quando sentiam alegria em seus corações. Disso sabiam muito bem - étile - aqueles que estavam acima de todos e abaixo do nada - quando compartilharam Azmyl! E foi neste momento em que a cisão se forja lentamente! Aquele caixote veio a dar sentido e sustentação final para o mundo das imagens, da razão, da visão. Através delas maquinaram tamanha chacina! Estavam prestes a matar milhares e milhares de elfrin - oráculos, popularmente conhecidos na atualidade como sonhadores - dilacerando (rasgando a duras mordidas de bocas sedentas de sangue findando a existência máxima de sentido daqueles caninos)os sonhos, a imaginação das pessoas, que passariam, gradativamente, dali por diante, a romper e/ou conciliar seu imagético sobre as coisas, pois, ora, há uma imagem agora!
E que alegria causa essa tal de imagem! E se as pessoas ficam alegres tudo, parece, então, estar bem! Azmyl é capaz de organizar e reunir várias imagens em blocos compactos chamados programas. Existem programas de vários tipos e gêneros: comédia, drama, suspense, novela, filmes (simulacros). Azmyl, por fim, ocupou o enorme vazio que existia. Existia em mim, você, nós, vós, eles, na sociedade, na humanidade. Não me sinto só. Já não me importa mais se programo ou sou programado. A novela vai chegando ao fim. Oh triste fim de mim! O que haverá depois? Outra novela, pois, e eu não serei eu, talvez uma outra personagem qualquer.
domingo, 10 de outubro de 2010
Ex-cravo.
Eu tentava, repudiava, e continuava preso. Alguém que não conhecia tentou me libertar. Eu, assim pensei, com a ajuda desse ser, me libertei.
Já fui de tudo um pouco. Agora restavam-me lembranças. O resgate, assim me ensinaram, seria impossível. Não resgatei minhas lembranças...
Imerso no meu saudosismo, juntei o que restou: um pouco de cada. Tive saudades da minha pátria amada que não era o Brasil. Atravessei um rio chamado Atlântico. Mudei meus costumes. Moldei meus costumes.
Conheci sujeitos antes inimagináveis. Trajavam vestes estranhas, talvez não tivessem - vai saber! - entranhas. Pomposidades alheias, disseram-me que eu me libertei de minha terra.
Agora sou um ex. Ex-africano, ex-algo. Eu, que um dia fui planta, sou ex. Em minha terra, era um belo cravo - nunca briguei com a rosa! Agora sou um ex, ex-cravo da (na)Ilha da Vera Cruz.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Gripe A...nta
Não venham me dizer que os jornais são imparciais. Não venham me falar que sem eles não viveríamos. Não venham me comentar que eles mostram somente a verdade. Qual verdade? Não tratem os jornais como novelas. Alguns sábios dizem que elas – as novelas - tratam da realidade. A título de curiosidade: Qual realidade? A minha? A sua? Eu não sou da Índia, muito menos faço parte de suas crenças, credos. E esses sábios dizem que ela mostra a realidade. Sei...
Sem os jornais, talvez a vida seria mais bela, talvez a vida fosse mais doce, la dolce vita. É impressionante como uma notícia muda tudo, todos, todas. Um simples telefonema anônimo e o caos se instala. Não abra mais as cartas, elas devem ter antraz! Conspira-se contra o vizinho, sogro, sogra (essa sempre merece atenção!). Hã, eu sempre soube que ele era suspeito. Comprava muita comida congelada... Detetives para botar inveja em Sir Doyle.
- Extra, extra, uma nova forma de gripe chegou para nos assolar! Dizem, os especialistas, que seu impacto será tão forte quanto a peste negra de séculos atrás. Noticiou um jornal fictício ou verídico. Tanto faz! Aprendi em matemática que a ordem dos fatores não altera o resultado. O nome da “coisa”, segundo esse jornal, é gripe suína, mas como a moda não pegou, denominaremos – seguindo as tendências de Milão - A...nta, gripe A...nta!
Estamos em alerta! Não aperte a mão do companheiro, não espirre, não tussa, não! Usaremos máscaras mesmo que fiquemos parecidos com alguma dançarina do funk. Quarentena já. Atenção, muita atenção! Todo cuidado é pouco! Cuidado com a gripe, porque...*
* O autor deste texto, por motivos de suspeita de gripe A...nta, não acabou de escrever o texto.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Visível invisibilidade
O rosto que não se apresenta.
Quem és tu, outro?
Quem são os outros?
Opina, constrói, destrói.
A idade? O tempo? O tamanho?
Julga, pré-julga, não perdoa.
Não sente, não chora, não se apaixona.
Quem és tu, outro?
Quem são os outros?
Ele não é isso, ela não é aquilo.
Coitado do Fulano, Fuja do Ciclano.
Não, é a idade.
Isso mesmo, a idade!
Ahhh, a idade.
Que forte motivo há: a idade.
O(s) outro(s) tinha(m) razão:
O problema é a idade.
Calo-me.
Quem sou eu para digladiar com o Coro?
Ou melhor: Onde está o Coro?
Se ao menos...
Não adianta.
O outro é indiferente, talvez nem seja gente.
Talvez seja gentes.
Fugir?
À francesa, à moda francesa.
Mas logo, antes que o outro me veja...
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Uma hora a menos
Jason de Lima e Silva - Filósofo e autor da brilhante obra "O homem que ficou vesgo".
Céu Laranja-Azulado
Quando é noite bonita e as nuvens pintam o céu de laranja-azulado, lembro-me daquela velha senhora: No sítio, em meio às árvores, ela me chamava e sentávamos na varanda; ela na cadeira de balanço e eu na rede - que àquela época ainda era bem cuidada - e ela falava da sua vida. Embora eu sempre dormisse antes que ela chegasse ao final, ela não se cansava. Toda vez que as nuvens formavam figuras laranja-azuladas no céu, lá vinha ela, com a bengala equilibrando de um lado e a rede para meu repouso do outro, me convidando para a prosa.
O início de sua história já me era decorada. Ela tinha um roteiro, e dizia que sua vida daria um bom livro; gargalhava sozinha depois disso. Um dia, pedi que ela contasse sua vida ao contrário, começasse do presente e fosse ao passado. Péssima idéia! Ela fez cara feia, recusou-se e disse: “Se algum dia eu contar a historia ao contrário, você não dormirá e eu não terei desculpas para ficar perto de você numa próxima vez! Se algum dia você não dormir e sonhar com minha história, será porque a contei baseada no hoje, e só o que sei sobre o hoje é que gostaria de ser aquela nuvem laranja, que pinta o céu azul.”
Depois disso, ela ainda balançada, a abracei. Senti uma lágrima escorrer de seus olhos e ela disse: “Eu sabia que você me entenderia, e temi, em vão, o dia em que isso acontecesse!”. No dia seguinte, ela estava sentada na cadeira de balanço, com um sorriso descansado no rosto; morta.
Aqui na redondeza, as noites não escurecem mais como antes. O sol poente traz as nuvens laranjas que decoram o céu azulado; que muitas vezes, figuram como lágrimas que se transformam em sorrisos bondosos, de um céu laranja-azulado.
[homenagem ao trio da travessa em outubro de 2008]
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
O escafandro e a falsa borboleta
Minha carapaça era o escafandro. Um pulo. Um salto na incerteza. Nunca soube se voltaria. Uma leve sensação de leveza... Pensei que aquele era meu mundo. Longe de tudo, de todos.
Descendo, descendo, descendo. Fui, aos poucos, descendo. Aquele peso, enquanto descia, ia sumindo... A responsabilidade, a flor da idade, aquilo a que todos prezam – todos menos eu.
Quando livre eu acreditava estar, senti-me sendo puxado. E estava mesmo. Algo me prendia ao passado, algo me prendia ao presente. Era aquele cabo! O cabo do escafandro... Tive que retornar. Gregor, ao erguer o cabo, me puxava para aquilo que eu não mais queria: viver.