terça-feira, 28 de julho de 2009
O Cisco de Ontem
varreu o quarto, a sala,
e num trépido do assoalho sob a estante,
deixou cair um castiçal de ontem.
Juntou os cacos e revirou as gavetas
que não lhe couberam lembranças.
Continuou a varrer tudo que pode,
mas o passado, este, permaneceu intocável.
Imensidão azul, horizonte pleno, grandeza celestial. Lembro que contemplei extasiado aquela primeira vista. Naquele momento as lembranças das palavras de Padre Janeiro emergiram em minha mente, não entendia o sentido de determinadas explicações de meu preceptor. Esta, compreendi claramente no determinado instante em que enxerguei aquele oceano: "Nós somos a essência divina, o micro que se unirá ao macro. Como por exemplo o mar, se retirarmos uma gota dele, naquela ínfima parte estará contido todas as propriedades existentes no mar, contudo, não é o mar."
Impossível compreender tal exemplo sem conhecer aquela infinitude. Não pude conter a emoção com a nova compreensão, a saudade de Janeiro já era sentimento constante. Dantes de continuar, preciso proclamar um ato de justiça com meu padre, ainda não descrevi a meus possíveis leitores (se é que terei algum) algumas características marcantes daquele grande ser. Padre Janeiro era um homem de no máximo 1,70m de altura, brasileiro genuíno, era impossível identificar sua procedência, descendência. Tinha pele morena, cabelos lisos escorridos e olhos azuis. Era cabra forte, resistente, o vi levantar praticamente sozinho mais de uma igreja. Ser incansável, depois de desgastante dia de trabalho braçal e espiritual, encontrava tempo para se ilustrar e ainda me educar. Suas melhores característica eram a alegria de estar vivo, servir e aprender. Não lembro de vê-lo brabo, se ficava, com certeza escondia. Possível ser um sofredor que não demonstrava, caso fosse esse o caso, ele seria mestre nisso. Seu sorriso é algo que nunca saiu de minha memória. Hoje, muitos anos se passaram, porém, as vezes quando tento ouvir o som do silêncio, este é interrompido por aquele sorriso sincero de Padre Janeiro. Já de muito refleti sobre este ato do criador, o sorriso. Deus já nos criou passíveis de sermos nossos próprios terapeutas. Nos tempos contemporâneos percebo multidões que buscam consolo em alternativas áreas de terapia. Naquela época, quando esta palavra poderia soar como palavrão, Padre Janeiro, no primor de sua inteligência, percebera que o sorriso é a terapia celeste. Um dom nos concedido, aproveitado por aqueles que o percebem e valorizam. Talvez este foi o grande legado deixado por meu preceptor em minha formação, a alegria de viver!
Depois de peregrinar com o regimento por todas as bandas do Ceará, chegamos a Fortaleza, foi quando pude conhecer o mar. De lá pegamos barco para Belem. A capital do Pará era a porta de entrada da Amazônia, ponto de encontro de milhares de nordestinos que buscavam prosperidade na construção da ferrovia. No porto de Belem, olhei assustado para aquela multidão, famílias inteiras, muitos jovens, indivíduos que deixaram mulheres e filhos a fim de encontrar a salvação de suas famílias. O encanto começou a se quebrar neste momento, pela primeira vez senti medo da decisão que havia tomado. Será que todas aquelas promessas seriam cumpridas, e se não obtivéssemos êxito, conseguiríamos retornar as nossas antigas vidas. Tinha até a escolha de fugir e tentar alguns biscates até conseguir retornar a vida eclesiástica no Ceará ao lado de Padre Janeiro. Porém, o orgulho da juventude preponderou em minha decisão, já havia chegado até ali, agora não teria mais volta. Uma palavra de padre Janeiro não tive condição de compreender naqueles momentos, as vezes sentia-me agoniado naquela pequenitude da vila, confessava ardorosamente meus sentimentos ao padre, este então dizia: "Serrinha, tu és jovem, preste atenção em sua condição, lembre-se de Jó, sujeito que resistiu pacientemente todas as tentações do capeta sem perder a fé em seu superior. Tenha este indivíduo como exemplo, chegará o momento de receber o que queres." No meu caso, fugi apressadamente, deixei apenas bilhete, encontrava-me dominado pelo medo, mas não perdi o orgulho e esqueci a paciência.
Já no navio, subindo o Amazônas, ficara impressionado com a dimensão daquele rio, muitas das vezes não enxergava a outra margem, tinha a impressão que navegava no mar. Naqueles longos dias a alimentação foi escassa, munido apenas de uma rede que adquiri em Fortaleza e meus poucos pertences, não costumava sair muito da região do navio em que estava alojado.
Um dia, estava deitado, lendo um livro que ganhara de presente de aniversário de quinze anos de Padre Janeiro, era uma edição portuguesa antiga, datada do século XIX, da bela epopéia de Homero, a Ilíada. Já o lia pela décima quinta vez, quando, distraído, olhei para meu lado esquerdo e percebi duas moças me observando e sorrindo. Logo que as vi percebi que uma delas recebeu um cutucão da amiga, o que a fez corar. Achei aquilo meio esquisito, não dei muita bola. Apesar que senti um pequeno arrepio quando meu olhar cruzou com a moça que acabara de se avermelhar.
A noite, não conseguira dormir, o medo da decisão que tomara as vezes me dava pesadelos, outras me incapacitava de pegar no sono. Resolvi levantar e caminhar pelo convés principal que se encontrava vazio. O céu estava muito estrelado e a Lua tão cheia que até parecia dia. Fiquei impressionado a observar um estrela que tinha brilho tão intenso que deixara rastro de luz nas águas do rio tão forte quanto a Lua. No momento que me perguntava o que seria aquela estrela, ouvi uma voz feminina: - É a Estrela D'Alva, aparece de madrugada, anuncia a chegada do Sol. Fiquei perplexo com aquelas palavras, primeiro que não imaginava ser quase dia, segundo que trocara poucas palavras com passageiros e passageiras durante aquela estranha viagem. Ela continuou: - Fico te observando, tão quieto e pensativo. Fica vidrado naquele livro. Acho tão bonita a leitura, um dia quero aprender a ler e escrever, as vezes penso que poderia escrever todas as idéias que penso. Respondi sem pensar: - A leitura e a escrita nos libertam da falta de saber, mas podem ser uma prisão de nossos pensamentos no papel. Até hoje me pergunto o porquê disse logo aquilo, mas foi o que se procedeu. A tréplica veio rapidamente: - A prisão é ter tantas idéias, mas não ter a condição de libertá-las. Aquelas palavras me desarmaram, olhei meio pasmo para ela, sua resposta foi me beijar. Aquela sensação era algo que não esperava nunca ter pela primeira vez naquele momento. A continuidade dessa história, não preciso entrar em detalhes, posso dizer, como no dito popular, que fiz barba, cabelo e bigode. Já aprendi de uma vez o que padre Janeiro tanto me alertava, o perigo iminente dos prazeres da carne. Digo, com sinceridade, que neste quesito passei a discordar de meu mestre. O prosseguir da viagem foi mais tranquilo, já não me culpava tanto da vida eclesiástica que deixara. No dia seguinte a este acontecimento, a moça, denominada Adelaide (suas características físicas deixo viver apenas em minha memória) veio furtivamente até mim e entregou-me algumas folhas e um lápis, em seguida, disse: - Não posso demorar, o pai não pode me ver, já descerei em breve no porto de Santarem. Consegui retirar da bagagem do meu tio, lembre-se de mim e liberte suas idéias. Partiu rapidamente e, assim como havia falado, desembarcou no dia seguinte em Santarem.
Após esse acontecimento, passei a relatar minha aventura, fiz como Adelaide me havia pedido, iniciei o processo de alforria das minhas idéias
sábado, 25 de julho de 2009
Uma tal de "modernidade"
Em pleno sertão, passei a vislumbrar possibilidades nunca dantes imaginadas. Não seria possível um fruto da serra ter condições de romper submissões historicamente construídas. Lembro de Fabiano, que ao perceber o guarda amarelo uniformizado, sentiu-se impotente frente a presença estatal. Salve Graciliano! Será que seus filhos, após o retiro forçado pelas pressões socioculturais e climáticas, obtiveram o sucesso imaginado pelo casal errante. Baleia não poderia ter desencarnado em vão...
Contudo, voltemos aos vislumbres! Padre Janeiro concedeu-me a liberdade e o exílio ao ensinar-me as primeiras letras. A cada mergulho na imensidão literária sentia brotar um intenso conflito entre forças contrastantes, duais. Em tempos posteriores, vim a perceber que esses pólos sintetizariam uma nova compreensão da existência.
A carreira eclesiástica foi-me oportunizada, todavia, sentia uma poderosa energia emergir em meu âmago, não podia compreendê-la ainda, porém, observava um diferente pulsar do cordis quando ouvia extasiado na praça os cordelistas cantarem histórias de cangaceiros, andarilhos, capoeiras, quilombolas, etc.
Já vivia no Ceará quando, ao acordar, ouvi um som de trompetes, bumbos e trombones. Levantei subitamente, sai de casa, localizada aos fundos da igreja, e atravessei a casa de Deus sem comunicar Padre Janeiro. Segui o som daquela banda e rapidamente a identifiquei como militar. Na praça estava um regimento. Perguntei a um transeunte do que se tratava aquela presença. Disse-me sem delongas: - São os fardados do governador, parece que estão recrutando gente para trabalhar. Indaguei para onde, contudo, o interlocutor apressadamente distanciou-se. Meu espírito bisbilhoteiro levou-me a presença do chefe do regimento, este explicou-me que tratava-se de uma grande oportunidade de obter prosperidade. O governo planejava construir a maior ferrovia brasileira, em plena floresta amazônica, esta traria modernidade e desenvolvimento e todos que participassem com êxito desse grandioso empreendimento ficariam marcados na história do país, sem contar das grandes recompensas que receberiam. Não entendi a parte da "modernidade e desenvolvimento", foi a primeira vez que ouvi tais palavras, impossíveis de compreensão naquelas bandas de sertão. Contudo, a possibilidade de ter meu nome cantado pelos poetas de cordel, além dos tesouros possíveis de obter naquela viagem mexeram profundamente com meus ideais de juventude. O Chefe, identificado por Januário, logo perguntou meu nome, data de nascimento e naturalidade. Já ia conceder meus dados, quando lembrei de Padre Janeiro. Sabia que este não concordaria com tal viagem, mesmo com todos os argumentos de grandes feitos, riquezas e essa tal de "modernidade". Meus recursos retóricos seriam incapazes de convencer meu preceptor. Resolvi sentar e refletir... Padre Janeiro sempre me alertava para cuidar dos impulsos, decidi acatar tal conselho. Olhei para aquele céu azulado, senti o forte calor nordestino, observei momentaneamente o espaço daquela vila, respirei o ar empoeirado do sertão e pronto, decidi! Não deve ter chegado a cinco minutos, para minha pouca idade, tempo demais para pensar sobre algo tão grandioso. Sentia que deveria ir, pois estava até com dificuldade de respirar com tal velocidade das batidas de meu orgão vital. Padre Janeiro não poderia saber, não aguentaria ver sua decepção. Disse ao chefe que me alistaria! Perguntei o ônus. Januário me informou que não os teria agora, o governo arcaria com tudo, depois, com as riquezas obtidas, pagaria a dívida, porém, esta seria parte ínfima do montante que ganharia. E completou: - E se apresse menino, partiremos depois do almoço, ainda passaremos em outros vilarejos.
Retornei a igreja. Padre Janeiro indagou onde estava e o que aqueles militares queriam. Falei de um estranho recrutamento de trabalhadores, nada que havia me interessado. Janeiro pediu para realizar os trabalhos matinais, preparar a liturgia, pois teria missa a tarde. Não tardei a concluir o pedido. Retornei a minha casa, arrumei um pequeno farnel, reuni meus poucos pertences e preparei minha saída. Antes, resolvi deixar um pequeno bilhete de agradecimento a meu padre, referência de pai e professor.
"Querido Padre Janeiro,
Parto para Amazônia, terra de riquezas e glórias por acreditar na modernidade. Agradeço por tudo que fizestes por mim até aqui. Tu me libertastes da ignorância, mas sentia-me preso nesta pequenina possibilidade de vida. Sigo convicto!
Com amor e respeito,
Serrinha"
Soube partir sem deixar vestígios, perto do anoitecer já me encontrava distante da vida que deixava.
Minha juventude impossibilitou-me de perceber que trilhava para nova prisão, só a experiência foi capaz de fazer-me entender o que seria aquela tal de “modernidade”.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
A piada dos ovos 2
Já perdi a conta de quantas foram
Correm tão rápido!
Quem dera pudéssemos diminuir sua velocidade
Quem dera vivêssemos em um vazio...
Uma agradável sensação subiu!
E agora sinta o vento no rosto
O rosto no ar
Sinta seu corpo flutuar
Com destino ao mais distante
Buscando o mais longínquo
Entre ovos -
Ovos que, sim
Podem nos fazer parar e ver
Em meio a este galinheiro,
Pois os outros correm,
Fogem as galinhas,
Mas não, não é isto o que vemos
Vemos, agora, ovos
Esta coisa sem início ou fim
terça-feira, 21 de julho de 2009
Cordel Faediano [trecho]
Cordel muito do turista
Nossa visita ao nordeste
Um punhado de sulista
Aportamo em Fortaleza
Com ânsia de natureza
Em busca de águas limpas
Sra. Kika e Fabíola
Deram pretexto de estudo
Convenceram os pais que a ANPUH
Era um pouco além do tudo
Esperaram férias de julho
Arrastaram Júlia de embrulho
E me aliciaram pra escudo
Papo muito do absurdo
Mas no fim apruveitamos
Com olhar muito do atento
A tudo observamos
Quanto aos seminários
Recebemos certificado
E esse assunto nós pulamos
A tapioca alvejamos
Do cearense nativo
Kika com 7 lumbriga
Foi logo cumprando 10 kilo
Um bucado de carne-seca
Pra nipo-brasileira
Baião de dois e cachaça de litro
Um lugar muito do lindo
Numeado Morro Branco
Ao som de “Iolanda”
Fomos nos arrepiando
Ao ver falésias mágicas
Brotar de suas fendas águas
Que o chulé iam curando
Lenda diz que é um tanto santo
Bótar o pé no seu líquido
Num ranca só chêro odioso
Também purifica o espírito
Formação de areias várias
São mais cores que emboladas
Dos vaqueiros nordestinos
[...]
O que é real?
- E se tudo que vivemos fosse apenas parte de uma grande ilusão?
- Então isto teria que ser segredo, pois seria um fardo grande demais para a maioria.
Foi o que disse esse, que veio a ser o primeiro grão-mestre. Ou Papa? Ou Rei? Ou um governante qualquer? Um plebeu talvez? Não importa muito quem o disse, mas o que foi feito dessas palavras.
Assim surgiram as entidades secretas. Seria este um bom porquê para o segredo velado em seus cultos? Uma verdade. Aterrorizante. Não há Deus, Deuses e divindade senão o ser-humano. Criaram a ilusão - alguns pensaram serem os primeiros a percebê-la, deram-na nomes como prova de sua autenticidade, tais como, Matrix, Mundo das Idéias de Platão, Anti-vida, mas não importa quem tenha percebido e dito isso, e sim que tenha sido dito - para aliviar o fardo de suas existências, pois imagine um mundo de muitas incertezas e de certezas angustiantes, como a inexistência de deus e deuses, de ressureição, de um além. É apenas isto e acabou. E que perigo isso traria!! Porque não matar se no fim não haverá pedra sobre pedra? Nem céu ou inferno! E que vazio nos dominaria! Seriam então estas seitas preocupadas com os demais?
Há um quê de ser? Ou apenas somos sem nenhum quê? Estamos no sonho de alguém? Somos parte de imaginação de alguém? Há algum títere sob nossas cabeças? Fios que me atrelam a ele que não consigo ver? Para onde irei depois?
Há uma certeza e uma incerteza nisso tudo:
A certeza de um mal estar e a incerteza do que é real.
O mal estar
- O que foi que aconteceu?
- Não sei. Dizem que era Jesus.
- Mais um Jesus morreu...
As brumas ofuscam a paisagem.
- Ouça os gritos de desespero que vem além das montanhas! Percorre as espinhas dos desvairados! É Prometeu em seu sofrimento eterno por ter roubado o fogo dos deuses e dado aos homens o conhecimento. É o grito de quem ousa lutar contra a anti-vida, foi o que me disse a(o) Indigente.
- E o que mais dizem toda essa gente?
- Falam de tudo um pouco. Um pouco de bobagem, um pouco de sabedoria, um pouco de um muito já soterrado. Muito de um pouco daquilo tudo que se poderia falar.
A roda da Fortuna voltou a girar...
Terei sorte ou azar? Nem os oráculos podem calcular!
- E aquelas torres gêmeas desmoronando em cinzas após os ataques das derrapinas de metal?
- Aquilo nem tragédia é. É o usufruto da razão. Princípios de guerra. Estratégia nada mais.
As cruzadas se seguem. A guerra santa. É em nome de Deus!!
- De Zeus?
- Não, nem Zeus, Hera, Poiseídon, Hades, Atena, Apolo, Ártemis, Afrodite, Ares, Hefesto, Hermes e Dionísio, dizem agora que só há um Deus.
- Por Zeus! Como é possível dizerem que é apenas um Deus? Em que mundo estou afinal?!
- No mundo das idéias de Platão!
- Então são essas as idéias de mundo para Platão?! E pensei que era a vida! A minha vida! Sou apenas uma ínfima parte das idéias desse homem!
E o terror tomou conta deste ser que agora não tinha mais chão para pisar!Seria o mal estar que Nietzsche queria falar? Ou a amplitude da natureza que os seres-humanos não conseguem ver como acreditava Kant? Diante deste horror e mal estar corrosivos o ser que havia tomada a pílula vermelha vermelha grita:
- Leve-me de volta a caverna! Não quero saber de mais nada! Nada a mais para além das sombras que vivia a fitar!
- Agora é tarde, não há mais volta. Só lhe resta saber o que fazer com tempo lhe foi dado! O fim se aproxima!
- E tu que me falestes todas essas coisas quem és? Como posso saber se são verdades?!
- É simples meu caro...eu....sou....Platão e você está no meu mundo!
domingo, 12 de julho de 2009
Nostalgiando
A vida em Porto Alegre está indo muito bem, você ficou sabendo que ela também vai para lá...
Não vejo vocês a tanto tempo, me contem tudo...
Como anda aquele? Ah é mesmo, se suicidou...
Estou ensaiando uma nova peça chamada...
Ficaram sabendo que aquela engravidou!...
E aquele outro que está morando em Londres...
Estou procurando um novo estágio, cansei do meu antigo...
Estou jogando poker a nível profissional...
E enquanto à mim, estou a tomar anti-depressivos...
Ali, naquela sala, diante da mesa, estavam reunidos não apenas um grupo de antigos amigos e amigas. Estavam reunidos uma gama infinita de possibilidades, que pelos mais diversos motivos, não chegaram a vingar. Pois, afinal de contas, é isso que a vida é! A vida nada mais é do que um pequeno punhado de possibilidades (ou "sonhos" se assim preferir) que chegaram a acontecer. Nada mais do que escolhas que decidimos seguir em um determinado momento e outras que simplesmente discartamos.
Enquanto as conversas extremamente nostálgicas se seguiam, ao som do violonista que queria ser físico, e em meio a dezenas de latas de cerveja, não custou muito para que alguém proclamasse:
"Bons tempos que não voltam mais!"
E, quase instântaneamente, um grande sentimento de alegria invadiu os corações dos bêbados divagadores. Um brinde rapidamente foi convocado:
"Aos bons tempos que não voltam mais!"
E foi a introvertida Memória que puxou esse brinde! Pois, naquele momento, ela foi útil aos companheiros. Serviu-os como uma espécie de conforto. Um passado idealizado de felicidade e gozo no qual os amigos e amigas poderiam se reconforta sempre que desejasem. Tchin Tchin.
E costumam ainda a dizer por ai que só quem se preocupa com o passado são os historiadores e os museus!
Perdoe senhor, pois não sabem o que dizem.
sábado, 11 de julho de 2009
Ao sorriso dos que muito me ensinam
Dotado de energia
Acalma e transparece
E sentimentos reflete
O sorriso das “crianças sem futuro”
Que no passado carregam
A incerteza do mundo lá fora
E no presente desfrutam o sorriso de ser criança agora.
E o sorrir não precisa ser alegre
Pois carrega esperança
Esperança nova é por onde eu vagueio
Comunidade escondida
Da Floripa exibida
Localizada nos “escombros”
Na cidade do falso encanto.
Bela é a experiência
Do professor aprendiz
Quando o sorriso da criança
Desmorona a matéria escrita com giz.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
E me salvei
Prisão do tempo
Futuro sempre vivo
E o dilema temporal,
Não há mais como fugir disso.
O menino se perdeu
Achou o nome da rua,
Instante de salvação
E os minutos não são mais futuro.
Tempo paralelo;
Desenhos do caderno
A percepção demora a saber
A importância do instante,
Em que o menino se perdeu.
E é em versos que eu demonstro
Dando um pouco de luz a arte
Que a cronologia do burguês mercador
Dizia Benjamin, é o tempo opressor.
Onde estará Mnemosine?
E pelas sarjetas sujas da cidade,
Flagrei-me por vezes a evocar-te.
Onde anda você, cara Mnemosine?!
Quando em minha vã consciência
O mangue vasculho, e ainda assim
Me falta a desejada sapiência,
É quando indago: morreste, enfim?
Fora assassinada pruma imposição,
D'uma triste desumanidade,
Mas quem hoje te evoca não o faz em vão.
Se a cada fagulha de poesia,
Recitada por poetas delirantes,
Assim vejo que se foste não estaria
Por ai, a inspirar ladrões e amantes.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Veillir
pois as rugas de minha face
e os fios brancos de meu cabelo
dão o crédito as palavras
que escapam de minha boca.
Me guardo das lembranças de minha infância
para sentir aquilo que meus joelhos
não podem mais me oferecer
Amarelinha,
pular corda,
e pega-pega.
É! Melhor carregar cabelos prateados,
do que envelhecer antes do tempo.
Escrevi sem querer, matei você
Nada escrito para além do que já foi dito
Aquele homem que se recusava a escrever
Pode ter sido o primeiro a perceber
Que a morte de Mnemosine estava para acontecer
Com aquilo que parecia um simples ato de escrever
Ainda que aquele Platão tentasse nos adverter
Os reflexos da caverna era o mundo real que conseguíamos ver
Ofuscados(as) pela luz tudo parecia real
O que pensávamos ser a vida era só representação
Escrevi sobre as coisas, mas sem saber o que era real
Assassinei as possibilidades usando tintas e formas
Formei representações de realidades sem saber a finalidade
Agora mato por prazer e o próximo será você, escrevo.. agora.. L...E...I...T...O...R!
terça-feira, 7 de julho de 2009
Sapiência
- ...
- Agora que aumentô a passage tu qué qui encha até o talo né.. vai fica rico tu ô..
- (risos)
- A gente é qui si iludi cum essi Avaí, band’i boca-mole.. sábado qui vêm tâmu tudaqui dinovo pagando salário duzurubu.
- Treinam num tapete dessi e num fazi nada. Qué isso!? Já joguei aqui eu, palhaçada o campo.
- Então é purisso que o Avaí não ganha, se até tu já jogassi aqui..
- Ah dá licença! Pra fazê u qui o Lima faz no campo até o Brutueja ali encachaçado.. Toca issaí motora!
- ...
- Ô cobrado tu acha quissaqui é o bocarra? Não cabe mais ninguém.. Quéz é dinhêro né tô sabendooo.. nós vamo aí ti robá heinnn.. Avaí perdeu tamo puto, ca mensalidade suja, nós vamo aí hein.. Tocaaaaa si não amanhã a genti si vê no Hélio Coxta, vai dá cozaaaaa...
- (risos)
- Visse? Já fico cabrero.. Nada que uma psicologia bandida não resolva...
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Comunidade do blog!
www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=91641600
Penso que este novo espaço proporcionará novas possibilidades de interação. Aguardo a presença de vocês!
Valeu!
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Notas
Notas, Notáveis, que Notifico em minha mente.
Por que diabos não me deixam em paz?!
Não Notam que o professor está a falar e eu deveria estar a aNotar?
Nota-se que não! Não vão parar, logo Nota boa não vou tirar.
Malditas! Notas só pensam nelas mesmas, são egoístas e petulantes! Notavelmente não lhe abandonam nunca! Só vão mesmo quando você já nem mais pensa nelas, ou melhor, quando não as Notamos mais.
Notórias, Nostálgicas, Mentais, Musicais...
Notas, Notáveis, que Notifico em minha mente.
Notas.
Nota mental: Mandar - quem sabe - esse texto para o blog assim que esse F (lê-se Fá maior) parar de me pertubar.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Ao traunseunte desconhecido:
sábado, 27 de junho de 2009
Apresento-me
suspensa no silêncio
Jorrando a morte em prestação
Viajando não sei ver isto não
Minha boca apodrece
E compartilha poesia
Seu mal hálito lhe mostra
O que a rosa não faria
Sou caixeira andarilha
Sem rumo, nem milagre
A garganta não me cala
Jazo detrás do silêncio
Pássaros voam com a verdade.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
A rotina de Ouvir
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Que pureza é esta de valores inexistentes?
Exclusão incoerente
Até uma carta-lei era o princípio
E nos dias de hoje, é da raiz que eu sinto.
Ela cresceu e deixou suas marcas
Estaca
É o preconceito da raiz intacta.
Nesse período a cor não tinha raça
Era impureza declarada
Mulatos, mamelucos,
Curibocas, caboclos ou crioulos.
A exclusão é quase a mesma,
Não importa quem esta no topo.
Na chamada impureza
Existia distinção,
E quem escravo era
Ficava entre campo, a casa-grande e o patrão,
Coisa da instituição
Não foi de raça não
Esta só veio bem depois
E hoje o digno cidadão
Escolarizado de plantão
Apanha da burrice
Grita “escola e educação”
Mas fala “isso é coisa de preto”
Esbanje a “raça”, e é exemplo da nação.
Situação incoerente
Vai se ferrar seu “pai joão”.
Sinfonia em ré maior
Melodias melosas me matam
Orgias, orgasmos, orquestram
Representações retorcidas rindo reiteram
Dias de difíceis deleites
Indo, irada, irônicamente intervenho
Danada dureza desvairada do desprazer
Antes arder alucinada a adquirir
Sanidade sem sequer sentir
Nua na noite notei
O ônus oculto onde olhei
Safada sentei saborear
Subindo, saindo, sofrendo
Excitada, empoleirada, esqueci
Ilusões irrisórias inventadas
Ofegante, ofuscada, orgasmo, ousei
Sentir suada, sublime sobreposição!
terça-feira, 23 de junho de 2009
celebração à luxúria
e minha tragédia, se transposta ao japão, de mim faria uma gueixa.
e quando pensasse estar livre, nem a mais alta sabedoria descolaria de minha carne a sina do concubianato.
amante difusa, entrego minha devoção aos que devoram as fatias mais doces de minha vida.
predadora que sou, longe de tomar tal fato como lamento, excito-me a cada coração roubado.
minha alegria é reconhecer no espelho uma sábia puta bandida.

hopper - office at night - 1940
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Doando um mundo particular.
Recebendo, em contrapartida, seus anônimos impactos
Que se tornam ressignificações aqui dentro.
Fazem conhecer-lhes de verdade
E amar, ainda mais, minhas ilusões.
[...]
Meu intento é imenso, de antemão advirto.
Tamanho sentimento levo a todo lugar que piso
Prejuízos não concebo, identifico maus amigos.
Não concebo bons conselhos.
Dôo paz em mais sorrisos.
Enquanto ser utópico queria ser tudo isso.
Mas peças em desarranjo vivem vasto niilismo.
Contaminam e sufocam, onde passam desatinam.
Meu escudo trucidante,
A força do bode-riso.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Tenho os punhos cerrados,
E os olhos, num alvo, fixos.
Se há um tudo ou nada:
Sobra-me o nada, e...
Não saberei o que fazer,
Contudo.
Esbravejo, como um guerreiro;
Que nunca fui, é bom lembrar;
Mas se me há de servir o nada,
Irei eu, sozinho, no frio da noite,
A desferir meus golpes, contudo.
Com tudo o que houver, de força,
E o que me restar de vontade: é pouca.
Contudo, por que quero o nada (acho),
E fica evidente nas coisas que faço,
Pois a vida é feita assim: bem frágil.
E ainda assim quero amanhecer.
Apesar do tudo ou do nada,
Tomar um trago,
E sobre meu dia cinza...
Escrever.
18/06/09
domingo, 14 de junho de 2009
... silenciosa e negra, ele entrou, disfarçado, num barco a vapor de cor ferrugem.
Escondido, sentia a noite. Ouvia conversas distantes, de marinheiros acomodados dentro do barco. Se fosse descoberto, seria tudo ou nada.
_Adeus terra inóspita, estou de partida. Não conseguiria viver mais aqui. Não seria louco de pisar neste barco, se não sentisse que esta era minha última oportunidade.
Os barcos eram raros e esta sua última morada era uma cidade esquecida e decadente, que tocava jazz como se o jazz fosse a última moda. Apareceu um hoje, ele pensou, talvez o próximo só venha em meses.
Seu corpo envelhecia: quase tanto quanto seu espírito.
A hora do tudo ou nada estava por vir, muito provavelmente aconteceria ao amanhecer, quando a pequena tripulação, de uns oito homens, fosse ao convés ver o tom do novo dia e o encontrasse e resolvesse jogá-lo ao mar. Os homens desse ofício em um determinado ponto da vida ficam deveras embrutecidos, e depois de uma noite de bebedeira, não pensariam antes de se livrar de um peso morto.
O exilado abre um pedaço de papel amassado, que estava guardado em seu bolso. Nele havia uns versos:
Um estouro,
Um beijo,
Uma passagem pra eternidade.
Ele pensa: que versos pobres. E os joga ao mar.
E de repente, ouve uma risada diabólica: foi descoberto por um marinheiro bêbado, que já ria de pena dele, pois já pensava em trucidar com este estranho.
O exilado, da sombra onde estava, engole a seco. Levanta seu olhar para o dono da risada e sem que ele perceba cerra os punhos e se prepara pro combate, pro tudo ou nada.
...
domingo, 7 de junho de 2009
até amanhã, sou ana
no sé por donde empezar: ou talvez o inverso - são vários os começos. soy ana embriagada, miragem em taça de vinho. meu nome eu que escolhi. admito ter rodopiado um tanto entre maria e ana. descartei maria por ser muito maternal, apesar de ana ser o nome de minha mãe. pressinto que as coisas fluem. misturo os tempos; circulo com vestidos bufantes pelas gafieiras e de sandália rasteira pelos salões de baile. guardo uma tristeza no rosto, tristeza de uns vinte anos ou pouco mais. para mim o tempo flui sem dor; sei que um dia tudo estará terminado. divirto-me às custas dos desesperados. vivem sua lucidez histérica comendo uns aos outros. guardo minha histeria para os amores. pratico o sono à tarde para desenrolar as juntas. à noite tenho vontade de começar a vida outra vez, mas levando muito da anterior. minhas manhãs são poucas: tomei por hábito apenas acordar para o almoço; ao menos terei mais sonhos para contar aos netos. sou musa e criadora. habitei séculos passados e dei vivas à fotografia, afinal, nunca fui boa com pinturas. gosto é de posar para amigos talentosos. como vim parar aqui? o poeta caiu em meu canto. não teve a sorte de ulisses em ficar amarrado ao mastro do barco e nem de seus marinheiros, ensurdecidos por pedaços de cera. visitei o exílio e mordi seus lábios. nem o mais amargo café carrega seu gosto da minha boca. embriagada, gosto de escrever minúcias em minúsculas e destruir corações.

sábado, 6 de junho de 2009
Sob o frio do inverno em meu cobertor
O dia frio tomou conta de mim. Sigo deitada em minha cama. Que manhã estranha é esta. Tudo o que foi ontem já não é mais. Um novo dia. Não sou o que fui ontem. E apesar de nova me resigno a velhos hábitos. Não tive cuidado com o dado! Continuo sendo parte da reforma, parte das reproduções, neste mundo do deus “reprodutibilidade”! Mas também pudera! Nunca havia percebido o sentido deste fluxo que deságua numa cachoeira! Quebrando as pessoas no lugar de troncos! Como é prazeroso nadar contra a correnteza! E que força tinha! Mas não sabia!!! Oh meu amigo Indigente, como estavas certo sobre esta gente! Que eles temam! Amanhã é um novo dia! E eu uma nova pessoa! Adeus velhos hábitos! A minha roda se pôs a girar (A Roda da Fortuna)! A sorte está lançada!
domingo, 31 de maio de 2009
Cartas do exílio
Que nossa troca de cartas perdure, pois o fogo de suas idéias alimenta meu coração.
Saudações,
Poeta
domingo, 10 de maio de 2009
antiga avenida central;
tem pernas, sim, e desliza pelo lamaçal de macadame.
tempos idos, o cimento fez-se o chão de nossos pés (não assim, bem,... diferente),
a bela flor, na lembrança é mais bela,
vê a flor murcha, a regozijar-se com as gotas do orvalho matinal
de todos os dias (quase).
Sê a bela flor a passear pelos desníveis do meu peito castigado,
E quem sabe não serei mais uma vez um corpo entorpecido,
Vê a flor, que aos olhos é menos bela que na lembrança,
A assobiar notas tal qual um instrumento musical,
Numa noite de luar, ao fundo do meu quintal,
Na plena imensidão das dores cotidianas.
Querida flor.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
A piada dos ovos
Aquela galinha inexistente
E aqueles ovos
Ah, aqueles ovos que não me deixam em paz
Aqueles ovos
Me parecem
São o suplício desta vida
São nosso fardo querida
Meu e seu
Não há o que se possa fazer
Não há religião que nos possa oferecer
Alternativa!